A notícia foi avançada na quarta-feira pelo Dinheiro Vivo: Marine Le Pen, líder do partido francês Frente Nacional, iria participar como oradora na edição de 2018 da Web Summit, juntamente com nomes como o comissário europeu Carlos Moedas, o ativista e antigo campeão de xadrez Garry Kasparov ou o futebolista Ronaldinho. Isso mesmo constava, na altura, da lista de oradores convidados disponível no site do evento que se realizará de 5 a 8 de novembro.
Contudo, quem consultasse a mesma página ao longo da tarde deste sábado, já não encontrava a fotografia nem o nome de Le Pen — facto que o próprio jornal acabaria por confirmar junto da organização, sem ter obtido uma explicação para o sucedido. O Observador tentou igualmente contactar um responsável pela comunicação do evento, não tendo ainda obtido qualquer esclarecimento.
O misterioso desaparecimento de Marine Le Pen da lista de oradores acontece depois de terem surgido várias críticas à presença da líder do partido de extrema-direita francês — que alterou recentemente o seu nome para União Nacional — no evento. O deputado do Partido Socialista João Galamba foi uma das vozes mais ativas contra a vinda da deputada francesa, escrevendo no Twitter que o convite a Le Pen equivale a uma “normalização de fascistas” que “já ultrapassa em muito o aceitável”.
Não se juntam, não, que a gente não aceita. Normalização de fascistas já ultrapassa em muito o aceitável. https://t.co/QHyphSICIK
— Joao Galamba (@Joaogalamba) August 11, 2018
Ao Diário de Notícias, o deputado explicou porque se manifestou contra o convite a Le Pen: “Não me parece bem que num evento ainda por cima com dinheiros públicos numa cidade como Lisboa que se apresenta como uma cidade aberta ao mundo e tolerante tenha como convidados de honra e oradores líderes políticos de extrema direita. Não me parece que seja compatível com o espírito do evento. E acho bem que as pessoas, os cidadãos a nível individual, se manifestem”, afirmou.
Também o antigo eurodeputado Rui Tavares se pronunciou sobre a vinda da líder da Frente Nacional, instando a Câmara Municipal de Lisboa a reagir a esta “tentativa de lá dar palco a uma das maiores representantes de xenofobia e do fechamento”.
Há dois anos, a @CamaraLisboa celebrou a @WebSummit como um exemplo da Lisboa que fazia “pontes, e não muros”. Hoje a cidade não pode ficar quieta perante a tentativa de lá dar palco a uma das maiores representantes da xenofobia e do fechamento. Cc @FMedina_PCML https://t.co/F5Rzf1t9jI
— rui tavares (@ruitavares) August 11, 2018
O tema também serviu para o dirigente do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza lançar uma alfinetada ao primeiro-ministro, António Costa. “Tenho cá um palpite de que António Costa vai pregar de forma violenta uma moralzinha sobre a presença de Le Pen no websummit. Depois irá à sessão de abertura do dito. Pecadilhos…”, escreveu o bloquista no Twitter.
https://twitter.com/jmpureza/status/1028287163455217666
A Web Summit é o maior evento de start ups e tecnologia a realizar-se em Portugal. Começou em Dublin e desde 2016 que se realiza em Lisboa, com a participação de mais de 200 oradores. Entre os convidados da edição do ano passado estiveram também presentes o antigo líder do partido nacionalista britânico UKIP, Nigel Farage, e Brad Parscale, diretor da campanha digital de Donald Trump.