Alvalade voltou a viver um dia de ebulição, na sequência da derrota do Sporting na Madeira com o Marítimo que colocou os leões no terceiro lugar e fora da próxima fase de qualificação da Liga dos Campeões. No entanto, e apesar de toda a especulação lançada ao longo da tarde e da noite, agora parece certo que Jorge Jesus estará no treino desta terça-feira, fará toda a preparação para a final da Taça de Portugal e irá comandar a equipa verde e branca no Jamor frente ao Desp. Aves. A partir daí, tudo aponta que seja o fim de linha para o treinador no clube. Ou, como se tinha percebido nos últimos dias, a confirmação do cenário de rutura entre Bruno de Carvalho e o técnico.

Esta tarde, Jorge Jesus e restantes elementos da equipa técnica (Raul José, Mário Monteiro, Márcio Sampaio e Miguel Quaresma) foram chamados para uma reunião nos escritórios da SAD do Sporting (que tem como membros executivos, além de Bruno de Carvalho, Carlos Vieira, Guilherme Pinheiro e Rui Caeiro), tendo chegado a Alvalade por volta das 16 horas, a par de elementos do departamento médico e do scouting. Antes, o treinador já se tinha preparado para os cenários possíveis, incluindo o de uma suspensão na antecâmara final da Taça de Portugal.

A equipa técnica acabou por abandonar as instalações por volta das 19 horas (após hora e meia de reunião), numa altura em que já tinham chegado a Alvalade os jogadores, convocados para uma reunião de emergência em dia de folga. Meia hora depois, ainda antes do plantel ter começado a sair pela garagem, foi circulando a informação de que Jorge Jesus e os restantes membros tinham sido suspensos, sendo mesmo avançada a ideia de que Luís Martins, coordenador da Academia e treinador da equipa B, e Nélson Pereira, técnico dos guarda-redes (que esta tarde chegou um pouco mais tarde a Alvalade), poderiam estar no banco do Sporting no Jamor. As fontes contactadas pelo Observador confirmaram inicialmente este cenário; mais tarde, Bruno de Carvalho negou qualquer suspensão e percebeu-se a “especificidade” do que tinha sido discutido e do que estava realmente em causa.

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À saída de Alvalade, Bruno de Carvalho acedeu falar aos jornalistas, tendo saída da viatura que o transportava para poder intervir mais à vontade e sem prejudicar a saída dos restantes carros da zona de garagens (sempre muito movimentada a esta hora). “Estão a fazer-me perguntas? Parece que não, que até sabem mais… Percebo que tenham de trabalhar, fabricar notícias não. Todos assistimos a um jogo que prejudicou bastante o Sporting e que nos fez perder bastantes milhões que estavam contabilizados e isso origina a várias mudanças. Também não gostámos da interação dos sócios com os jogadores. Por isso, fizemos uma série de reuniões e vocês fizeram uma série de invenções. Ninguém foi suspenso, têm de esperar pelo Bruno para falar com o Bruno que suspendeu o Jorge, o presidente não suspendeu ninguém”, referiu o número 1 leonino.

O que esteve então em causa na reunião mantida esta tarde em Alvalade? De acordo com informações recolhidas pelo Observador, Bruno de Carvalho terá admitido a Jorge Jesus que, após mais um ano em que termina o principal objetivo da temporada, o Campeonato Nacional, na terceira posição, à semelhança do que já tinha acontecido na última época, o seu projeto em Alvalade teria chegado ao fim. Num cenário ideal, ambas as partes chegariam a acordo nas próximas semanas para a rescisão mútua do último ano de contrato do técnico com os leões, algo que o treinador terá recusado em paralelo com a cláusula anti-rival, que costuma ser colocada nos ativos que saem do conjunto verde e branco desde que o atual líder assumiu a presidência. Não havendo essa hipótese, terá sido equacionada a possibilidade de levantamento de um processo disciplinar por quebra de lealdade, entre outros factos, sem que, ainda assim, tenha sido entregue qualquer nota de culpa a Jesus do que quer que fosse (foi esta ideia que terá originado essa questão da eventual “suspensão” avançada). Da parte do técnico, que terá a receber mais de 7,5 milhões de euros pelo último ano de vínculo, o cenário de despedimento não se coloca.

Acrescente-se que, segundo informações recolhidas pelo Observador, a hipótese de saída de Jorge Jesus já tinha sido ponderada pela administração da SAD do Sporting, que ficou desagrada com algumas atitudes ainda antes do “mediático” jogo em Madrid na primeira mão dos quartos de final da Liga Europa. Agora, com mais um terceiro lugar e consequente afastamento da Champions, existe a ideia de que o avultado investimento em termos financeiros não está a ter o retorno desejado, naquela que será uma de várias mudanças que serão feitas.

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Após sair de Alvalade, por uma saída da garagem que não a que habitualmente utiliza (como aconteceu este domingo à noite, depois do regresso da Madeira), Jorge Jesus deslocou-se até ao hotel Ritz, onde terá reunido com o seu advogado, Luís Miguel Henrique (Rogério Alves representou-o nos processos que tinha com o Benfica, que “caíram” por decisão mútua em fevereiro). Já Bruno de Carvalho, depois das curtas declarações à saída do estádio, falou ao telefone no programa Pós-Jogo da Sporting TV, colocando o enfoque nas decisões a tomar para 2018/19.

