A 12 de outubro de 1999, Pedro Pauleta representava o Deportivo da Corunha num embate frente ao Maiorca, a contar para o Campeonato espanhol. O duelo terminaria empatado a duas bolas, com os golos dos galegos a serem apontados pelo ponta de lança açoriano, que representou a equipa espanhola durante duas épocas, nas quais apontou 21 golos. Nesse mesmo dia, em pleno Alentejo, nascia Pedro Correia, filho de Juary, defesa que passou por clubes modestos do interior do país, e primo de Vítor Martelo, onde foi buscar a alcunha pelo qual viria a ser conhecido no mundo do futebol: Pedro Martelo. Em comum para além do nome próprio, Martelo e Pauleta têm a posição e o clube. Aos 18 anos, o jovem ponta de lança português segue as pisadas do ciclone dos Açores no Deportivo da Corunha, onde em boa hora chegou para brilhar e conquistar um lugar nos eleitos de Hélio Sousa para o Europeu de Sub-19. Pedro Correia foi o autor do quarto e decisivo golo da formação portuguesa na final frente à Itália, tendo ainda assistido João Filipe para o terceiro. 

Os primeiros passos no futebol foram dados em Évora, no Lusitano. No clube da terra jogou entre 2007 e 2012, dando nas vistas por terras alentejanas. Chamou atenção suficiente para se mudar para o Seixal, onde tinha o Benfica à sua espera. Chega à formação encarnada ainda em 2012, onde integra a equipa B de iniciados juntamente com João Filipe, Florentino Luís, David Carmo ou João Virgínia, todos da geração de 1999, todos campeões europeus no passado domingo. Nessa época, Pedro Martelo e companhia limparam o campeonato distrital de iniciados, arrecadando o primeiro título para os seus currículos individuais.

Aos 109′, Pedro Correia recebeu a bola no interior da área, virou-se e apontou o golo que decidiria uma final de loucos e daria o título de campeão europeu a Portugal (Créditos: Getty Images)

Na segunda época de águia ao peito, o segundo título e o primeiro encontro com jovens que, mais tarde, se viriam a reunir novamente na Seleção comandada por Hélio Sousa: aos elementos que transitaram dos iniciados B, juntaram-se Nuno Santos, Mésaque Djú e José Gomes, todos eles campeões europeus na Finlândia. Em 2013/14, o Benfica de Pedro Martelo viria a conquistar o campeonato nacional de iniciados, com o jovem avançado a faturar 21 golos em 23 partidas, assumindo-se como uma peça importante na conquista encarnada. Aí, conheceu o treinador que mais o marcou. “O Luís Nascimento era o treinador dos iniciados e, apesar de nem sempre ter jogado, marcou-me porque sabia puxar por mim e gostava muito do trabalho dele. Pedia que déssemos tudo e aprendíamos o que devíamos melhorar”, confessa Pedro Martelo, em declarações ao jornal O Jogo.

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Com 1,90 metros, Pedro é o típico ponta de lança de área com um trabalho de pés apurado. “Sou um avançado com bom físico que ajuda muito a equipa quando esta não tem bola. Esse é o meu papel, para além de marcar golos”, conta o português ao site MarcadorInt. E golos foi o que apontou em 2015/16. Foram 11, para ser mais preciso, em 22 jogos pela equipa juvenil do Benfica, naquela que viria a ser a última época com a camisola encarnada. Tal como Pauleta, também Pedro Martelo optou por desenvolver a sua carreira fora de Portugal, procurando no estrangeiro as portas que pareciam não se abrir em território nacional. E, tal como o açoriano, o destino foi o país vizinho.

Se Pauleta trocou, em 1996/97, o Estoril pelo Salamanca antes de seguir viagem para a Corunha, Pedro Martelo foi direto do Seixal para o Deportivo, onde chegou no verão de 2016. Aí, falou pela primeira vez das semelhanças com Pauleta: “É um grande exemplo para mim, por tudo aquilo que fez no futebol. Temos estilos de jogo diferentes, mas destaco o Pauleta como uma referência. Para as pessoas do Deportivo, será sempre um jogador importante”, referia o jovem.

