Os livros de José Saramago ajudaram a aumentar o interesse dos leitores britânicos na literatura portuguesa, defendeu a tradutora Margaret Jull Costa, que recebe na próxima semana em Londres a Ordem do Infante D. Henrique. “Acho que Saramago conseguiu derrubar essa barreira, em grande parte graças a Giovanni Pontiero, o primeiro tradutor inglês de Saramago”, afirmou à Agência Lusa, a propósito do número reduzido de traduções de autores portugueses no Reino Unido.

Filho de pais italianos, Pontiero nasceu em Glasgow, mas viveu e trabalhou no Brasil, onde aprendeu português e ajudou a traduzir para inglês sete obras do prémio Nobel da Literatura, a primeira das quais em 1987. Jull Costa espera ter conseguido que “pelo menos mais algumas pessoas apreciem a [sua] grande paixão, Eça [de Queirós]”, de quem traduziu dez livros. Todavia, admite ser difícil promover autores do século XIX, sobretudo estrangeiros, e autores estrangeiros em geral, “a menos que escrevam algum tipo de ficção policial”.

Embora a condecoração tenha sido atribuída pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 10 de junho do ano passado, a cerimónia de imposição das insígnias terá lugar na Residência do Embaixador de Portugal no Reino Unido, Manuel Lobo Antunes. “É, obviamente, uma grande honra e fiquei muito feliz quando soube”, confiou a tradutora à Lusa.

A Ordem do Infante D. Henrique, de acordo com a página da Presidente da República, “destina-se a distinguir quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores”.

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Nascida em Richmond, nos arredores de Londres, em 1949, Margaret Jull Costa, completou um Bacharelato em Estudos Portugueses e Espanhóis pela Universidade de Bristol e um Mestrado em Português e Espanhol pela Universidade de Stanford, na Califórnia. Ao longo de mais de 30 anos, traduziu obras de escritores portugueses como Eça de Queirós, José Régio, António Lobo Antunes, Jorge de Sena, José Saramago, Lídia Jorge e Teolinda Gersão e de poetas como Ana Luísa Amaral, Fernando Pessoa, Nuno Júdice ou Sophia de Mello Breyner Andresen.

A tradutora recebeu o Prémio Calouste Gulbenkian de Tradução duas vezes em 1992 pela tradução para inglês de The Book of Disquiet (O Livro do Desassossego), de Bernardo Soares, e, em 2012, por The Word Tree (A Árvore das Palavras), de Teolinda Gersão. Foi também reconhecida em três edições do Prémio de Tradução Oxford-Weidenfeld, com All The Names (Todos os Nomes), de José Saramago (2000), The Maias (Os Maias), de Eça de Queirós (2008) e The Elephant’s Journey (A Viagem do Elefante), de José Saramago (2011).

Margaret Jull Costa traduziu livros de outros autores lusófonos, como os brasileiros Luis Fernando Veríssimo e Paulo Coelho, o italiano António Tabucchi e o timorense Luis Cardoso. Também traduz livros em língua espanhola de autores como Javier Marías e Bernardo Atxaga. A sua contribuição para a edição de obras estrangeiras e estudos literários no Reino Unido é reconhecida no seu país onde, em 2013, foi admitida na Royal Society of Literature e, em 2014, foi condecorada pela rainha Isabel II com o grau de oficial da Ordem do Império Britânico.

A tradutora tem como próximos projetos a tradução dos três principais heterónimos de Pessoa (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos) para a editora norte-americana New Directions, com a qual publicou uma tradução de O Livro do Desassossego em agosto do ano passado. Em breve, revelou à Lusa, espera também cumprir o desejo de há vários anos de traduzir os textos para crianças de Sophia de Mello Breyner, tendo ainda planos para traduzir Júlio Dinis e os poemas de Mário de Sá-Carneiro.

A falta de tempo levou a sacrificar o interesse em traduzir um romance de Agustina Bessa-Luís, cuja extensa obra não tem ainda qualquer edição em língua inglesa. “No entanto, acabei de editar uma antologia de histórias de seis escritoras portuguesas e incluí algumas das histórias de Agustina de Contos Impopulares“, referiu. O livro, intitulado Take Six e com uma pintura de Paula Rego na capa, inclui ainda textos de Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Judite de Carvalho, Hélia Correia, Teolinda Gersão e Lídia Jorge.