O ex-primeiro-ministro timorense, Rui Maria de Araújo, lamentou esta segunda-feira ter sido “desnecessariamente usado” por Xanana Gusmão, quando o escolheu como chefe de Governo em 2015, mostrando-se esperançado que outros não caiam na nova “guerrilha política” em curso. “Aceitei o convite sempre com a melhor das intenções para servir a causa da libertação do povo maubere. Se agora afirma que me usou, só tenho a agradecer a franqueza da ‘confissão'”, disse Rui Araújo, em declarações à Lusa.

“Ofensa perdoada. Faço votos para que outros não venham a cair vítimas da atual ‘guerrilha política’ que Xanana Gusmão está a comandar”, considerou ainda. Rui Araújo lamentou que “tenha sido usado desnecessariamente” já que, disse, na altura já reinava um clima propício de cooperação interpartidária, resultado da nova conjuntura política desenhada pela liderança da Fretilin e aceite por Xanana Gusmão desde 2013″.

Rui Maria Araújo reagiu assim às declarações do líder da coligação da oposição e ex-Presidente, Xanana Gusmão, que admitiu numa entrevista à Lusa que usou o membro do Comité Central da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), numa ação de “guerrilha política” em que se aliou com a Fretilin para controlar o parlamento.

“Sei que vou ofender o Rui. O Rui é muito meu amigo, gosto muito dele e trabalhamos desde o tempo da clandestinidade. Mas usei-o. Usei-o”, disse na entrevista à Lusa em Pante Macassar, no enclave de Oecusse, região onde está, desde domingo, em campanha. A entrevista foi feita no âmbito da campanha para as legislativas antecipadas de 12 de maio em que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), liderada por Xanana Gusmão, tem tecido duras críticas à Fretilin, no Governo.

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No início de 2015, Xanana Gusmão demitiu-se do cargo de primeiro-ministro — o Governo era formado por uma coligação de três partidos (CNRT, PD e FM) — nomeando como seu sucessor um membro do Comité Central da Fretilin, Rui Maria de Araújo. O PD foi formalmente expulso do Governo — os seus membros ficaram como independentes e com Araújo entraram mais três elementos da Fretilin, que continuou a votar ao lado do Governo em praticamente tudo.

A mudança, a meio da legislatura e que ditou o fim do V e o arranque do VI Governo, surgiu depois de um tenso final de 2014 marcado, particularmente, pela expulsão dos magistrados internacionais, maioritariamente portugueses, que estavam em Timor-Leste. Nos bastidores de todo este processo estava a questão dos processos por supostos impostos devidos a Timor-Leste por empresas petrolíferas com os quais, segundo Xanana Gusmão, os magistrados não lidaram adequadamente. O líder timorense culpa-os por Timor-Leste ter perdido os processos.

Xanana Gusmão explicou que, no debate sobre os juízes no Parlamento Nacional e perante a posição da Fretilin, decidiu mudar de estratégia e “fazer guerrilha”. “Fui ao parlamento, levei horas a discutir aquilo até que fiquei exasperado e disse à bancada da Fretilin: pensam que estou aqui a perder tempo para defender o meu dinheiro? Isto é do nosso povo. Se não quiserem podem sair que nós aprovamos”, disse, referindo-se ao decreto com a ordem de expulsão dos magistrados.

“Perante toda esta dificuldade de defender interesses nacionais com uma total vontade das instituições do Estado, tive que fazer guerrilha. Chamo a Fretilin e controlo o parlamento”, contou, admitindo que por isso usou Rui Araújo.