“Por favor, responda a esta instrução até às 18h00 de quarta-feira, 18 de julho”. A instrução é clara: informar a companhia aérea irlandesa se vão ou não aderir à greve agendada para os dias 25 e 26 de julho. A Ryanair enviou esta terça-feira um email aos tripulantes de cabine da companhia aérea para perceber a intenção dos funcionários, incentivando-os a apresentarem-se ao trabalho.

No email a que o Observador teve acesso, é pedido aos tripulantes que selecionem uma de três opções:

  1. “Estou escalado para trabalhar no dia 25 e/ou 26 de julho e vou apresentar-me para trabalhar, como normal“;
  2. “Estou escalado para trabalhar no dia 25 e/ou 26 de julho mas não vou apresentar-me para trabalhar uma vez que tenho intenções de fazer greve”;
  3. “Não estou escalado para trabalhar no dia 25 e/ou 26 de julho mas quero voluntariar-me para trabalhar para minimizar a perturbação para os nossos clientes e para os meus colegas”.

A companhia aérea irlandesa informou ainda os tripulantes de cabine que tinham até às 18h00 desta quarta-feira para responder:

Se não responder, irá receber um email pessoal, na quinta-feira, a pedir-lhe que responda”, pode ler-se no email a que o Observador teve acesso.

A companhia aérea explica que precisa de “planear que serviços vão estar a operar no dia 25 e/ou 26 de julho” e, por isso, “saber quem vai estar presente ou voluntariar-se para trabalhar nesses dias”, para que possam “maximizar o número de voos de e para Portugal”.

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“Vão ouvir falsas informações do sindicato a dizer que trabalhar durante a greve é ilegal. Não é”

Os números são colocados em cima da mesa. Isto é, no email. Quem aderir à greve não será pago e “irá ainda perder o bónus de produtividade de junho no valor de 150 euros“, avisa a Ryanair, destacando que o prejuízo para os trabalhadores que adiram à greve podem ir dos 360 aos 480 euros.

Logo no início do email, a companhia aérea irlandesa revela aos tripulantes algumas informações que considerou relevantes. Que têm vindo a “ser contactados por várias tripulações nas bases portuguesas que desejam trabalhar” durante a greve. Que “não há obrigação” de fazer greve e os trabalhadores são “livres de trabalhar se assim desejarem”. E que, com base na “experiência de recentes greves em Portugal e na Irlanda”, a “maioria” dos trabalhadores veio trabalhar.

“Vão ouvir falsas informações do sindicato a dizer que trabalhar durante a greve é ilegal. Não é. Podem vir trabalhar durante os dias de greve e os tripulantes de cabine que o decidirem fazer terão todo o apoio da Ryanair”, lê-se no email.

Esta não é a primeira vez que a Ryanair recorre a voluntários durante a greve. Foi a própria companhia aérea a admiti-lo, aquando da greve que aconteceu em Portugal durante três dias: 31 de março a 2 de abril. “Agradecemos a todos os que trabalharam na última quinta-feira, o vosso apoio é muito apreciado. Durante a greve portuguesa, muitas das nossas tripulações chamadas ao dever, juntamente com alguns voluntários extra e rotações vindas de bases não portuguesas, [fizeram] com que provocássemos apenas pequenas perturbações nos nossos voos e aos clientes”, disse a companhia aérea na altura em comunicado. A Autoridade para as Condições de Trabalho avançou mesmo com uma ação inspetiva devido a estas irregularidades.

Autoridade para as Condições de Trabalho investiga irregularidades na greve na Ryanair

Ryanair garante “proteção legal” em caso de “ameaças dos sindicatos”

A companhia aérea garante a todos os tripulantes que decidam vir trabalhar uma “proteção legal” caso existam “falsas ameaças de ações legais por parte dos sindicatos”.  A Ryanair apela ainda a que os sindicatos respeitem o “direito” dos tripulantes de “trabalhar se assim desejarem”.

Se receberam chamadas não desejadas, mensagens, mensagens no WhatsApp, Facebook ou qualquer outra rede social que sinta que é ameaçadora ou intimidante, por favor avisem-nos imediatamente”, aconselha a companhia aérea no email.

Considerando a greve “desnecessária” — quer no email, quer no comunicado que a companhia aérea publicou no site –, a Ryanair acusa o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) de “recusar” os 21 convites por parte da companhia aérea para “discutir assuntos que estão relacionados diretamente com os tripulantes de cabine”. Ainda assim, a Ryanair mostra-se ainda “aberta” para uma reunião.

Contactada pelo Observador, fonte da Ryanair confirmou que o email foi enviado aos colaboradores: “Podemos perguntar aos nossos colaboradores se estes pretendem trabalhar nos turnos que lhe foram atribuídos, do mesmo modo que eles podem decidir se respondem ou não. Temos o direito de procurar respostas (a questões razoáveis) dos nossos colaboradores”. A mesma fonte garantiu que “ninguém pode ser, nem será, castigado ou vitimizado por aderir a uma greve, do mesmo modo que os sindicatos não podem ameaçar,  intimidar e transmitir informação incorreta a todos os que não desejam aderir à greve, pretendendo trabalhar conforme estava previsto.”

Os sindicatos parecem não importar-se com os nossos clientes nem com os empregos dos nossos colaboradores. Procuramos simplesmente compreender quem irá trabalhar na quarta e quinta-feira da próxima semana de forma a minimizar o impacto para os nossos clientes e suas famílias”, disse ainda a mesma fonte ao Observador.

Não estão assegurados serviços mínimos para a greve agendada para os dias 25 e 26 de julho. A paralisação deverá acontecer em território nacional e também na Bélgica, Itália e Espanha. Num comunicado publicado no site, a Ryanair prevê que sejam cancelados até 600 voos, em toda a Europa, e que 50 mil passageiros sejam afetados. Em causa estão direitos dos trabalhadores que os próprios defendem que não estão a ser cumpridos. Os tripulantes pedem que a companhia reconheça os representantes sindicais eleitos, que pretendem negociar um acordo coletivo de trabalho.

[artigo atualizado às 11h37 de dia 20 de julho com resposta oficial da Ryanair]