O uso de um medicamento derivado da canábis para o tratamento de formas raras de epilepsia foi recomendado por um painel de peritos da autoridade do medicamento norte-americana (Food and Drug Administration) na passada semana. Se a FDA seguir a recomendação, como se espera que o faça, será o primeiro medicamento à base de canábis a ser vendido nos Estados Unidos, noticia o jornal The New York Times.
A companhia britânica GW Pharmaceuticals, produtora do medicamento — Epidiolex —, também já aguarda aprovação de entrada no mercado europeu. A resposta da Agência Europeia do Medicamento poderá chegar no início do próximo ano. Na Europa, ao contrário dos Estados Unidos, já existe um medicamento derivado da canábis aprovado: o Sativex, da mesma empresa, indicado para o tratamento da rigidez muscular associada à esclerose múltipla.
Fact check. Canábis para fins medicinais: o que dizem os partidos é o que diz a ciência?
O medicamento é uma formulação purificada de canabidiol (CBD), uma das moléculas encontradas na planta de canábis (Cannabis sativa). De todas as moléculas encontradas na planta, esta é a que está melhor estudada pelas suas propriedades terapêuticas. O que não exclui que outras moléculas possam ter características medicinais, apenas não estão estudadas.
O canabidiol não tem propriedades psicotrópicas como o tetrahidrocanabinol (THC), a molécula mais importante nos efeitos sentidos durante o uso recreativo da planta. Pela segurança e eficácia que tem demonstrado nos ensaios clínicos, o painel recomenda que seja usado para o tratamento de duas formas raras de epilepsia — síndrome de Lennox-Gastaut e síndrome de Dravet — que não respondem às terapêuticas convencionais contra a epilepsia.
Canábis: legalizar a planta ou os medicamentos com base nela?
O pedido de aprovação da GW Pharmaceuticals prevê que o medicamento possa ser usado a partir dos dois anos em combinação com os tratamentos já existentes. O medicamento conseguiu da FDA e da EMA a designação de medicamento orfão.
A síndrome de Lennox-Gastaut surge, normalmente, entre os três e os cinco anos e a síndrome de Dravet pode surgir durante o primeiro ano de vida. Sem conseguir controlar as convulsões com os medicamentos disponíveis no mercado, os doentes podem ter vários episódios epiléticos por dia, com o risco de quedas e lesões a eles associados. No caso da síndrome de Dravet, o risco de morte prematura é elevado. Nas crianças, as convulsões constantes e não controladas podem trazer problemas para o desenvolvimento intelectual, atrasos no desenvolvimento em geral e outros problemas de saúde.
Os efeitos secundários mais comuns descritos no ensaio clínico publicado na revista científica The Lancet foram diarreia, sonolência, estados febris, perda de apetite e vómitos. O tratamento também está descrito como potencialmente agressivo para o fígado, mas a situação pode ser controlada.