José Silvano, indicado esta segunda-feira como secretário-geral do PSD, esteve 16 anos à frente da Câmara Municipal de Mirandela, a segunda maior autarquia do distrito de Bragança. Despedir-se-ia em 2011, angustiado com as batalhas que perdeu contra o poder central. Mas as lutas que travou fizerem dele uma figura de destaque na região.

Em 2006, José Silvano fez-se literalmente à estrada e decidiu colocar três cartazes (outdoors) de protesto contra a desertificação do interior e o desmantelamento dos serviços públicos junto à estrada IP4. A mensagem, escrita em letras garrafais, tornou-se um slogan político: “Aqui Termina o Portugal da Igualdade de Oportunidades — Bem-vindos a uma zona em desertificação. Próxima saída a 70 quilómetros, Espanha”, podia ler-se.

O cartazes faziam referência ao possível encerramento da esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Mirandela, à retirada de serviços públicos locais e ao encerramento da sala de partos da maternidade de Mirandela. Eram os primeiros encerramentos de serviços públicos e a sua concentração em cidades de maior dimensão, uma reorganização iniciada no primeiro Governo de José Sócrates que, em troca, prometia novas estradas e autoestradas.

“Até aqui encerravam os serviços e depois nós reagíamos, não podemos manter essa postura. Temos de ter uma política pró-activa e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os serviços não encerrem”, justificava então o autarca social-democrata.

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Silvano conseguiria reunir o apoio de vários autarcas da região e de muitos habitantes, que chegaram a sair à rua com bandeiras negras. Perderia a batalha pela continuidade das salas de parto das maternidades de Mirandela e Bragança, a luta mais emblemática do autarca. E também perderia a batalha seguinte e que ditou o fim da linha do Tua, que ficou submersa depois da construção da barragem.

No final de 2011, o autarca deixava finalmente a Câmara Municipal de Mirandela, com críticas ao “bloco central entre os dois partidos (PS e PSD)”, que puseram “interesses de grandes dimensões” à frente das “convicções políticas. Na hora da despedida, José Silvano não escondeu a “grande angústia” em relação ao futuro da região, dizendo recear pela desertificação do Nordeste Transmontano. “O futuro da região vai ser pior, com perda de empregos, empresas”, preconizava.

Depois de deixar a Câmara, ainda regressou ao Parlamento em 2015 — já lá tinha estado entre 1995 e 1999. Agora, como secretário-geral escolhido por Rui Rio, que chegou à liderança do PSD prometendo um esforço decidido em matéria de descentralização, José Silvano terá nova oportunidade para lutar contra a desertificação do interior.