Isaltino Morais garantiu no verão passado que, se ganhasse as eleições autárquicas de 2017, iria retomar as obras de construção do SATU — o transporte elétrico não tripulado de Oeiras que foi imobilizado em 2015. Em entrevista à TVI e no “Carpool” do Observador, durante a campanha eleitoral, garantiu que o projeto não iria “fracassar” e que até ao final de 2018 chegaria ao Lagoas Park (e até 2021, fim do seu mandato, até ao Tagus Park). Mas essa garantia foi deixada cair pelo presidente da câmara, que agora admite que a melhor opção possa ser um transporte “mecânico, com condutor”, em alternativa ao que ficou conhecido como “o comboio-fantasma” de Oeiras.
A revelação é feita num vídeo, com duração de cerca de cinco minutos, que foi gravado pelos membros de um grupo de Facebook de apoio ao SATU de Oeiras. O Observador tentou contactar Isaltino Morais, mas a equipa do autarca afirmou estar indisponível, durante esta terça-feira, para fazer mais comentários e esclarecimentos. Contudo, as explicações que dá nesse vídeo indicam que o executivo camarário que lidera está “a estudar” as alternativas que existem e já não garante que o SATU “é para continuar”, como prometeu durante a campanha.
E porquê? Isaltino Morais dá várias justificações. A primeira é que “ao ter estado parado [desde maio de 2015] e não havendo qualquer atividade que protegesse os equipamentos, pelo menos uma vez por mês, aquilo com que nos confrontámos quando tomámos posse foi com situações de instalações abandonadas, vandalizadas, cabos de cobre retirados, uma situação muito penosa e desagradável“.
Um outro fator citado pelo autarca está ligado à falência da empresa alemã que fornecia “todos aqueles equipamentos” do SATU, um meio de transporte a que está muito ligado, por ter sido o seu fundador. Contudo, Isaltino Morais sempre criticou que a obra tenha sido inaugurada — pela sucessora Teresa Zambujo — quando não estava sequer construída na totalidade a primeira fase (ficou-se pelas três estações até ao centro comercial Oeiras Parque, quando deveriam ter sido feitas, só nessa primeira fase, mais duas até ao centro de escritórios Lagoas Park).
Isaltino diz que houve “inveja” e “animosidade”, durante o governo de Passos Coelho, que levou a que nunca se “tenham criado condições para a candidatura a fundos comunitários” de modo a que se continuasse a obra.
O “comboio fantasma” de Oeiras. O que correu mal com o SATU?
O que diz Isaltino Morais no vídeo publicado nas redes sociais na semana passada: “Toda esta situação leva-nos a ponderar qual a melhor forma de levar por diante este projeto [de ligação entre] a estação de Paço de Arcos ao Oeiras Parque, ao Lagoas Park e a terminar no Tagus Park”.
O autarca sublinha que em 2019 vão terminar as concessões de transportes na Área Metropolitana de Lisboa e que é nesse “contexto” que a autarquia está a repensar as suas intenções. Para já, “estamos a estudar não só a reposição do Combus [um serviço de autocarro], que vai começar muito brevemente em Algés e depois será alargado a todo o concelho. Numa primeira fase será gratuito, mas a ideia será vir a inserir-se numa empresa de transportes municipal”.
Para fazer a ligação que era suposto ser feita pelo SATU, Isaltino vai propor um serviço “tipo vaivém”, tripulado, que faça a ligação entre a estação da linha de Cascais (Paço de Arcos) e não só o Lagoas Park e o Tagus Park como, também, o centro empresarial da Quinta da Fonte.
Numa primeira fase, com os estudos que estamos a fazer, vamos criar condições para se instalar um sistema de transportes que ligue a estação de Paço de Arcos ao Oeiras Parque, à Quinta da Fonte, ao Lagoas Park e ao Tagus Park. Esse meio de transporte será um sistema ‘tipo vaivém’ que vai circular entre estas quatro áreas e irá funcionar até que encontremos uma solução para o modo de transporte em sítio próprio até ao Tagus Park e até ao Cacém, um dia. Pode ser o SATU, nos moldes em que estava, ou pode ser um outro modo de transporte em sítio próprio que em vez de ser o sistema automático seja um sistema mecânico, com condutor.”
(O vídeo está, na íntegra, reproduzido no fundo deste texto.)
O que é que prometia Isaltino durante a campanha eleitoral
Estas declarações contrastam com as garantias claras, dadas pelo candidato Isaltino Morais, durante a campanha eleitoral.
Num outro vídeo feito no ano passado, também destacado por esse grupo na rede social, Isaltino dizia que, na sua cabeça, “quanto ao SATU a situação é muito clara: é para acabar“, ‘acabar’ no sentido de concluir as obras.
“Não há referendos [como o que foi sugerido pelo PS], não é preciso referendo nenhum. O SATU é para acabar e é uma obra prioritária que eu penso lançar já durante 2018″, garantia nesse vídeo filmado há cerca de nove meses, antes das eleições.
Haja ou não financiamento comunitário, aquela obra vai continuar já em 2018. O projeto está pronto, até ao Lagoas Park, julgo que foi entregue na Câmara Municipal, e a minha ideia era abrir um concurso público já no início de 2018″
Durante a campanha eleitoral, Isaltino Morais viajou, também, a bordo do “Carpool” do Observador, onde deixou igualmente uma garantia semelhante. “Comigo como presidente da Câmara — e é assim que eu acho que os políticos se devem assumir, com responsabilidade — o SATU vai ser concluído até 2021 até ao Tagus Park. Haja ou não haja fundos comunitários”, prometia o então candidato a presidente da câmara de Oeiras.
Os autores do vídeo e o grupo de Facebook onde foi partilhado estão a organizar um evento de apoio ao SATU para 3 de junho, uma concentração que será feita a partir do Jardim de Paço de Arcos.