A agência Moody’s optou por não aproveitar a data pré-agendada pela agência de rating e não se pronunciou sobre a notação de crédito de Portugal. Isto significa que Portugal vai continuar com uma das três grandes agências a considerar a dívida pública um investimento de “alto risco”, ainda assim com perspetiva “positiva” de poder vir a subir em breve.

Há quase 2.500 dias a Moody’s foi a primeira agência a atribuir uma notação de “alto risco” à dívida pública portuguesa. E está, agora, a ser a última a tomar a decisão de melhorar a classificação de risco de Portugal para acima de “lixo”. A agência de rating já tinha indicado, em fevereiro, numa conferência em Lisboa, que havia “melhorias notáveis” nas contas públicas portuguesas e que, portanto, uma melhoria da notação estava mais próxima. Mas, ao contrário do que chegou a ser noticiado na altura, a agência não se comprometeu com uma subida em abril, nesta data.

Nesse dia, o Observador entrevistou Evan Wohlmann, vice-presidente da Moody’s com responsabilidades sobre o rating de Portugal, além de outros emitentes soberanos, e o especialista comentou que estava confiante de que Portugal não iria, de um momento para o outro, fazer derrapar o défice orçamental. Mas lamentou que, como aconteceu em outros países, o ritmo das reformas em vários setores tenha abrandado (ou, mesmo, sido interrompido, em alguns casos). Continuar com essas reformas seria importante, por exemplo, para reduzir o desemprego jovem, que continua elevado, lembrou Evan Wohlmann.

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Nos mercados, o impacto desta decisão de não subir o rating deverá ser diminuto. Portugal já conta com dois ratings acima de lixo por parte de duas grandes agências (além da canadiana DBRS), o que já satisfaz os critérios da maioria dos índices de obrigações (para que a dívida portuguesa faça parte desses índices). Além disso, muita da compressão das taxas de juro que ocorreu nos últimos meses — sobretudo desde a subida de rating surpresa por parte da S&P, em setembro — já aconteceu com os investidores a incorporarem a perspetiva de que, mais cedo ou mais tarde, todas as agências (até a Moody’s) iriam levantar a notação de crédito de Portugal, o que continuará a ser verdade.

Ao manter o rating em lixo, a agência indica que desaconselha o investimento em Portugal aos investidores mais conservadores, como fundos de pensões e seguradoras. É assim desde julho de 2011, poucas semanas depois de o governo liderado por Pedro Passos Coelho tomar posse e nos primeiros meses de execução do programa da troika. Apesar desse programa, a agência temia que os problemas eram demasiado graves e que acabaria por haver uma reestruturação da dívida que penalizaria os investidores, seus clientes.

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