O quadro “Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci — recentemente arrematado em leilão pelo valor recorde de 450 milhões de dólares (380 milhões de euros) — vai seguir para o Museu do Louvre em Abu Dhabi. O anúncio foi feito na quarta-feira pelo recém-inaugurado museu, localizado na ilha de Saadiyat, na capital dos Emirados Árabes Unidos.

O quadro, um dos poucos do mestre do Renascimento existentes (estimados em menos de 20) e o único na mão de particulares, foi vendido, no mês passado, pela leiloeira Christie’s a um comprador anónimo. Mas o The New York Times revelou a identidade do misterioso novo dono de “Salvator Mundi”: será Bader bin Abdullah bin Mohammed bin Farhan al-Saud, um príncipe saudita pouco conhecido e sem historial como grande colecionador de arte.

Sabe-se que o príncipe Bader é um membro afastado da família real saudita e que tem uma das maiores fortunas do Médio Oriente. De acordo com a investigação do New York Times, a compra da pintura que representa Jesus Cristo levantou muitos rumores na sociedade saudita, que tem vindo a acusar alguns membros da família real de corrupção e enriquecimento ilícito.

A identidade do comprador da obra de Da Vinci soube-se quando na conta de Twitter do Museu do Louvre de Abu Dhabi anunciaram que a pintura adquirida pelo membro da família real ia chegar à cidade e fazer parte da sua coleção.

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Pouco se sabe sobre o príncipe Bader, motivo pelo qual, e segundo o NYT, as autoridades da Christie’s tiveram problemas para o identificar como um comprador sério, mesmo depois de ter feito um depósito de 100 milhões de dólares, como forma de provar que tinha meios para adquirir a obra.

A leiloeira questionou os representantes do príncipe sobre a forma como tinha arranjado o dinheiro e qual a relação com o rei Salman. Estes responderam que ele era apenas um dos 5 mil príncipes.

Em 2015, quando o rei Salman tomou o trono, nomeou o príncipe Bader para cargos importantes, em que se iria relacionar com a família real. O príncipe Bader ainda é presidente do Grupo de Pesquisa e Marketing Saudita, faz parte de uma comissão, nomeada pelo Príncipe Mohammed, para o desenvolvimento da província de Al Ola, e é vice-presidente do conselho de administração do grupo de energia Energy Holdings.

É ainda descrito como um dos fundadores de um dos maiores negócios de gestão de resíduos na Arábia Saudita e participa em projetos com grandes companhias.

Quando a licitação abriu, na Christie’s, o príncipe participou por telefone e estava representado na sala por Alex Rotter, co-presidente de arte contemporânea na leiloeira, e, ao que o New York Times apurou, mais três pessoas anónimas estavam a competir por telefone.

Entretanto, a Christie’s congratulou o Museu do Louvre em Abu Dhabi pela aquisição.

“Salvator Mundi”, uma pintura de 66 centímetros, que data de cerca de 1500, mostra Cristo com vestes de estilo renascentista, a mão direita levantada em bênção e a mão esquerda em baixo a segurar uma esfera de cristal.

O quadro pertencia ao rei Carlos I de Inglaterra em meados de 1600 e foi leiloado pelo filho do duque de Buckingham em 1763.

Depois disso, o quadro desapareceu completamente até 1900, altura em que ressurgiu, tendo sido adquirido por um colecionador britânico. Na época, pensou tratar-se de uma obra de um discípulo de Leonardo, e não do próprio mestre.

A pintura seria vendida novamente em 1958 e depois adquirida em 2005, seriamente danificada e parcialmente pintada por um consórcio de comerciantes de arte que pagou menos de 10 mil dólares.

Estes comerciantes restauraram amplamente a pintura e documentaram a sua autenticidade como sendo uma obra de Leonardo da Vinci.