A comissão executiva da EDP considera que o preço da oferta pública de aquisiçã0 (OPA) lançada pela China Three Gorges não reflete o valor da empresa.
No relatório sobre a OPA chinesa, divulgado na madrugada deste sábado, a equipa liderada por António Mexia diz que que o preço de 3,26 euros por ação é “baixo considerando a prática seguida pelas empresas europeias no sector das utilities onde existiu aquisição de controlo. Em particular, a oferta subavalia a EDP tendo em conta os prémios pagos em ofertas públicas precedentes em dinheiro para aquisição de controlo”.
Já a OPA sobre a EDP Renováveis suscita a oposição do conselho de administração liderado por åo Manso Neto que alerta ainda para implicações regulatórias que podem travar a expansão da empresa nos Estados Unidos.
Para a EDP, o “prémio implícito no preço oferecido encontra-se significativamente abaixo do que é a prática em transações em dinheiro no sector europeu das utilities, no mercado ibérico e mais genericamente no mercado europeu, em casos em que o oferente adquire controlo. Tem implícito um múltiplo inferior à média paga em transações precedentes relevantes”.
A EDP regista o “número considerável de autorizações e aprovações de autoridades administrativas e regulatórias competentes em diferentes mercados e segmentos, tais como da Comissão Europeia, do Governo Português, da CADE e da ANEEL no Brasil, daCFIUS e da FERC nos Estados Unidos da América”. No entanto, constata também os méritos da oferta.
A elétrica portuguesa considera que a China Three Gorges (CTG), que é maior acionista da EDP com 23,3%, destaca ter como sua intenção “aumentar o seu compromisso estratégico com a EDP” e garantir que esta “mantém a sua posição de player relevante no sector”.
O plano da CTG, diz a empresa portuguesa, “composto por cinco pilares principais relacionados com a identidade, eficiência e crescimento, perfil financeiro, contribuição de ativos e a opção de entrada no mercado eólico offshore na China, dão um contexto relevante à oferta”. Em particular, o Conselho de Administração Executivo da EDP constata o mérito das seguintes intenções da empresa chinesa:
- Preservar a identidade portuguesa da EDP e a natureza autónoma do centro de decisões, baseado nos mais elevados padrões internacionais de corporate governance, mantendo também a presença do grupo nas geografias onde se encontra atualmente e onde é um player de referência, e mantendo as ações da EDP admitidas à negociação em mercado regulamentado com níveis de liquidez e de free-float significativos.
- Enfoque nos ativos com fluxos de caixa estáveis, pretendendo manter o perfil diversificado e de baixo risco, e posicionar a EDP como líder das operações e do crescimento do Grupo CTG na Europa, na América, nos PALOP, bem como em determinados mercados Asiáticos;
- Reforçar o perfil financeiro da EDP comprometendo-se a manter a tendência de redução de alavancagem da EDP e assegurar pelo menos um rating de nível investment grade, procurando simultaneamente manter a flexibilidade para procurar crescimento e manter uma política de dividendos estável e não inferior ao que foi divulgado pela EDP;
- Eventualmente contribuir com ativos regidos por contratos de longo prazo do Grupo CTG em geografias onde se verifique uma sobreposição de mercado com a EDP, ao abrigo de um acordo quadro a celebrar com a Sociedade Visada. Estes ativos incluem centrais hídricas controladas pelo Grupo CTG no Brasil (com a capacidade de 8 GW), participações conjuntamente detidas com a EDP em três ativos.
No entanto, o “mérito das intenções da oferente acima descritas depende do seu modelo de implementação, o qual não é claro nesta fase”. Para a EDP, “a visibilidade sobre as opções, a execução das intenções e o impacto potencial no perfil de risco e retorno da empresa são limitadas”. Por isso mesmo, “o conselho de administração necessita de mais informações de forma a poder formar uma opinião suportada”.
E reforça: “No que respeita às intenções de contribuição de ativos, o limitado nível de detalhe da proposta da oferente, nomeadamente no que concerne ao mecanismo de implementação, à estrutura de capital e ao calendário da contribuição dos ativos, suscita diversas questões, que não podem ser devidamente abordadas pelo Conselho de Administração com base na informação atualmente disponível”, escreve a elétrica liderada por António Mexia.
Assim, o conselho de administração executivo da EDP diz que “não pode recomendar aos acionistas que vendam as suas ações ao preço atualmente oferecido”, apesar de constatar “que há mérito nas intenções estratégicas” da CTG. Uma posição aprovada por unanimidade que também recebeu a luz verde do conselho geral de supervisão, onde estão representados os maiores acionistas da EDP.
Destacando as incertezas, a administração diz que procura obter mais informação da China Three Gorges, “para estar em condições de formar uma opinião mais fundamentada sobre a qualidade do projeto”. E conclui que os acionistas que tencionem vender as suas ações devem ser adequadamente compensados por permitirem a tomada do controlo da EDP e a implementação do referido plano.