Munro & Associates. O nome desta empresa pode dizer-lhe pouco ou nada, da mesma maneira que o conceito de engenharia reversa não será propriamente familiar para a maioria dos leitores. Mas é precisamente a essa actividade que a Munro & Associates se dedica, ou seja, desmonta máquinas para perceber como é que funcionam – isto, explicando de uma forma simples. No caso em concreto, desmontando peça por peça e vendo à lupa um dos mais aguardados eléctricos do momento: o Tesla Model 3. Ou melhor, dois.

Se está a indagar-se acerca do porquê de dois, como se um não bastasse, convém que saiba que quando a Munro & Associates decidiu debruçar-se acerca da qualidade do mais barato dos Tesla causou algum burburinho por tecer considerações, pela boca do próprio rosto da companhia, Sandy Munro, que colocavam o Model 3 “ao nível de um Kia dos anos 90”. A comparação (que pode ver aqui) era óptima para a marca sul-coreana, evidenciando o que a Kia evoluiu em décadas. Mas péssima, por motivos óbvios, para a Tesla. E não é que, mesmo a tempo de produzir o relatório final que a firma faz, finda cada desconstrução, a Munro teve acesso a outro Model 3, que não uma das primeiras unidades que foram produzidas? Isso permitiu-lhe fazer uma análise do produto não da chamada versão beta, mas sim da versão que chegará – quando chegar – à maioria dos 500 mil clientes que já reservaram o eléctrico americano.

Para Portugal, ao que conseguimos apurar (dados não oficiais), há já 1.300 encomendas do Model 3 colocadas, sendo que grande parte desses clientes nem sequer teve a oportunidade de ver, tocar ou andar no eléctrico, tanto mais que a primeira unidade que passou pelo nosso país esteve cá há poucos dias, e apenas no âmbito de uma iniciativa privada. Logo, sem o apoio da marca.

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Mas, pelo que soubemos, embora o exemplar em causa se tratasse de um dos primeiros – logo, sem as correcções que foram posteriormente introduzidas na linha de produção – a verdade é que os portugueses que contactaram directamente com o modelo não só confirmaram a sua reserva, como houve mais a serem colocadas à conta dessa passagem. Pelo que a questão que se coloca é simples: vale ou não a pena esperar pelo Model 3? Temos não uma, mas duas respostas para si.

Não é bom, é do melhor

Depois de tecer severas críticas ao Model 3, qualificando até partes da construção do modelo como “um trabalho miserável”, eis que a Munro & Associates concluiu que, do ponto de vista daquilo que verdadeiramente diferencia o Model 3, ou seja, a propulsão eléctrica, não há nada a apontar. Apenas a aplaudir. Desde a qualidade dos materiais, passando pelo engenho do funcionamento, até à sofisticação/avanço dos diferentes sistemas electrónicos e eléctricos – Autopilot incluído. Tudo isto redunda numa conclusão confrangedora para a maioria dos chamados construtores convencionais: neste capítulo, o mais barato dos Tesla avia a concorrência, reclamando uma qualidade muito superior à que oferecem os demais rivais.

As palmas não se ficam por aqui, pois também a suspensão e a eficácia do comportamento do Model 3 são, na perspectiva da Munro & Associates, merecedoras de uma elevada pontuação. Uma conclusão que vai ao encontro daquelas que têm sido as opiniões de quem já se fez à estrada neste modelo da Tesla e que se explica pelo facto de as suspensões serem muito sofisticadas (triângulos sobrepostos à frente e multilink atrás) e de a altura ao solo ser bastante reduzida. Isso, aliado às baterias integradas na plataforma, torna o centro de gravidade muito baixo, o que é bom.

Não é mau, é… estranho

Se, em termos de montagem, o mais barato dos Tesla deixa muito a desejar, com folgas que – considerando aqui a típica postura do cliente europeu – são indesculpáveis, do ponto de vista do chassi, também há que ter em conta alguns alertas.

Munro considera que o desenho da plataforma resulta numa estrutura estranhamente pesada, algo que naturalmente acaba por prejudicar a autonomia. Segundo ele, bastaria que a concepção e a junção das peças se fizessem de outro modo para que o Model 3 fosse mais além, em termos de alcance. Uma crítica que, ressalve-se, vem de alguém cujo “ganha pão” consiste em vender ideias para optimizar o produto…

Mas, se dúvidas existissem quanto à avaliação geral feita pela empresa que se deu ao trabalho de desmontar dois Model 3 e de avaliar o custo de cada um dos componentes da berlina eléctrica, convém ter presente que, na opinião da Munro, a Tesla só pode perder dinheiro em cada versão básica que vende deste modelo. O mesmo é dizer que quem opta por adquirir este eléctrico faz um bom negócio.

Se tiver interesse, ou curiosidade, em aprofundar quais as vulnerabilidades e virtudes do Model 3, vale a pena ver este vídeo: