Afonso Almeida e João Azevo conheceram-se no Rio de Janeiro, em época de Carnaval, e rapidamente se tornaram amigos. Estavam ambos num país novo, tinham interesses em comum e queriam fazer as mesmas viagens. Não demorou muito para que Afonso, na altura, designer gráfico na Jair de Souza Design, e João, que então era assistente de produção numa produtora de cinema, percebessem que queriam trabalhar juntos. Contudo, foi só em Portugal, cerca de sete anos depois, que materializaram o desejo de ter um projeto.

Por cá, Afonso começou a trabalhar enquanto freelancer e João enveredou pela área da iluminação, criando a loja Light & Store. Foi dessa fusão de design e iluminação que nasceram as Cazul, caixas de luz que iluminam imagens ou fotografias totalmente escolhidas pelo freguês.

A marca e a respetiva loja online foram lançadas há cerca de um mês. Através do site da Cazul, qualquer pessoa pode submeter uma imagem à escolha para ser impressa em acrílico e iluminada por uma lâmpada LED dentro da caixa de luz. O produto tem três dimensões diferentes e custa 65 euros, sendo ainda possível comprar apenas a impressão em acrílico por 15 euros.

Não existe um produto assim. Isto serve como prenda para pôr em casa — eu tenho uma fotografia com a minha mulher, o Afonso tem um trabalho dele da universidade de que gosta bastante –, já fizemos Cazul para casamentos, para eventos, para a loja das Galerias de São Bento, pode servir para sinalética, para hotéis… Dá para o que se quiser”, explicou João Azevo.

A ideia nasceu de um jantar com amigos, no qual se depararam com as possibilidades que uma caixa de vinho vazia oferecia. Juntos puseram-se a magicar sobre de que forma é que podiam aproveitar as caixas recorrendo ao design de Afonso e à iluminação de João. “As conversas começaram à volta da luz”, contou Afonso Almeida em conversa com o Observador. Juntos, investiram “uns 10 mil euros” dos próprios bolsos, referiu João, tendo a maior porção desse investimento ido para o site, que “foi feito de raiz”.

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As Cazul vêm em três tamanhos diferentes e apenas num tipo de cor, tornando a imagem iluminada o verdadeiro foco de atenção. Foto: Cazul

Inicialmente, o projeto consistia numa série de ilustrações impressas em acrílico inspiradas no azulejo português. Na altura, referiu Afonso, fizeram “umas vinte” unidades e perceberam que aproveitar as caixas de vinho era um problema devido a “montes de defeitos” que não conseguiam controlar, tais como diferentes tamanhos de caixa entre diferentes marcas, por exemplo.

Ainda assim, o produto teve boa receção e levou a que várias pessoas pedissem que fosse possível iluminar as suas próprias fotografias. “Chegámos a fazer algumas unidades [com fotografias] para alguns amigos, por especial favor, porque não é um processo que seja muito fácil. Normalmente, a pessoa não tem noção se a fotografia é boa ou não é boa”, explicou João Azevo.

Perceberam que, apesar de existirem alguns constrangimentos, havia potencial no produto. Decidiram deixar para trás a ideia de aproveitar as caixas de vinho para começar a desenhar as caixas de raiz. Numa primeira fase, João e Afonso pensavam em vender as caixas desmontadas para que estas fossem construídas em casa pelo cliente, de modo a facilitar o envio da encomenda pelo correio. No entanto, João e Afonso abandonaram essa hipótese porque encarecia o produto e por terem incerteza se o cliente saberia montar a Cazul. “Nós próprios, às vezes, montávamos aquilo tudo ao contrário”, confessou Afonso.

Chegar à fonte de luz certa para conseguir uma “imagem homogénea” foi também um problema, considerou João, tendo Afonso acrescentado que “foi o que demorou mais e fez gastar mais tempo em protótipos e em estudos”, principalmente porque tinham de conciliar o desenvolvimento da caixa com os seus trabalhos.

