A bancada parlamentar do PSD pediu esta sexta-feira a demissão do ministro da Saúde, considerando que, perante o “descalabro” no setor é a única atitude que se espera. Mas o líder social-democrata, Rui Rio, parece não estar alinhado com os deputados do seu partido e diz que pedir a demissão de ministros não é o seu “estilo”. O deputado que pediu a demissão, confrontado com a contradição após as declarações de Rio, diz que reitera e subscreve o que disse de manhã e nega haver “dissonância” com o líder.

O repto para a demissão foi lançado num debate no Parlamento, durante a manhã, pelo deputado social-democrata Ricardo Batista Leite, que considerou que “o ministro da Saúde já não existe” e que o ministro das Finanças “tomou de assalto” o Ministério da Saúde.

Face ao descalabro em que está instalado o Serviço Nacional de Saúde, a única atitude séria que se poderia esperar do senhor ministro da Saúde era a sua demissão, hoje, aqui e agora“, afirmou Ricardo Batista Leite.

“Se o ministro da Saúde é um mero delegado do ministro das Finanças, é porque temos um primeiro-ministro irresponsável que o permite, que assiste impávido e sorridente à destruição progressiva dos serviços”, afirmou o deputado do PSD. Para Ricardo Batista Leite, os “portugueses estão cada vez mais doentes” e o atual Governo transformou “o Serviço Nacional de Saúde no Serviço Nacional da Doença”.

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Porém, questionado pelos jornalistas esta manhã em Beja, onde está para as comemorações do aniversário do PSD, Rui Rio disse que não viu o debate parlamentar e quando chamado a comentar o pedido de demissão, respondeu: “Não foi assim que me contaram que aconteceu”.

“Os deputados do PSD perguntaram ao ministro da Saúde se ele não quer reequacionar a sua posição no Governo face ao facto de estar a dividir a gestão do Ministério da Saúde, na prática, com o ministro das Finanças. Têm saído notícias em que isso aparece muito claro”, sublinhou.

Perante a insistência dos jornalistas presentes em Beja sobre se este seria o timing para o PSD pedir a demissão do ministro, Rui Rio disse que não é primeiro-ministro, e “que o primeiro-ministro é que tem de saber”. Questionado sobre se o PSD poderia pedir a demissão do ministro, afirmou: “Pode, mas não é propriamente o meu estilo“.

Ainda assim, Rui Rio reiterou que considera que “o Governo tem de fazer uma reflexão”, incluindo “o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o ministro da Saúde” sobre a situação no SNS, que “assim não pode continuar”.

Ricardo Batista Leite, contactado pelo Observador após as declarações de Rui Rio, não considera ter sido desautorizado, uma vez que o que disse no Parlamento foi que “o senhor ministro tem de avaliar se tem condições para continuar”, já que “não tem assumido o papel de liderança no Serviço Nacional de Saúde, deixando para o ministro das Finanças.”

Questionado sobre o facto do líder do PSD, Rui Rio, dizer que não é o seu “estilo” pedir a demissão, Batista Leite continua a não ver “qualquer dissonância”, já que o que a bancada do PSD fez foi propor que o ministro “equacionasse a demissão” para travar o “descalabro” dos serviços de saúde. E acrescentou: “Quando o PSD quiser fazer um pedido de demissão direta, fará”.

Perante a contradição, o Observador insistiu, perguntando a Batista Leite se estava a recuar no pedido de demissão que tinha feito de manhã (“aqui e agora”), mas o deputado rejeitou estar a recuar na posição: “Reitero e subscrevo o que disse de manhã, a direção da bancada do PSD subscreve e o presidente do partido não contraria.”

Ministro acusa PSD de cavalgar “frenesim populista”

Em resposta ao deputado social-democrata no debate, o ministro da Saúde considerou que o pedido para a sua demissão “não tem nenhum sentido” e considerou que o deputado social-democrata estava em pleno “exercício de campanha eleitoral”. Adalberto Campos Fernandes entende que a oposição tem “cavalgado num frenesim populista” e vê o pedido de demissão feito pelo PSD como exercício de campanha eleitoral, apesar de avisar que “o populismo tem limites”.

No final do debate, o ministro Adalberto Campos Fernandes foi questionado pelos jornalistas sobre o facto de os pedidos da sua demissão começarem também já a surgir da parte de profissionais de Saúde. O ministro respondeu que, “no ranking dos pedidos demissão”, de ministros de Saúde dos últimos anos ele é o que terá “menos pedidos de demissão”.

“Um ministro não governa para 100 mil pessoas, governa para 10 milhões de pessoas”, comentou, acrescentando que um ministro tem de estar preparado para ser contestado.

No debate do parlamento sobre a situação da Saúde, agendado a pedido do PCP, o ministro voltou a insistir nos dados sobre o acréscimo de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) desde 2015 até agora. Segundo os dados que o Ministério da Saúde distribuiu hoje aos jornalistas, relativos ao primeiro trimestre deste ano, há mais 7.901 profissionais no SNS do que havia em novembro de 2015.

De acordo com os dados oficiais, há mais 3.626 médicos, 3.072 enfermeiros, mais 291 técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica e mais 912 profissionais das restantes profissões. Apesar destes dados, as críticas dos vários profissionais têm sido constantes, traçando um cenário de degradação no SNS. Perante essas críticas, o ministro Adalberto Campos Fernandes sublinha que “não se consegue recuperar” em dois anos um sistema que foi de tal forma delapidado.