Os chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do Centro Hospitalar de Lisboa Central apresentaram esta sexta-feira a demissão por considerarem que as condições da urgência não têm níveis de segurança aceitáveis, disse à Lusa fonte sindical.

Contactada pelo Observador, fonte oficial do Centro Hospitalar de Lisboa Central confirmou a receção da carta de demissão e disse reconhecer que, no “essencial”, as queixas dos profissionais “são legítimas”. A mesma fonte explicou que o centro hospitalar “está a procurar soluções” para responder às queixas, mas não adiantou mais detalhes sobre a situação concreta.

Segundo explicou o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos ao Observador, são 12 os médicos que apresentaram a demissão, mas que terão de se manter em funções até serem substituídos.

A agência Lusa teve acesso à carta que contém o pedido de demissão destes chefes de equipa do Centro Hospitalar de Lisboa Central, que integra o São José, tendo o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) confirmado que o documento foi entregue à administração.

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Na carta, os profissionais apontam para a consecutiva degradação da assistência médica prestada no serviço de urgência do Hospital São José, considerando que se chegou a uma “situação de emergência” que impõe “um plano de catástrofe”.

O secretário-geral do SIM, Jorge Roque Cunha, explicou ao Observador que no Centro Hospitalar de Lisboa Central há um “acumular de um conjunto de situações” ao longo dos últimos meses que podem inclusivamente levar a “eventual perigo”, e deu exemplos.

“Estas situações têm a ver, sobretudo, com falta de gente, falta de médicos, e com a própria estrutura etária de quem faz urgência, que é bastante alta”, explicou Jorge Roque Cunha, sublinhando que existem muitos médicos com mais de 55 anos naqueles serviços.

“Esse esforço não é reconhecido pelo Conselho de Administração”, que está “mais interessado em agradar à tutela”.

Concretamente, “o Conselho de Administração recusa fazer o pagamento às horas noturnas corretamente”, explicou o líder sindical. “Há uma fórmula de pagamento. As horas noturnas acabam às 8h da manhã, e eles reiteradamente só pagam até às 7h, considerando a última hora noturna como a primeira hora matinal”, explicou Jorge Roque Cunha, destacando que este é um exemplo mais significativo “pelo princípio praticado” do que pelo dinheiro em si.

Este “acumular de situações” e a “falta de princípios” são o enquadramento da carta que foi entregue esta sexta-feira à administração do hospital.

A entrega da carta é aplaudida pelo líder do sindicato, que saúda que “finalmente” se tenha decidido “tomar uma atitude” no hospital.

Estas demissões seguem-se ao fecho de três salas de parto na Maternidade Alfredo da Costa devido à falta de pessoal para suprir a passagem às 35 horas de trabalho, um caso denunciado esta sexta-feira pela Bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Maternidade Alfredo da Costa encerra três salas de parto por falta de profissionais. Administração nega impacto das 35 horas