Nunca antes a Islândia tinha participado num Campeonato do Mundo de futebol: numa estreia frente à Argentina, com quem partilha a presença no grupo D, os islandeses estreiam-se e batem logo um recorde: são o país mais pequeno –em tamanho de população — que alguma vez participou num Mundial. São tão poucos que, provavelmente, o selecionador não teve muito trabalho a escolher os 23 jogadores que queria levar para a Rússia: bem feitas as contas, menos de 3% da população podia estar entre as possibilidades do técnico islandês. E apenas 120 dessas possibilidades são futebolistas de profissão.

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O país tem pouco mais que  332 mil pessoas — são precisamente 332.529 –, ou seja, quatro vezes menos que o anterior portador desse feito (Trinidad e Tobago que jogou no Mundial na Alemanha em 2006).

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Se esse número não fosse incrivelmente pequeno — pelo menos a comparar com a dimensão populacional dos outros países que participam neste Mundial — há outros fatores que lhe dão uma talhada ainda maior. Façamos as contas, parcela a parcela: em primeiro lugar, o número de homens: num campeonato dirigido exclusivamente aos futebolistas do sexo masculino, as 165.259 mulheres islandesas têm de ficar fora das contas. Ora, isso diminui as possibilidades do treinador para apenas 167.270 mil homens disponíveis para entrar em campo com a camisola da Islândia.

Desses homens, que já são poucos, nem todos podem servir à seleção da Islândia: só podem participar no Campeonato do Mundo da FIFA os que tenham mais de 18 anos de idade e menos de 35. Portanto, se retirarmos ao número total de homens aqueles que são menores de idade e aqueles que são considerados velhos demais para entrar num grande campeonato do mundo como o Mundial 2018, restam apenas 44.411 possibilidades de convocatória ao selecionador islandês Haimir Hallgrimsson.

Mesmo assim, as contas não terminam aqui. É que nem todos os islandeses têm um corpo suficientemente saudável para representar uma equipa de futebol com os melhores jogadores de um país: se tirarmos da equação os islandeses obesos, o número de possíveis convocados baixam para metade e passam a ser apenas 22.275 homens maiores de idade com menos de 35 anos e com um índice de massa corporal saudável. Depois é preciso tirar aqueles que são cegos (194 islandeses) e os que padecem de algum tipo de doença (7.564 islandeses). E já só vamos em 14.517 pessoas disponíveis.

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Agora é preciso ter em consideração as características especiais da Islândia: é precisar lembrar que este é um país que tem mais vulcões que jogadores profissionais de futebol — são 120 futebolistas contra 126 vulcões –, que tem o dobro das ovelhas do que de habitantes e que tem águas atravessadas por baleias. Portanto, muitos dos habitantes islandeses estão demasiado ocupados a tratar dos vulcões e dos animais para irem jogar à bola para a Rússia. Tendo em conta que na Islândia há 314 pessoas que trabalham na área da sismologia e mais 164 que trabalham na vulcanologia, as possibilidades de Haimir Hallgrimsson diminuem para 14.039 pessoas. Além disso, também há 1.246 pessoas que trabalham com as baleias e outras 3.398 que trabalham com ovelhas: subtrações feitas, já só vamos em 9.395 possíveis futebolistas.

Há outras partes da sociedade islandesa que também ficam automaticamente fora das possibilidades do selecionador. Em primeiro lugar, aqueles que trabalham em serviços de emergência como os hospitais, a polícia ou os bombeiros: são 564 pessoas foram das contas. Em segundo lugar, aqueles que estão presos: 23 pessoas. As possibilidades ficam cada vez menos reduzidas: até agora já só vamos em 8.808 pessoas.

As hipóteses para Haimir Hallgrimsson já estão dramaticamente encolhidas por esta altura: das pouco mais de 332 mil pessoas que compõem a população islandesa, só 8.808 pessoas podem entrar nas contas do selecionador. A este número ainda é preciso tirar os médicos e fisioterapeutas da equipa (que são duas pessoas), os massagistas (que são outras duas pessoas), os que têm a função de gerir a seleção nacional de futebol (que são sete pessoas) e ele próprio, portanto os possíveis convocados já só vão em 8.796 pessoas, das quais praticamente 86% nem sequer são futebolistas profissionais.

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O que vai valendo à Islândia é que mesmo tendo pouco possíveis convocados disponíveis, todos os outros são adeptos ferrenhos da seleção nacional: em ano de estreia para os islandeses no Mundial, 20% da população da Islândia tem bilhete para assistir a pelo menos um jogo da seleção no Mundial da Rússia. Num só jogo, e tendo em conta as estatísticas do Euro 2016, a Islândia pode ter mais de oito mil adeptos nas bancadas (que são menos oito mil com que contar entre os convocados). E provavelmente com o mesmo afinco com que fizeram no Euro 2016 com gritos e coreografias memoráveis para os adeptos de futebol.