Os ânimos estiveram exaltados no final do encontro entre Tondela e Sporting, decidido a favor dos leões com um golo de Coates ao oitavo minuto de descontos. Que se tenha visto, houve trocas de palavras para a bancada e uma espera a João Capela em pleno relvado que motivou uma expulsão; mais tarde, no túnel de acesso aos balneários, continuou o ambiente de excessos, de tal forma que o árbitro da Associação de Futebol de Lisboa, tal como os seus assistentes, tiveram de fazer um compasso de espera antes de acederem a essa zona.
Em resumo, e depois da enorme festa do conjunto verde e branco depois do golo do uruguaio, com todo o banco a ir em direção da festa enquanto Jorge Jesus esbracejava tentando chamar ainda um jogador para queimar a terceira substituição, João Capela apitou para o final e o técnico leonino, a par de André Geraldes, team manager dos verde e brancos, trocaram algumas bocas para a bancada central do estádio José Cardoso enquanto os jogadores do Tondela rodeavam João Capela para pedirem explicações, daí resultado também a expulsão de Murilo.
Algo se passou também no acesso aos balneários, como o próprio Jesus acabou por confidenciar, percebendo-se pelo compasso de espera que a equipa de arbitragem fez antes de aceder à zona e pela passagem em passo de corrida de pelo menos mais um segurança de recinto pelo túnel de acesso aos balneários. Ainda assim, só mesmo os delegados da Liga presentes no local poderão dizer, no relatório de jogo, o que se terá passado.
Nas bancadas, houve ainda uma situação que gerou alguma revolta nos adeptos, neste caso verde e brancos: depois de uma rapaz ter ido ao relvado buscar a camisola de um jogador do Sporting que estava a oferecer a mesma, um adulto que estava com a criança acabou por ser chamado por um agente e posteriormente identificado por causa da “invasão”, algo que não passou ao lado dos presentes no estádio João Cardoso.
“Todas as vitórias têm uma dose de sofrimento. Pode ser mais fácil quando marcamos mais golos e o sofrimento diminui, mas não se conquistam vitórias nem títulos sem sofrimento. Hoje vencemos com menos um jogador e fomos uma equipa de coração, que anda a jogar sobrecarregada… Quando queres estar em todas, vais acabar por pagar mais cedo ou mais tarde, porque não consegues criar objetivos em todos os jogos e em todas as provas, por não haver capacidade rotativa. Depois da expulsão, ficámos com a equipa partida e, na fase final, o Coates jogou na frente, já em Santa Maria da Feira foi assim. É um central que quando joga como avançado sabe jogar, pois é forte tanto no jogo aéreo como na disputa da bola”, começou por referir Jorge Jesus na flash interview.
“Tempo de descontos? O Tondela, quando se viu a ganhar, fez anti-jogo e na primeira parte o árbitro devia ter dado mais do que um minuto. Depois, quando o jogador do Tondela está no chão, ouvi no banco, e acho que todos ouviram, o árbitro a dizer que ia dar mais três minutos. Tudo isso fez com que o Sporting acreditasse. O Tondela não se pode queixar do árbitro mas de não ter conseguido segurar o resultado”, rematou o técnico leonino que, na conferência de imprensa, acabou por defender que o triunfo verde e branco foi “limpinho”.
“Jesus falou em mais três minutos? Se calhar só ele é que ouviu isso… Mas sabem por que é que estou aqui a falar? Porque o Sporting já marcou. Se o Sporting não tivesse marcado, a esta hora estávamos lá a apoiar as nossas equipas… Isto já diz tudo, porque o prolongamento foi demasiadamente extenso por ser para um candidato ao título. Eu acabava com isto e fazia um torneio só para os três candidatos ao título e outro para as restantes equipas, por uma questão de respeito”, começou por reagir José Sá, treinador adjunto do Tondela.
“Não houve anti-jogo. Ou houve anti-jogo mas das duas equipas, quando alguém se lesionava. Só houve nesse aspeto, quer do Sporting, quer do Tondela. Quem viu o jogo verificou que o Tondela foi superior ao Sporting em certos períodos do jogo e vice-versa. Na minha opinião foi de igual para igual e ficou estragado por esta atitude da cultura futebolística portuguesa”, rematou o membro da equipa técnica de Pepa.
Também Gilberto Coimbra, presidente do Tondela, foi à sala de imprensa com uma imagem da perna de Bruno Monteiro (“está assim, foi de muletas para casa”, disse) e criticou João Capela pela compensação dada no jogo. “Aos 93 minutos, o jogo parou. Não houve falta. Aos 93.41, o jogador é assistido e é reatado aos 96.08. O árbitro deu quatro minutos e o Sporting marca o golo aos 98.01. Faltavam aqui cumprir 19 segundos. E o jogo parou aos 98.01. Tenho de repetir isto várias vezes, para ver se este país ouve isto, se isto faz bem ao futebol, se é para isto que vivemos o futebol. O Tondela sabe o tamanho que tem, mas em termos de humildade e postura é maior do que todos. Não pode um senhor vir aqui humilhar o Tondela. Enquanto não marcar, o jogo não acaba”, disse.
“O facto de o árbitro dar quatro minutos de compensação não significa que esses quatro minutos sejam estanques, que não haja compensação sobre a compensação. Não nos podemos esquecer que houve muito anti-jogo desde que o Tondela se apanhou em vantagem, que no período de compensação o Tondela tudo fez para atrasar o jogo, para que os quatro minutos não fossem de tempo útil de jogo jogado. E houve um jogador que esteve dois minutos a ser assistido e o árbitro avisou que ia dar mais dois, três minutos pelo tempo que esse jogador esteve estendido no chão. O presidente do Tondela foi à sala de imprensa exibir um jogador seu, podíamos ter feito o mesmo. Sofremos 24 faltas e podíamos também exibir várias fotografias do estado em que ficaram os jogadores do Sporting. Se calhar outros clubes que cá vieram não podiam exibir essas fotografias porque só sofreram sete ou oito faltas”, respondeu mais tarde Nuno Saraiva, diretor de comunicação do Sporting.