As regras são restritas e também há multas a aplicar. As claques femininas das equipas de futebol norte-americanas são vistas como grande parte do entretenimento dos jogos, mas as regras a que estão sujeitas já motivaram despedimentos e queixas que alegam “diferenças no tratamento” por parte da direção das equipas de futebol.

Exemplos? As cheerleaders da equipa Carolina Panthers, do estado da Carolina do Norte, mais conhecidas como as TopCats, devem chegar aos estádios onde atuam pelo menos cinco horas antes da hora de jogo, com os piercings e tatuagens corporais completamente cobertos, e só podem voltar a trocar de roupa depois de terem saído do estádio. Os livros de regras das claques femininas incluem ainda alguns pontos sobre higiene pessoal, nomeadamente como é que devem estar depiladas, que peso e “tipo de corpo devem ter” e outras regras, como a proibição de usar calças de fato de treino em público, avança o jornal The New York Times.

Na verdade, adianta o mesmo jornal, quase todo o comportamento destas cheerleards está sujeito a regras, desde aquilo que vestem, os vernizes e jóias que usam, até ao tipo de contacto que podem ter com os jogadores das equipas: não podem falar com eles, pedir autógrafos ou fotografias, nem segui-los nas redes sociais. Caso sejam eles a tentar falar com elas, devem ser bloqueados. Não podem publicar fotos a vestir o uniforme, para que não atraiam perseguidores (‘stalkers’).

A equipa The New Orleans Saints despediu uma cheerleader, Bailey Davis, este ano por ter postado uma fotografia da equipa que foi considerada “inapropriada”, sublinha o The New York Times, na sua conta de Instagram. Em toda a liga de futebol norte-americana, as equipas tentam também controlar a maneira como estas adeptas vivem fora do trabalho, sobretudo através da “vigia” feita às redes sociais de cada uma, adiantou ao mesmo jornal Leslie Levy, representante das cheerleaders da equipa Oakland Raiders.

Além da função de “animadoras” de muitos jogos de futebol em campeonatos universitários, as claques devem ainda contribuir com alguns atos de solidariedade, sem, claro, receber nada em troca. Há claques femininas em que cada uma paga centenas de dólares pelos uniformes, mas recebem pouco mais do que o ordenado mínimo norte-americano (recebem à hora, sendo que os valores variam de estado para estado, por exemplo no estado da Carolina do Norte o salário mínimo é de 7,25 dólares à hora, o que faz perto de mil dólares por mês, o equivalente a 800 euros).

Falta igualdade nas claques norte-americanas?

Na semana passada, a mesma publicação fez saber que a mesma cheerleader despedida preencheu uma queixa para a Comissão da Igualdade na Oportunidade de Emprego, um departamento norte-americano a favor da igualdade de direitos no local de trabalho, alegando tratamento diferente daquele que é dado a outros elementos da claque. Esta queixa surgiu numa altura em que a liga norte-americana de futebol está a lidar com acusações de violência sexual contra alguns jogadores e numa altura em que também a igualdade de género está a ser discutida em praça pública como nos últimos anos não se tinha visto.

Além da queixa apresentada, Bailey Davis passou as últimas semanas em entrevistas televisivas onde criticou várias equipas por terem regras que “diminuem as mulheres”, cita o mesmo jornal. A advogada que representa a equipa, Leslie A. Lanusse, disse que a equipa em momento algum discriminou alguma das cheerleaders por serem raparigas. Também a liga norte-americana de futebol declinou qualquer comentário, assim como outras equipas.

Ao contrário do que acontece com os jogadores, os membros destas claques trabalha, em part time e têm poucos benefícios. Às que se queixem das suas condições é dito que facilmente são substituídas, adianta o mesmo jornal. Embora as condições possam não ser as melhores, segundo as fontes citadas pelo The New York Times, para pertencer a uma claque destas exige por vezes competir com centenas de candidatas, ficando apenas — e no máximo — uma dúzia de raparigas.

Ainda que vistas como uma importante parte dos jogos de futebol, estas claques femininas têm sido também tratadas como tendo uma ocupação menos profissional, e ganhado uma conotação “sexualizada, devido às roupas pequenas que vestem, as danças sugestivas que fazem, e terem como público alvo maioritariamente homens”, acrescenta o mesmo jornal.

Entre as regras aplicadas a estas cheerleaders estão ainda multas: têm de pagar 10 dólares (cerca de oito euros) caso se enganem no material a trazer para cada treino, ou se o calçado não estiver a brilhar em dias de atuações. Se se esquecerem do uniforme para uma atuação, a multa pode levar-lhes o dinheiro que ganham durante um dia de trabalho.