Que a seleção brasileira é, ano após ano, uma montra de bons avançados, não é novidade para ninguém. De Pelé a Garrincha, passando por Romário e Bebeto, sem esquecer Ronaldinho, Rivaldo ou o Fenómeno Ronaldo, o Brasil é pródigo em dar ao futebol dos melhores avançados que o Mundo já viu. Neste Mundial, particularmente contra o México, foi Neymar quem mais brilhou, acompanhado por Roberto Firmino e Gabriel Jesus, não ignorando Willian, dos melhores em campo na vitória do ‘escrete’ sobre os ‘tricolores’. Toda uma geração de avançados talentosos que carimbou um registo histórico para o Brasil – 228 golos canarinhos em Mundiais, o melhor ataque de sempre da prova. 

Com um golo e uma assistência, o camisola dez brasileiro jogou e fez jogar, correu, passou, rematou e teve ainda tempo para protagonizar um ‘número de circo’ bem ao seu jeito, quando rebolou e rebolou depois de uma pisadela de Layún (sem intensidade suficiente para tamanha ‘fita’), junto ao banco canarinho. Neymar abriu o marcador aos 51′ e colocou o Brasil no topo de uma lista que, até então, era liderada pela já eliminada Alemanha. Não contente com isso, arrancou pelo flanco esquerdo aos 88′ e serviu o recém-entrado Roberto Firmino para o desvio certeiro que carimbaria o 2-0 e o acesso canarinho aos quartos. Estava estabelecida a vantagem de dois golos sobre o conjunto mexicano na partida e sobre os germânicos na história dos Mundiais – e a tendência será para aumentar com os brasileiros em prova e os alemães no sofá. (Nota: a lista apresentada abaixo foi publicada antes do segundo golo do Brasil).

Mas, se para o registo dos campeonatos do Mundo, o mais importante foi a capacidade ofensiva demonstrada pelo ‘escrete’, para o desfecho da partida talvez tenha sido a estabilidade defensiva o fator mais preponderante. Na realidade, estes oitavos de final podem ter marcado a transição entre uma defesa insegura que sofre sete golos da Alemanha para um setor mais recuado que transmite estabilidade e confiança a quem se encontra no último terço do terreno. 

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Com Thiago Silva e Miranda cativos no eixo defensivo, Tite foi obrigado a fazer alterações constantes nas laterais, mas parece ter encontrado uma fórmula de sucesso. Daniel Alves, titularíssimo na direita da defesa, lesionou-se antes do início do Mundial e foi carta fora do baralho do selecionador nacional; Danilo assumiu o lugar, jogou 90 minutos no encontro frente à Suíça (1-1, único golo sofrido pelo Brasil no Mundial até ao momento), mas lesionou-se de seguida e cedeu o seu lugar ao estreante Fágner. O lateral do Corinthians não tremeu, segurou o posto e ajudou os canarinhos a manterem a baliza inviolável desde a primeira jornada da fase de grupos (vitórias por 2-0 sobre Costa Rica, Sérvia e México). Na esquerda, Marcelo é dono e senhor do lugar. Ou era, até ao encontro com a Sérvia, de onde saiu lesionado e cedeu o seu lugar a Filipe Luís. O lateral do Atlético de Madrid deu continuidade às boas exibições defensivas do Brasil e Tite pode estar satisfeito com o que vê.

Com sete golos marcados e apenas um sofrido, o Brasil aproveita as eliminações precoces de Argentina, Alemanha, Espanha e, porque não, Portugal, para se assumir cada vez mais como o principal candidato à vitória na prova. Para isso, terá de ultrapassar Bélgica ou Japão, nos quartos, e sair triunfante de um provável encontro com a França lá mais para a frente, antes de lutar pelo hexa. Por enquanto, Tite pode agarrar-se a um ataque historicamente demolidor, uma defesa cada vez mais segura e um registo importante: a última vez que o Brasil chegou aos quartos de final de um Mundial sem perder qualquer partida, foi campeão. Em 2002, houve penta; para já, o Brasil tenta.