Shame

19h40, palco Vodafone

Atento ao presente, o festival de Paredes de Coura dedica sempre parte do cartaz a músicos e bandas emergentes, que estão prestes a afirmar-se. É o caso dos britânicos Shame, cinco rapazes do sul de Londres que aprenderam bem as lições do rock e do pós-punk, começaram a ensaiar canções num pub de Brixton (The Queens Head) e depois de vários singles e EP, editaram este ano o álbum de estreia, Songs of Praise. Reconhecido no Reino Unido e lançado numa editora norte-americana, a Dead Oceans, está agora a ser descoberto em palco um pouco por toda a Europa. A fórmula é deliciosamente simples: pulsão rítmica forte, nervo típico do rock britânico, sotaque a preceito e canções simples, sem grandes ornamentos, rock and roll. Talvez seja daqueles concertos marcantes para recordar daqui a 13 anos: “Foi ali que vimos os Shame pela primeira vez, lembram-se?”.

Japanese Breakfast

20h30, palco Vodafone FM

Michelle Zauner é coreana mas não se espere ouvir aqui k-pop ou música para adolescentes. Bem pelo contrário, a música de Zauner a solo, editada com o nome Japanese Breakfast (face à exposição que teve à cultura japonesa, quando vivia já nos Estados Unidos da América), é densa. O revestimento dos sintetizadores e da dream-pop enganam, porque as letras são duras, refletem o luto de Zauner, que perdeu a mãe (morreu de cancro da mama há alguns anos) e usou a música como terapia. Com dois álbuns em carteira, Psychopomp (2016) e Soft Sounds From Another Planet (2018),  pode ser uma das revelações do palco secundário do festival de Paredes de Coura.

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The Legendary Tigerman

21h20, palco Vodafone

A aposta no rock português prossegue. Depois de um dia de arranque com concerto dos Linda Martini, esta quinta-feira é Paulo Furtado, isto é, The Legendary Tigerman, a subir ao palco principal do festival. Também ele tem carreira longa no rock português, embora a inspiração musical venha de terras norte-americanas, berço do rhythm and blues e do rock and roll endiabrado. Em Paredes de Coura, o homem-tigre apresentará o seu mais recente álbum, Misfit, gravado nos famosos estúdios Rancho De La Luna, em Joshua Tree, California. Da paisagem do deserto ouvem-se algumas influências do desert blues, com riffs de guitarra serpenteantes a equilibrar a intensidade de outras canções. É possível que o grito de ordem “rock and roll” seja entoado muitas vezes, é possível que o público seja chamado a responder, é difícil prever como será o concerto porque para Paulo Furtado um concerto rock só tem sentido se ninguém souber como acaba, se tudo puder acontecer.

Surma

22h20, palco Vodafone FM

Depois de uma passagem pelo discreto palco coreto do festival NOS Alive e pelo festival Bons Sons, eis que a leiriense Débora Umbelino, que na música responde pelo nome de Surma, chega a Paredes de Coura para atuar num palco à medida do seu talento, eis que se apresenta a um público que entenderá como poucos o universo indie em que ela se move. Se as primeiras canções colocaram-na no radar do público e dos promotores de concertos, o álbum de estreia Antwerpen, editado no ano passado, confirmou o talento singular, levou Surma a digressões pelo mundo, com concertos em muitos países, do Brasil à Islândia, dos Estados Unidos da América (no festival South by Southwest) à Itália. Agora, as canções de pop experimental, de letras indecifráveis, tons eletrónicos e encanto muito próprio, chegam a Paredes de Coura no momento certo. Absolutamente imperdível.

Fleet Foxes

23h15, palco Vodafone

O impacto não é o mesmo de cabeças de cartaz recentes, de uns Tame Impala que ainda não tinham apresentado Currents em Portugal a uns LCD Soundsystem que tinham acabado de voltar atrás na decisão de terminar como banda, tomada alguns anos antes (há seis que não tocavam em Portugal). Afinal, alguns dos maiores fãs nacionais dos Fleet Foxes e alguns do que estarão esta quinta-feira em Paredes de Coura já os viram apresentar Crack-Up, o álbum mais recente, num festival lisboeta, no ano passado. Ainda assim, o concerto será único e é fácil explicar porquê. Quem os viu nesse festival, percebeu que não é fácil à banda transpor uma discografia imaculada (três álbuns de grande nível) para palco. É preciso silêncio do público, é preciso que haja química entre o grupo de Robin Pecknold (guitarrista e vocalista) e a plateia, porque a folk íntima dos Fleet Foxes vive muito dos silêncios e das harmonias de voz. A paisagem natural do Paredes de Coura, belíssima, dará o ambiente certo àquela música meio campestre, de quem se refugia nas montanhas para não ouvir o ruído do mundo. O alinhamento, esse só poderá ser superlativo, até porque três discos de tão grande gabarito permitem um concerto imaculado. Em suma, será bonito.

Jungle

Palco Vodafone, 0h45

Pelos singles já lançados, o segundo álbum dos britânicos Jungle não deixa água na boca, parece soar à estreia mas já sem o efeito novidade. Só sai em setembro e ainda bem, já que assim o concerto da banda em Paredes de Coura deverá centrar-se no disco de estreia, homónimo e lançado em 2014. O funk-soul eletrónico dos Jungle foi ligeiramente sobrevalorizado na Europa (nos Estados Unidos, não teve o mesmo impacto), mas apela o suficiente ao corpo para se tornar imperdível à uma da manhã. Não é para pensar, é para dançar.