“Temos não só uma taça para ganhar mas também estamos a preparar a próxima época. Os resultados com o Benfica e com o Marítimo alteraram muitas coisas e têm de ser falados, não é por causa de uma final que as coisas não têm de ser faladas. Estivemos a trabalhar o dia todo, jamais pensei o que se estaria a passar na comunicação social… O que gostava de ver dos sportinguistas era um bocado de calma, as questões devem ser resolvidas dentro de casa. Temos trabalho para fazer, decisões importantes para tomar como em qualquer empresa que se vê privada de atingir dezenas de milhões de euros. Dei uma resposta clara sobre isso de Jorge Jesus. Não houve em nenhuma reunião de hoje nada de errado nem na forma, nem no conteúdo, nem no substrato”, comentou.

Houve uma outra reunião esta tarde em Alvalade, entre a SAD e os jogadores. Um encontro bem mais curto do que aquele que aconteceu com a equipa técnica e, segundo explicaram ao Observador, com um teor distinto: Bruno de Carvalho admitiu que a derrota na Madeira com uma exibição menos conseguida teve como reflexo direto a saída da fase de apuramento da Champions (numa lógica de mais de 20 milhões perdidos que se transformaram em 40 milhões para um adversário direto), salientou que os leões estariam a contar com essas verbas de entrada na Liga dos Campeões na projeção da nova temporada mas recolocou o foco na conquista do troféu que fecha a temporada.

De referir que, apesar das manifestações de desagrado dentro e fora do estádio, no aeroporto Cristiano Ronaldo e, mais tarde, em Alvalade, bem como a presença de um grupo de adeptos na garagem do estádio terá tentado agredir Rui Patrício e William Carvalho dentro das garagens do estádio, não houve qualquer manifestação por parte do plantel sobre isso. Aliás, esse episódio pode ter adensado a rutura que se vive em Alvalade (até pela estupefação de se perceber que havia um enorme cordão policial à saída das garagens de Alvalade e mais largo do que é normal mas que, no piso -2, mais de uma dezena de adeptos conseguiu chegar à zona dos carros), mas acabou por não ser tema de conversa. Nem isso nem a continuidade ou não de Jorge Jesus no final da presente temporada.

De referir que o ambiente tenso entre Bruno de Carvalho, Jorge Jesus e os jogadores arrasta-se desde o início de abril, após a derrota com o Atl. Madrid. Depois de suspensões, posts inflamados nas redes sociais e críticas de parte a parte, a equipa leonina respondeu dentro de campo e venceu por seis vezes consecutivas, incluindo o próprio Atl. Madrid (ainda que perdendo a eliminatória) e o FC Porto, na meia-final da Taça de Portugal. No entanto, o empate no dérbi com o Benfica e, sobretudo, a derrota com o Marítimo vieram destapar as feridas em aberto.

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Ainda antes do encontro que terminaria com a ausência da Liga dos Campeões na próxima temporada, tinha havido dois momentos com algumas farpas à mistura no sábado: inicialmente, na entrevista de Bruno de Carvalho ao Expresso, concedida ainda antes dessa viagem a Madrid e entretanto atualizada; depois, os comentários de Jorge Jesus e do líder verde e branco a uma publicação no Facebook do pai do presidente leonino, que falava numa “equipa desorganizada” entre outros reparos à exibição do Sporting na partida com o Benfica.

“Uma pergunta mais inteligente seria: quem é o líder do balneário? Então acha que um treinador permitiria que os jogadores fizessem aquilo que se escreveu ao seu presidente? Que os jogadores tinham virado as costas ao presidente, que se tinham recusado a treinar, e por aí fora. Só pode ser invenção da comunicação social, não é? Porque se fosse verdade era gravíssimo. Tem tudo de ser invenções, não é? Porque senão era mau sinal haver um líder de balneário assim. E o líder de balneário é o treinador (…) Se geriu bem todo esse processo? Partindo do princípio de que é tudo mentira, menos o post, sim, geriu bem. Você acredita que alguma coisa acontece no balneário sem o OK do líder? Um líder lidera. Imagine que no meu Conselho de Administração acontecia uma série de coisas e atitudes para as quais eu não tinha dado o meu OK. Se isso acontecesse, eu não era líder algum”, comentou Bruno de Carvalho sobre Jorge Jesus.

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“Ponto número um: o pai do presidente como sócio tem direito a ter opinião. Ponto número dois: o meu presidente é o filho e tenho a certeza que não se revê naquilo que o pai disse. Como é normal muitas vezes entre pais e filhos… E em relação a essa situação, tenho a certeza que o presidente não se revê”, referiu Jesus na conferência antes da partida para a Madeira. “Tem o direito de ter opinião. Também tinha pedido internamente às pessoas para não comentarem o caso e, por isso, tenho pena que comentem. Não estou muito de acordo com o que o meu pai disse, mas tenho orgulho por ser meu pai. Ao menos deu a cara. Jorge Jesus também não gosta, apesar de serem amigos, quase irmãos, das alarvidades de Octávio Machado, Rui Santos e João Bonzinho. Tenho a certeza que não se revê nas alarvidades e mentiras”, salientou Bruno de Carvalho em declarações à Sporting TV.

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De referir que, à saída de Alvalade, Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral que chegou a pedir a saída de Bruno de Carvalho após a crise institucional criada na sequência da derrota em Madrid mas que entretanto já manifestou publicamente o apoio ao atual líder, teve uma frase lacónica quando se falava na possível de suspensão: “Não sei nada disso. Se for feito dito presidente eu acredito, se não for não acredito”.

“Quando há problemas é que eles têm que se resolver. Estou absolutamente convencido de que eles estão a ser resolvidos. Temos que respeitar aquilo que são as decisões de quem tem a responsabilidade de gerir uma instituição como o Sporting. O presidente Bruno de Carvalho entendeu que hoje era um momento importante para falar com equipa técnica e com os jogadores e acredito que o esteja a fazer de forma a dar grande força e estímulo para o embate do próximo domingo”, concluiu, apontando baterias à final da Taça de Portugal.