O cinema do realizador António-Pedro Vasconcelos, “obreiro decisivo de uma geração decisiva”, vai ser revisitado num ciclo integral durante junho e julho na Cinemateca, em Lisboa. O ciclo é feito na sequência de outros programas que a Cinemateca tem dedicado ao Cinema Novo, colocando António-Pedro Vasconcelos na segunda geração, depois do “trio de arranque do período 1963-1965 (Paulo Rocha, Fernando Lopes e António de Macedo)”.

“Viajar pela obra de António-Pedro Vasconcelos é assim viajar por mais de meio século de cinema português e pelos debates levados a cabo no seio dele, desde um cinema muito próximo da vida e da vivência do autor a um outro que procura aproximar-se mais dos grandes modelos universais da ficção e de um cinema de género”, afirma a Cinemateca.

A abrir o ciclo, a 14 de junho, a Cinemateca escolheu “Perdido por cem…”, primeira longa-metragem de António-Pedro Vasconcelos, de 1972. Com José Cunha, Marta Leitão e Ana Maria Lucas, é “um filme lisboeta, de planos-sequência, câmara à mão, som direto, atores não profissionais”. Foram ainda recuperadas curtas-metragens de publicidade institucional, feitas na década de 1960, e, em estreia na Cinemateca, o documentário televisivo “A voz e os ouvidos do MFA”, de 2016, produzido para a RTP.

“Jaime” (1999), “Os imortais” (2003) e “O lugar do morto”, possivelmente um dos filmes de ficção mais conhecidos de António-Pedro Vasconcelos e que marcou o cinema português na década de 1980, com Ana Zanatti e Pedro Oliveira, também integram o ciclo em junho. Destaque ainda para “Aqui d’el rei” (1991), que foi, “em termos de produção, o mais ambicioso projeto de António-Pedro Vasconcelos” e que será exibido na Cinemateca na versão televisiva, com cerca de quatro horas.

Em julho serão mostrados vários documentários televisivos, dedicados a, entre outros, Moniz Pereira, Milu e Eduardo Gageiro, e as recentes longas-metragens “Os gatos não têm vertigens” e “A bela e o paparazzo”.

Na programação de junho, a Cinemateca recorda o papel de António-Pedro Vasconcelos nos caminhos do cineclubismo, na escrita e na divulgação de cinema e na produção, “com a aventura da VO Filmes, que cria com Paulo Branco em 1979”, e da qual divergiu anos mais tarde. “Porque se A.-P.V. [António-Pedro Vasconcelos] é um dos grandes obreiros do Cinema Novo, ele é também autor assumido de uma dissensão histórica no seio dele, com consequências profundas na prática e nos debates que marcaram a atividade de cinema em Portugal até aos dias de hoje”, afirma a Cinemateca.

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