O anúncio da candidatura de José Maria Ricciardi à presidência do Sporting não foi propriamente uma surpresa. Na passada sexta-feira, por exemplo, já havia pelo menos dois candidatos na posse desse “rumor” que se ia propagando pelo universo verde e branco com pelo menos dois nomes que teriam sido convidados para fazer parte dos órgãos sociais; no dia seguinte, falava-se de uma possibilidade muito forte para ficar com a parte mais desportiva da SAD. No domingo, o banqueiro assumiu por fim a ideia e quis avançar com uma entrevista em exclusivo à CMTV que acabou por marcar o arranque da sua campanha (e na próxima quarta-feira irá anunciar no Centro Cultural de Belém a lista que irá apresentar nas eleições).

José Maria Ricciardi avança para a presidência do Sporting

Ricciardi não se furtou a nada, nem sequer a comentar a denominação de “croquete” tantas vezes ouvida em relação a uma franja de adeptos, sócios ou antigos dirigentes. A certa altura da conversa, e explicando o porquê de ter apoiado Bruno de Carvalho em determinada fase, deixou uma das frases fortes da entrevista. “Nunca pertenci a nenhuma Direção, nunca tive cargos e nunca fui presidente sombra. Nunca me intrometi em decisões internas no clube. Se acham que era um presidente sombra, agora passarei a ser às claras”, destacou o banqueiro que foi vogal do Conselho Fiscal entre 1995 e 2002 (nas presidências de Santana Lopes, José Roquette e Dias da Cunha), vice do mesmo órgão entre 2002 e 2013, quando lideravam o Conselho Diretivo Dias da Cunha, Soares Franco, José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes e membro do Conselho Leonino entre 2011 e 2018.

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José Maria Ricciardi: “Estou-me nas tintas para que me achem um croquete”

Esta noite, o antigo líder do BESI e do Haitong passou pela SIC Notícias para explanar um pouco mais as ideias que tem para os leões caso seja eleito, ao mesmo tempo que apresentou algumas formas para superar a necessidade das receitas extraordinárias para atingir resultados positivos na diferença entre ganhos e custos no final dos exercícios da SAD.

“O que aconteceu está a ser parcialmente resolvido mas terá as suas consequências. Não só o Sporting mas também o próprio futebol português, que terá de mudar para ser mais competitivo, olhando por exemplo para o caso da Liga dos Campeões. Há problemas que retiram receita, credibilidade e reputação. Profissionalmente não podia exercer cargos de Direção até agora mas tentei ajudar sempre todos os elencos. Presidente sombra? Isso é uma fantasia, foi uma invenção daquelas que pegam… Aliás, um dos problemas do Sporting são as fações e concordo que às vezes um dos problemas do Sporting é o próprio Sporting”, começou por referir, destacando que existem seis e não oito candidaturas além da sua “porque duas não existem”, deixando de fora a possibilidade do antigo líder Bruno de Carvalho e de Carlos Vieira poderem concorrer no próximo sufrágio.

“Fui considerado o maior banqueiro europeu por uma das principais revistas da área em 2016 e o que se passou com o BES foi em 2014. A minha responsabilidade era o BES Investimento, que trouxe muitos investimentos, foi o melhor. Nunca teve problemas, foi uma das maiores alienações que o Novo Banco fez. Não estou nada preocupado com isso”, salientou, antes de explicar o porquê de deixar os antigos dirigentes de fora: “Já não é tempo para falar de Bruno de Carvalho, a Assembleia Geral que o destituiu com 72% devido a coisas graves disse tudo. Sempre tentei ajudar todos os presidentes. Serem minhas marionetas? Isso é ridículo, é falso. Em 2013 não estive nem com Bruno de Carvalho nem com José Couceiro. Tinha características especiais mas estava a fazer um bom trabalho. O momento de cisão foi depois do que se passou em Madrid [no jogo com o Atlético], embora visse alguns sinais depois da sua reeleição. Mas isso agora é um assunto encerrado, não devemos falar mais disso”.

As oito frases chave de José Maria Ricciardi: o pedido de demissão, a retirada de apoio e a candidatura à presidência do Sporting

“Como é a vontade dos sócios, já dei a garantia que se for eleito irei manter a maioria da SAD. O Sporting tem uma característica que é a seguinte: não consegue ter receitas operacionais superiores aos custos de exploração e só chega ao lucro com a venda de jogadores, que são as tais receitas extraordinárias. Por isso, defendo um modelo como o alemão e para isso é necessário subir as receitas operacionais de todos os clubes”, frisou a esse propósito.

Depois de reforçar o papel da Academia e da formação do clube na equipa principal de futebol, também a propósito da recente conquista do Campeonato da Europa Sub-19 pela Seleção Nacional, Ricciardi tocou ainda num plano mais institucional para defender uma posição diferente dos leões perante os rivais e o próprio futebol português. “É tempo do Sporting fazer parte da pacificação do futebol para que se acabem as guerras e insultos, que para mim é algo incompreensível e que afeta não só as receitas mas a própria credibilidade do futebol. Relações com Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa? Quero ter relações corretas, sérias, defendendo o Sporting nas quatro linhas mas não nesta triste figura dos últimos tempos”, concluiu.