Juntou-se ao exército aos 19 anos, em 2002. Depois de cinco anos de serviço, foi afastado do exército em 2007, devido a distúrbios psicológicos incompatíveis com a profissão que exigia o contacto com armas. É o fim da sua carreira militar e o início de dez anos de fracasso, que culminaram com a ligação ao desaparecimento de Maëlys de Araújo, uma menina lusodescendente de nove anos.
O nome Nordahl Lelandais estava associado ao caso, desde o início. Nomeadamente, desde a noite de 26 para 27 de agosto, durante um casamento, numa quinta na região de Pont-de-Beauvoisin, em França. Lelandais era convidado do noivo e amigo do pai de Maëlys — embora os pais da menina, Joachim e Jennifer de Araújo, tenham negado conhecê-lo. Não era só um convidado: soube-se esta quarta-feira que foi também o responsável pelo desaparecimento da criança, que acabou por matar “acidentalmente”, diz.
No exército, tornou-se um maître-chien — um profissional especializado em educação de cães — o que viria a justificar a tentativa falhada de montar um negócio de criação canina, em 2010. Desde fevereiro de 2017, estava de baixa médica por causa de uma hérnia discal que o levou a voltar a viver com seus pais e irmãos, em Domessin, uma comuna em Savoie.
Drogas, incêndio a um café e suspeitas no assassinato de Arthur Noyer
Lelandais, de 34 anos, não tem antecedentes criminais em casos a envolver crianças. Mas tem noutros. Já era conhecido da polícia local por “delitos comuns”, entre os quais consumo de drogas. Em 2008, foi detido com outras duas pessoas por suspeitas de envolvimento num incêndio de um snack-bar em Paladru, na comuna de Isère. Foi condenado a 30 meses — cerca de dois anos e meio — de prisão domiciliária.
Já depois de ser preso preventivamente pelo desaparecimento de Maëlys, foi indiciado no caso do assassinato de Arthur Noyer — um soldado que desapareceu em abril do ano passado em Chambery, na comuna de Savoie, e cujos restos mortais foram encontrados no passado dia 13 de janeiro. O procurador-geral de Chambery, Thierry Dran, revelou, na altura, que existiam “indicações sérias e concordantes”, obtidas a partir do sinal do telemóvel do suspeito e da presença contínua do seu carro na última rota supostamente percorrida por Arthur Noyer na noite do seu desaparecimento.
Desde que Lelandais foi apontado pelo desaparecimento da lusodescendente Maëlys e do soldado Arthur Noyer, várias famílias moradoras na área onde ambos desapareceram apelaram à reabertura de casos de desaparecimentos, alegando que Nordahl Lelandais pode estar envolvido.
Calmo, fechado e com resposta para todas as suspeitas
Lelandais era encarado como uma peça-chave para a investigação mas sempre conseguiu dar-lhe a volta. Foi, desde logo, um dos dois suspeitos detidos na altura do desaparecimento. A mentira que cometeu no interrogatório inicial — e que viria a confessar mais tarde — levou a polícia a prolongar o período de detenção: Lelandais garantiu que não saiu do local da festa enquanto outros convidados garantiram que o tinham visto ausentar-se no momento em que a menina terá desaparecido. A versão de Lelandais prevaleceu e acabaria por ser libertado. Apenas por dois dias: depois de a polícia ter descoberto vestígios de ADN no painel de controlo do carro e de o próprio ter admitido que a menina esteve no interior da viatura, Lelandais foi preso preventivamente.
Assim ficou desde então, contestando o seu envolvimento no caso e tendo sempre resposta para as suspeitas: foi a fazer jardinagem que se arranhou nos braços e um joelho, limpou o carro na manhã seguinte ao casamento porque o queria vender e pôs o telemóvel em modo de voo no momento em que Maëlys desapareceu porque queria poupar bateria. Os inspetores sempre descreveram Lelandais como um homem calado, fechado e que se “manifesta com muita calma”.
Contudo, Lelandais nunca disse que não tinha contactado com a menina. Através do seu advogado, o suspeito disse até que, no parque de estacionamento, Maëlys, na companhia de um “menino louro” insistiu para que Lelandais abrisse o porta-bagagem do seu carro para que a menina pudesse ver se ele tinha lá cães. “Abri a porta do lado do «pendura». Mostrei que os cães não estavam lá dentro e Maëlys e o menino louro entraram para dentro do carro. Durou cinco ou seis segundos”, disse Lelandais, para justificar o facto de ter sido encontrado ADN no carro. Até para o local onde foi encontrado — no manípulo dos faróis, perto do volante — o homem teve justificação: a transferência do ADN deverá ter acontecido ao tentar ajudar Maëlys a sair do carro.
Pais de Maelys de Araújo reconhecem filha desaparecida em vídeo do carro do alegado raptor
No final de janeiro, outra suspeita: imagens de videovigilância mostravam o carro do suspeito, um Audi A3 cinzento, a abandonar o local onde a criança desapareceu. Através de pormenores do vestido que a criança utilizava naquele dia, os pais de Maelys conseguiram identificar que a filha seguia no lugar do “pendura”, a abandonar o local do casamento por volta das 2h45. Recorde-se que a criança foi dada como desaparecida, pouco antes das 3h00 da madrugada. Quando Lelandais regressou ao local do casamento, viajava sozinho no carro. Também para isto, o suspeito tinha resposta: o carro não era o dele.
Corpo de Maëlys de Araújo encontrado depois de suspeito confessar crime
Esta quarta-feira, o caso ganhou novos contornos e Lelandais passou a ficar conhecido como o autor da morte da menina lusodescendente. Primeiro, o suspeito mostrou-se disponível para colaborar com as autoridades: pediu que o levassem ao local do crime para identificar o sítio em que deixou o cadáver e orientou as escavações. Depois, no local, os cães pisteiros encontraram um crânio e, de seguida, ossadas.
Está confirmado: os restos mortais pertencem a Maëlys. Lelandais disse que matou a menina “acidentalmente”, escondeu o corpo, voltou para a festa de casamento e regressou para buscar o corpo e escondê-lo noutro local. O suspeito recusou explicar como é que matou a menina, acrescentando que só iria fazê-lo depois de o corpo ter sido encontrado.