Aos 23 anos, Joana Brito Silva encontra um papel que nunca esperou. Ela é o Principezinho, o miúdo de cabelo louro e cachecol ao vento, saído da imaginação de Antoine de Saint-Exupéry em 1943. “Fiz uma audição em novembro do ano passado e já sabia qual era o papel. Depois recebi a feliz notícia de que tinha sido a escolhida”, recorda a atriz, em conversa com o Observador depois de uma apresentação para jornalistas do espetáculo que protagoniza. Precisamente: “O Principezinho”, musical familiar com estreia marcada para sábado de manhã no Teatro da Trindade, em Lisboa.

“Sendo mulher, nunca pensei vir a interpretar esta personagem, mas sempre me identifiquei com a história. Li pela primeira vez aos seis ou sete anos e não liguei muito, mas fui relendo ao longo dos anos. De cada vez que o leio encontro novos significados nas personagens”, conta Joana Brito Silva.

Com duração de 75 minutos, o espetáculo, tal como a novela que lhe dá origem, é especialmente pensado para as crianças, mas apela a públicos de todas as idades. O registo é humorístico, com personagens coloridas em performance muito enérgica.

A cenografia vive de efeitos “video mapping” e de algumas personagens virtuais a três dimensões. Vemos o famoso asteróide B612 e o astrónomo turco que o descobriu, a rosa vaidosa que se tornará amiga do nosso herói, a raposa para quem “o essencial é invisível aos olhos”, o rei arrogante, o geógrafo, o acendedor de candeeiros – todas as personagens originais aparecem em palco.  O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) é considerado o livro mais traduzido e vendido em todo o mundo a seguir à Bíblia e conta uma história humanista de descoberta e perda de inocência, que tem marcado gerações.

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“Acho que tudo neste espetáculo é infantil, no sentido em que está construído para chamar a atenção das crianças. Os figurinos ou a cenografia são muito apelativos e as crianças vão ler uma primeira camada da história. A mensagem por detrás do texto e das canções é para todas as idades e cada um vai ter a sua interpretação”, comenta a atriz que faz de Principezinho.

Os autores da peça são a dupla catalã Àngel Llàcer e Manu Guix e o original estreou-se há quatro anos, com produção do grupo de teatro La Perla 29, de Barcelona. Tiveram autorização da Fundação Antoine de Saint-Exupéry para a Juventude, dirigida por Olivier d’Agay, sobrinho-neto do autor, o que dá à peça um carácter de versão oficial.

A versão portuguesa é dirigida por Pedro Penim, um dos criadores do grupo Teatro Praga, e tem produção da editora Universal, razão por que foi gravado um disco com a banda sonora – à venda no formato CD nos dias do espetáculo e também em plataformas digitais. As canções foram registadas em estúdio com as vozes do atores da peça (no palco, eles cantam ao vivo).

“Encenar, em Portugal, implica normalmente uma componente de autoria, mas não sou autor deste espetáculo. O meu trabalho foi o de garantir que a versão catalã era respeitada. Emprestei-lhe uma competência técnica, revi a tradução e adaptei as letras das canções”, explica Pedro Penim, que recebeu o convite da Universal em setembro do ano passado.  “Já conhecia o trabalho do Manu e do Àngel e entretanto fui ver o espetáculo a Barcelona e Girona, onde tem tido um sucesso enorme. Esta é a primeira versão fora de território espanhol. É também a primeira vez que estou a trabalhar nestes termos. Já fiz musicais, sim, mas espetáculos infantis ou para famílias não são propriamente a minha zona de conforto”, assume.

Além de Joana Brito Silva, o elenco inclui Paulo Vintém (fundador da banda juvenil D’ZRT), no papel de aviador, Mariana Pacheco, José Lobo e Diogo Bach. Escolhidos através de audições para as quais foram convidados diversos profissionais e, segundo Pedro Penim, acabaram por ficar com os papéis devido à versatilidade que demonstraram na representação, no canto e na dança. Os ensaios duraram dois meses.

“Confio muito nos figurinos e na caracterização para me ajudarem a dar à personagem um ar arrapazado, e também me preocupo com a postura, mas não me foco muito nisso”, analisa Joana Brito Silva. “Tentei não pensar que estava a fazer de criança, para não cair num registo infantil fácil. Tentei pensar nas características desta criança em particular: ingénuo, imprevisível, tão depressa chora como depois se está a rir. É uma responsabilidade enorme, porque todas as pessoas conhecem o Principezinho e todas têm uma imagem mental de como ele é ou conhecem a história.”

O espetáculo mantém-se em cena até 29 de abril e depois deverá ser apresentado noutras cidades portuguesas, desde logo o Porto, segundo Pedro Penim, mas ainda não há datas fechadas.

“O Principezinho”, de Saint-Exupèry, com versão de Angel Llàcer, Marc Artigau e Pedro Penim. Teatro da Trindade, Lisboa, 10 de março a 29 de abril. Sextas, 18.00; sábado e domingo, às 11h30 e 15h30. Bilhetes: 12 a 22 euros.