O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, lançou uma nova campanha de angariação de fundos para restaurar o chamado Presépio dos Marqueses de Belas, obra de inícios do século XIX dirigida pelo escultor português Barros Laborão. O objetivo é angariar 40 mil euros para devolver à obra, a maior do seu género em Portugal, o seu brilho original.
Durante a apresentação da iniciativa, esta quinta-feira de manhã, o presidente do MNAA, António Filipe Pimentel, lembrou as angariações de fundos anteriores que possibilitaram à instituição adquirir A Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira, e o pequeno retrato de D. Frei José Maria da Fonseca Évora, responsável pela reabilitação da biblioteca de Santa Maria in Aracoeli, em Roma, que ficou conhecida para a posteridade por Biblioteca Eborense. Mas mais importante do que isso, estas ajudaram a “difundir o património nacional” porque o MNAA faz muito mais do que colecionar obras”. “É um centro de conhecimento. Não é um local para ver, é um local para aprender”, salientou o presidente do museu das Janelas Verdes. Por essa razão, e também acreditando que é importante incentivar o sentimento de “responsabilidade singular”, o MNAA “decidiu não meter as mãos nos bolsos e manter a chama acesa”, lançando uma nova campanha.
A primeira caixa para angariação de fundos foi colocada no interior do museu na terça-feira. E já não está vazia. “Na caixa que foi instalada ontem [terça-feira], já consta algum dinheiro, o que é um bom auspício. A comunicação está sempre a ser ultrapassada pela dinâmica da instituição”, brincou António Filipe Pimentel. As contribuições podem também ser feitas por transferência bancária, para o IBAN do Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga, o maior e mais antigo do país.
O presépio dos Marqueses de Belas que nunca foi dos Marqueses de Belas
Apesar de ter ficado conhecido por Presépio dos Marqueses de Belas, a obra nunca pertenceu aos Marqueses de Belas ou aos seus familiares. Acredita-se que tenha ficado assim conhecida porque esta família nobre foi a principal patrona de Joaquim José de Barros, dito Barros Laborão, escultor responsável pela direção do projeto. Além disso, dizia-se que os marqueses estavam representados no próprio projeto, o que um estudo preliminar da obra veio a excluir por completo. O que é certo é que a obra dirigida por Barros Laborão começou pouco depois de ser terminada, em 1822, a ser chamada de Presépio dos Marqueses de Belas, um nome que, apesar de induzir em erro, o museu pretende manter.
A obra foi encomendada em finais do século XVIII pelo colecionador José Joaquim de Castro a Barros Laborão e é composta por cerca de 130 figuras de várias proveniências (as mais antigas são de 1796 e as mais recentes já do século XIX). Obra de transição, têm características da arte do século XVIII que se conjugam com apontamentos mais modernos. Com cerca de quatro metros de altura e largura, é o maior presépio do seu género (de maquineta, isto é, de caixa) em Portugal. Mais tarde, já depois da morte de José Joaquim de Castro, foi adquirida pelos descendentes do Marquês de Pombal. Chegou ao MNAA em 1937, altura em que foi comprada por José de Figueiredo, primeiro diretor da instituição.
Esta angariação de fundos insere-se numa outra iniciativa — a de recuperar a zona de acesso à Capela das Albertas, que está a ser alvo de um complexo trabalho de restauro. A primeira parte deste processo já foi concluída com a abertura ao público da sala dos presépios, onde é possível ficar a conhecer “a história do presépio em Portugal”. O espaço inclui obras que vão desde finais do século XVI, com os “vestígios quase arqueológicos” do Presépio de Carnide, até ao século XIX, explicou António Filipe Pimentel. A sala seguinte, que dará acesso à capela, será transformada numa galeria de têxteis, onde será exposta, de forma rotativa, a coleção de mais de duas mil peças do MNAA, mobilizando assim “elementos importantes para a capela”. Esta deverá ser inaugurada antes do verão e será ali que irá ficar, de forma permanente, o Presépio dos Marqueses de Belas.
Uma vez atingido o objetivo dos 40 mil euros, a campanha de angariação irá continuar para o restauro da Capela das Albertas, revelou o presidente do MNAA, num modelo ainda por definir. A primeira fase de restauro, orçado em 250 mil euros, arrancou em março graças a um primeiro financiamento proveniente da European Fine Art Foundation (TEFAF), organizadora da Feira de Arte e Antiguidades de Maastricht, que todos os anos escolhe um projeto para apoiar. Segundo António Filipe Pimental, foi a própria TEFAF que entrou em contacto com o museu lisboeta que, por sua vez, sugeriu o restauro da capela, fechada há 11 anos devido ao seu estado de degradação.
Se tudo correr bem, a obra, na sua totalidade, deverá estar concluída em 2020, mas o MNAA espera abrir o espaço antes disso, por altura do Natal, dando assim a possibilidade ao público de assistir aos trabalhos finais de restauro. Também o Presépio dos Marqueses de Belas poderá ser visitado a partir da mesma época.