A primeira coleção de caixas Cazul foi inspirada nas típicas frases escritas em azulejo português. Por enquanto, apenas é possível comprar caixas com a foto que submeter no site, mas a empresa espera vender coleções de autor em breve. Foto: Cazul

Quando terminaram o protótipo e o site ficou concluído, disse Afonso, perceberam que “agora é que tem de ser”: a Cazul fazia parte do trabalho diário de ambos e já não podia ser apenas um projeto secundário. Já lá vai cerca de um mês desde então, e a receção tem sido boa “atendendo que é um produto vendido em online”, referiu João, e que “não é de compra imediata”, disse Afonso.

“A pessoa vê, gosta e pensa ‘um dia vou oferecer’ ou ‘vou ter uma casa em que vou querer pôr. O feedback que temos tido é de que as pessoas gostam e querem ter mas ainda vai demorar a comprar”, referiu o designer. Por outro lado, sublinhou João, a empresa tem tido contactos de hotéis que querem pôr caixas “em todos os quartos”.

“Temos aqui um mercado bastante amplo na utilização do produto. Pode ser usado, por exemplo, numa composição de imagens com várias caixas. As vendas têm sido bastante interessantes para o período de início do projeto.”, considerou.

Mais do que imagens iluminadas, a Cazul quer ser um “produto de referência” para artistas

Por enquanto, as Cazul são bastante simples: tirando o acrílico, obviamente, as caixas, feitas de contraplacado de choupo e produzidas em Torres Vedras, e o cabo, vêm todos na mesma cor neutra. Esta simplicidade foi uma escolha dos criadores, que quiseram manter o processo de adquirir uma caixa descomplicado. Uma maior personalização das Cazul é uma possibilidade no futuro, nomeadamente ao nível da cor das caixas e dos materiais do cabo elétrico.

“Termos uma paleta de cores é uma das possibilidades para o futuro porque sabemos que dá mais qualidade ao produto e mais opção ao consumidor. Outra é a escolha do cabo: ser às cores, de linho, mesclado… A personalização vai ser um mundo. Mas por enquanto pensámos ‘keep it simple’.”, disse João.

Neste momento, no site da Cazul, apenas é possível submeter a própria fotografia e adquirir o produto. Contudo, os planos de Afonso Almeida e João Azevo para a marca vão mais além: uma das muitas ideias dos sócios amigos é não só fazer coleções de autor com diferentes artistas como também criar uma comunidade dentro do site na qual estes possam submeter e vender as suas obras, algo que pensam lançar por volta de setembro, após um período de “maturação da plataforma”.

Essa parte já está desenhada para o site, mas ainda não vamos lançá-la porque queremos que o produto primeiro seja conhecido e perceber também a reação das pessoas à forma como o site funciona. Vai haver uma parte para pessoas que só querem fazer upload de imagens e não comprar a caixa. Essas pessoas vão receber uma parte das vendas”, explicou Afonso.

Segundo Afonso, o sucesso desta comunidade é um dos grandes objetivos da empresa, que quer transformar a Cazul num “produto de referência” para artistas que estejam à procura de plataformas e meios para expor e vender as suas criações. “O objetivo será a comunidade funcionar como uma comunidade de artistas, em que existam designers e fotógrafos que queiram, de facto, participar e criar conteúdos para serem vendidos na nossa galeria, transformando a Cazul num produto de referência.”, considerou.

Se o produto chegar aí, disse o designer, “é espetacular”. E claro: os amigos também querem que a Cazul “seja reconhecida internacionalmente”. Até porque, conforme disse João Acervo, as caixas de luz “não foram pensadas” para ser um produto orientado apenas a Portugal, mas sim a “todo o mundo”. “As imagens ganham vida”, considerou o antigo cineasta. “Há uma coisa especial, mas tão simples: é iluminar uma imagem.”

Nome: Cazul
Data: 2018
Pontos de venda: loja online
Preços: 65€

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