Gödel era austríaco de berço e Einstein natural da Alemanha. O primeiro um reconhecido matemático, o segundo físico teórico célebre. Os dois haveriam de se conhecer no Instituto de Estudos Avançados da famosa Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, onde, em fuga ao regime nazi, se estabeleceram na década de 1930. Tornaram-se amigos próximos, confidentes. E mesmo após se ter aposentado, por exemplo, Einstein era visita habitual de Kurt Gödel (27 anos mais novo) no Instituto, seguindo-se à visita longas conversas a caminhar — prática que o físico teórico nunca dispensou até pouco antes da sua morte, em 1955.
Quando Gödel nasceu, em 1906, já Einstein havia provado meses antes, quando apresentou a Teoria da Relatividade, que o tempo, como era entendido até então, era uma ilusão. Mas o amigo Gödel não foi menos influente (e genial) que Einstein. E quando a Universidade de Princeton lhe atribuiu um doutoramento Honoris Causa, explicaria que o austríaco (entretanto naturalizado norte-americano) “sacudiu os fundamentos da nossa compreensão sobre a mente humana”.
Gödel, contudo, nunca foi mediático como Einstein.
Mesmo a sua aparência, ao contrário da do físico — sempre de desgranhado cabelo grisalho e gesto bonacheirão –, era discreta, utilizando fatos irrepreensivelmente engomados e óculos redondos de massa no rosto, que lhe confeririam um ar circunspecto.
Einstein tinha brevíssimos 25 anos quando apresentou a Teoria da Relatividade. Gödel tinha igualmente 25 quando apresentou um teorema, o Teorema da Incompletude de Gödel, que demonstra que, se se utilizarem métodos de raciocínio seguros e fiáveis (ou métodos à prova de erro), será inevitável a existência de problemas matemáticos que nunca poderão ser resolvidos. A clareza e exatidão da matemática era, na realidade, um labirinto repleto de paradoxos, segundo Gödel.
O Teorema da Incompletude viria influenciar, por exemplo, o matemático John von Neumann, um dos criadores da Teoria dos Jogos, e o também matemático Alan Turing, criador do sistema matemático que viabilizou os computadores que utilizamos hoje. O físico, matemático e filósofo Roger Penrose, por exemplo, considera que o Teorema da Incompletude poderá ajudar a descobrir uma nova física que explique os mistérios da consciência.
Apesar de genial (cedo, em criança, se interessou pelo estudo de idiomas, religiões, matemática ou história) a vida de Gödel foi repleta de incertezas e angústias. E a morte também as teria.
O matemático sempre temeu morrer envenenado. E recusava-se a comer qualquer refeição sem que a mulher, Adele, a provasse antes. Quando esta adoeceu, e acabou hospitalizada, Gödel praticamente deixou de comer.
Morreria de inanição em 1978.