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Pedro Martelo confessa ter saído “triste” de Portugal, mas acaba por ver o ingresso no Deportivo como um ponto preponderante para o sucesso que tem alcançado. “No Benfica não estava a ter a continuidade quer queria. O Deportivo surgiu como um grande projeto. Não me arrependo da opção que tomei”, explicou, acrescentando que não era fácil lidar com o facto de marcar golos regularmente mas, mesmo assim, não ser primeira opção. À sua frente, nos encarnados, tinha José Gomes, avançado que também foi o habitual titular da Seleção Nacional durante o Europeu. Os dois pontas de lança reencontraram-se nos Sub-19 portugueses, muito graças ao caminho seguido por Pedro Martelo. “Foi quando saí de Portugal que comecei a ir à Seleção. Por mais estranho que pareça, foi aí que me começaram a dar valor para a equipa nacional“, confessa o jovem.

Na primeira época na Corunha, divide-se entre a formação de juniores (ainda com idade de juvenil) e a equipa B espanhola. Tem um problema físico (a perna esquerda é um pouco maior do que a direita, o que lhe causa dores) nos primeiros tempos, mas consegue recuperar e conquista um lugar na formação secundária do Deportivo, onde acaba por vencer o título da terceira divisão espanhola. Ao serviço dos juniores, vai somando golos e recuperando a boa forma, não sem passar por uma expulsão caricata: “Fui expulso num jogo em casa contra o Gijón, em que ganhámos por 2-1. Marquei o primeiro golo e fui expulso aos 85′ porque o árbitro entendeu que simulava faltas. Sou grande e por norma sou marcado por jogadores mais pequenos. Sofri dez entradas duras nesse jogo e numa das jogadas que vi amarelo seria vermelho para o meu adversário”, conta o jovem.

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Os golos apontados e a chegada à equipa B do Deportivo revelam-se motivos suficientes para Hélio Sousa o chamar à Seleção. Estreia-se a 21 de Fevereiro deste ano, num particular frente à Hungria. Esteve em Toulon, onde realizou três jogos e apontou um golo, tendo feito dois jogos na fase de qualificação para o Europeu da Finlândia, com um golo assinado. Chegado ao Campeonato da Europa, contava seis internacionalizações no escalão de Sub-19 e integrava um plantel composto por elementos de uma geração que, dois anos antes, tinha sido campeã europeia de Sub-17. “É muito importante para mim. É uma geração muito boa, com muita qualidade. Venho para ajudar esta equipa no que puder”, explicava à chegada à Finlândia.

Mas nem Pedro Correia, nos seus melhores sonhos, deveria imaginar a ajuda que viria a dar a Portugal. Depois de uma fase de grupos onde não jogou, o avançado do Deportivo foi titular na meia final contra a Ucrânia, por indisponibilidade física de José Gomes, habitual titular. O jovem alentejano não desperdiçou a oportunidade e apontou um dos cinco golos com que os portugueses afastaram os ucranianos da prova e carimbaram a presença na final. Nesse derradeiro jogo, o melhor estava guardado para o fim: Pedro Correia entrou aos 101 minutos, assistiu João Filipe para o terceiro golo nacional, aos 104′, e apontou o golo vitorioso aos 109′, tornando-se no herói de um título que há demasiado tempo fugia a Portugal. 

Portugal é campeão da Europa de Sub-19 ao vencer a Itália por 4-3 em final de loucos

Na Seleção, Pedro Martelo encontrou a referência Pedro Pauleta como diretor das seleções nacionais de formação; no Deportivo, pretende seguir-lhe as pisadas e conquistar um lugar na equipa principal dos espanhóis. Na temporada passada, contou seis jogos pela formação secundária e, antes de viajar para a Finlândia com a Seleção Nacional, estava integrado na pré-temporada dos galegos. Como afirmou no seu Instagram, no momento em que trocou o Seixal por Espanha, o ingresso no Corunha tinha como intenção “alcançar o objetivo principal que é chegar ao futebol profissional”. Com o estatuto de herói nacional, Pedro Martelo Correia não deverá estar longe realizar a sua estreia no principal campeonato espanhol.