Quase dois anos depois da NASA ter confirmado a existência de um oceano de água líquida debaixo da camada de gelo que compõe a superfície de Europa, a agência espacial norte-americana tem mais novidades sobre essa descoberta: há evidências de que a superfície tem aberturas por onde a água é ejetada para o exterior, uma teoria antiga que adensa ainda mais a probabilidade desta lua de Júpiter poder suportar vida. O mais peculiar é que a sonda espacial Galileu, que sobrevoou o satélite no final dos anos 90, já tinha passado por cima dessas plumas de água há duas décadas. Mas a NASA não tinha dado por isso.

Há um oceano na lua Europa que pode ser acedido através de “géiseres”, confirma a NASA

Enquanto estava ativa, a sonda Galileu reparou numa anomalia térmica na superfície gelada de Europa enquanto a sobrevoava a 206 quilómetros de altitude: havia um segundo campo magnético que parecia contrariar o principal. Ninguém sabia o que isso significava realmente até a Cassini ter sobrevoado Encélado e ter encontrado o mesmo fenómeno relacionado com jatos de água. Os astrónomos tinham teorizado que essas anomalias podiam ser provocadas por jatos de água com origem num oceano subterrâneo — que hoje se sabe ter duas vezes mais água do que os oceanos terrestres –, mas nem mesmo as imagens do Telescópio Espacial Hubble permitiram aos cientistas carimbar essas teorias como válidas.

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Só passados vinte anos é que os investigadores decidiram olhar com mais atenção para as análises feitas pela sonda Galileu ao campo magnético de Europa: “Os sinais da existência de plumas sempre esteve a um nível intrigante, mas não definitivo”, recorda o Instituto de Tecnologia de Califórnia. Agora está mais perto de nunca de o ser: “É difícil perceber a menos que se esteja à procura por isso. Essas plumas são muito difusas – não é como se se estivesse a voar por cima de uma mangueira sem perceber”, descreve o Jet Propulsion Laboratory da NASA.

Quem decidiu pegar nos arquivos da sonda Galileu, reformada desde setembro de 2003, foi uma equipa da Universidade de Michigan liderada por Xianzhe Jia. Esta equipa tinha uma vantagem: enquanto em 1997 ninguém sabia o que significavam os dados retirados do campo magnético, agora temos a vantagem de já ter visto plumas de água em Encélado, um satélite natural de Saturno, com a sonda Cassini. Foi como olhar para uma impressão digital: havia características do campo magnético de Encélado que eram semelhantes às encontrados em Europa, por isso Xianzhe Jia foi descobrir que características eram essas. E encontrou-as: eram os géiseres de água.

Certezas absolutas ainda não há. Teremos de esperar até depois de 2020 para as tentar encontrar, ano em que a NASA e a Agência Espacial Europeia têm missões programas para sondar Europa uma vez mais e tentarem encontrar imagens dos jatos de água.