Na última sexta-feira à noite, Feliciano Barreiras Duarte ouviu pelo menos 3 militantes do PSD de Leiria a pedirem que se demitisse do cargo de deputado e de presidente da Assembleia Distrital do partido em Leiria.
Na sala estava também o vice-presidente do PSD Nuno Morais Sarmento — presente na sessão no âmbito de iniciativas do partido sobre o Conselho Estratégico Nacional — que assistiu a tudo em silêncio e que, em declarações ao Observador, descreve o momento como um “númerozito de dois ou três rapazes da jota.” Durante a reunião, a defesa de Feliciano ficou nas mãos do líder da distrital, Rui Rocha, que acusou os militantes contestatários de “falta de lealdade”.
Feliciano Barreiras Duarte demitiu-se de secretário-geral do PSD depois de ter sido tornado público que utilizou abusivamente o estatuto de “visiting scholar” na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e também que terá recebido subsídios do Parlamento como se vivesse no Bombarral quando na verdade vivia em Lisboa. O social-democrata manteve-se como presidente da Assembleia Distrital de Leiria, o que não terá agradado a vários militantes do distrito.
Ao que o Observador apurou, os três militantes mais hostis com Feliciano foram três dirigentes da JSD de Leiria, que terão questionado a falta de coerência de Feliciano Barreiras Duarte por ter abdicado do cargo de secretário-geral, mas entender que mantém condições para liderar a Assembleia distrital daquele distrito e para continuar como deputado.
O ambiente na reunião de sexta-feira da Assembleia distrital de sexta-feira, que terminou perto das três da manhã, já não estava bom junto dos passistas depois de uma bicada de Morais Sarmento ao antigo líder do PSD, em que o atual vice-presidente de Rui Rio afirmou que “o PSD tem agora finalmente um líder que faz oposição“. Alguns desses elementos, mais afastados da ala de Rio, esperavam também perceber se Feliciano Barreiras Duarte se iria demitir de presidente da Mesa da Assembleia Distrital, uma vez que aquela era a primeira reunião desde o caso.
Na sua intervenção, o antigo secretário-geral do PSD disse que os tempos que passou foram “momentos muito difíceis” e que se recorda de ter “chorado muito ao ver os filhos a lerem as notícias”. Feliciano Barreiras Duarte terá atribuído a sua demissão a uma “certa comunicação social” anti-Rio. Na mesma intervenção terá dito ainda aos militantes que o visaram que não iria esquecer que tinham levantado o assunto.
Já o líder da distrital do PSD de Leiria, Rui Rocha, explica ao Observador que o PSD é um “partido democrático” e que, por isso, é “natural que haja pessoas com opiniões diferentes” e que “houve tantas intervenções no sentido de pedir a saída de Feliciano, como intervenções em sentido contrário.”
Rui Rocha, que é próximo de Feliciano, lembrou que, desde o caso Berkeley, a “distrital já reuniu algumas vezes, houve até reuniões com JSD e o tema nunca foi suscitado até ontem.” E, por já terem passado dois meses, o líder distrital diz que este é um “assunto descontextualizado no tempo”.
Nuno Morais Sarmento destaca que houve “seis horas de reunião em que os militantes estiveram a discutir o assunto e em 20 intervenções houve um numerozito de dois ou três rapazes da jota, a perguntarem ao Feliciano se ele não queria repensar continuar em funções como deputado. Mas aquilo estava montado. Houve um que até o elogiou e só um é que pediu mais diretamente que ele saísse de deputado.”
Ambos os lados — quer os apoiantes de Feliciano, quer quem o criticou — garantem que, após a reunião, receberam palavras de apoio de muitas das outras pessoas presentes. Nuno Morais Sarmento não comentou o assunto, mas na sua intervenção elogiou Feliciano Barreiras Duarte. Ao Observador explica que só não fez a defesa na hora porque “os próprios membros da assembleia distrital responderam aos críticos do Feliciano, dizendo que achavam incompreensível trazer o assunto a discussão neste momento.”