Há aquele velho chavão do futebol que nos diz que todos os jogos valem três os mesmos três pontos — como que tentando desvalorizar o peso relativo de umas partidas em relação às outras. Mas quem acompanha o desporto-rei sabe que não é bem assim e José Peseiro deixou soltar essa ideia, muito ao de leve, na antevisão do duelo com o Feirense. “Há sempre momentos importantes e este é um momento muito importante para nós”.

Frente ao Feirense, que se apresentou em Alvalade com a melhor defesa da prova (apenas um golo sofrido contra os três dos leões) e no mesmo grupo de segundos classificados onde também estava o Sporting e o Benfica, a formação de José Peseiro tinha a oportunidade, além, claro, de somar os três pontos (dando continuidade a um registo de 24 jogos sem perder para as competições nacionais em Alvalade), de esclarecer um tira-teimas: será que o verdadeiro Sporting é o das duas primeiras jornadas, aquele que revelou dificuldades evidentes em ligar o seu futebol, que estava (demasiado) dependente dos corredores laterais e das bolas longas e também com dificuldades lá atrás, a abrir crateras entre as linhas média e defensiva? Ou será que é aquele que empatou na Luz, que conseguiu pressionar alto e condicionar a saída de bola do Benfica, com os setores mais ligados e com um meio-campo a revelar, pela primeira vez, acerto posicional e capacidade de transporte?

A pergunta surgia neste jogo. Um jogo colocado no calendário a uma exata semana das eleições do clube — e que também por isso escapava à aritmética simples dos três pontos. E José Peseiro quis responder ao tira-teimas de forma clara: repetindo o mesmo onze que empatou na Luz (um resultado que o próprio técnico leonino viria depois a considerar positivo atendendo às circunstâncias da partida). Afinal, em equipa que ganh… empata não se mexe.

À terceira foi de vez — e depois de testar Misic e Petrovic ao lado de Battaglia, Peseiro rendeu-se a Acuña no corredor central. O argentino tem-se revelado um autêntico faz-tudo: já foi extremo, já foi lateral, agora mora no miolo. E com o Benfica muito acrescentou a essa zona do terreno: mais músculo, mais transporte de jogo e também prontidão no remate. Com o Feirense, foi dos pés do número 9 que saiu a primeira oportunidade para o Sporting: depois de um remate de Nani, bloqueado por Edson Farias, a bola sobrou para os pés do argentino, que obrigou o guardião Caio Secco a uma defesa apertada.

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Ficha de Jogo

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Sporting-Feirense, 1-0

4.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade

Árbitro: Rui Oliveira

Sporting: Salin: Ristovski, Coates, André Pinto e Jefferson (Jovane, 66′); Battaglia e Acuña; Raphinha, Bruno Fernandes e Nani (Petrovic, 90′); Montero.

Suplentes não utilizados: Renan, Diaby, Bruno Gaspar e Gudelj.

Treinador: José Peseiro

Feirense: Caio Secco; Edson Farias, Nascimento, Briseño e Vítor Bruno; Tiago Silva, Cris e Crivellaro (Alphonse, 78′); Sturgeon, Edinho (João Silva, 83′) e Luís Machado.

Suplentes não utilizados: Brígido, Tiago Gomes, Mesquita, Zé Pedro e Tavares.

Treinador: Nuno Manta Santos

Golos: Jovane Cabral (88′)

Ação disciplinar: Cartão amarelo a Luís Machado (36′), Crivellaro (49′), Ristovski (62′), Caio Secco (77′), Bruno Nascimento (78′), Bruno Fernandes (85′), Vítor Bruno (87′), Jovane Cabral (89′) e Edson Farias (90′)

 

 

 

O Feirense mostrava uma desorganização defensiva que não evidenciou nos três primeiros encontros e o Sporting foi aproveitando: quatro remates nos primeiros três minutos de jogo. Nani foi o senhor que se seguiu a criar perigo. Caio Secco estava desatento e perdeu a bola em zona proibida, ela sobrou para Bruno Fernandes, que a meteu direitinha na cabeça no número 17 — as medidas do remate é que saíram ao lado.

O Sporting estava por cima, muito eficaz a provocar o erro na saída de bola fogaceira, com boa dinâmica. A coisa prometia, mas depois houve aquele lance de Edinho. O avançado do Feirense — velho conhecido dos leões e não pelos melhores motivos –, atirou à trave na sequência de um lance direto (16′). E, mais ou menos a partir desse momento, o Sporting passou a mostrar uma nova face: baixou o rendimento, falhou as ligações de jogo, sobraram as bolas bombeadas lá para a frente, que se tornavam mais fáceis de anular por parte dos rivais.

Bruno Fernalndes era aquele artista invisível que, longe de ser o protagonista que foi, por exemplo, frente ao Moreirense (tendo estado mais apagado contra V. Setúbal e Benfica), estava lá presente em quase todas as ações do jogo: à meia hora, seis das dez finalizações leoninas passavam pelos pés do camisola oito — que antes do encontro recebeu o prémio de melhor jogador do mês de agosto atribuído pelo CNID.

Mas foi pelas botas de Montero que o Sporting criou mais perigo na reta final. O colombiano esteve ativo, correu para um lado, para o outro, tentou colar o jogo leonino e quase marcou por duas vezes: primeiro, num disparo à entrada da área que saiu ao lado (32′), depois num remate em arco depois de uma simulação na área fogaceira (41′), que permitiu a defesa a Caio Secco (a dois tempos, já que Raphinha ainda tentou a recarga).

No regresso do intervalo, permanecia a mesma evidência: o jogo do Sporting precisava de um abanão. Era preciso alguém que o agitasse. Era preciso Jovane Cabral. Assim pensou José Peseiro, que cedo se apressou a tirar Jefferson, fazendo recuar Acuña para lateral esquerdo — o argentino não foi tão eficaz a transportar o jogo leonino como havia sido na Luz e acabava por só criar perigo quando descaía para as alas. Bruno Fernandes recuou para mais perto de Battaglia, Nani aproximou-se de Montero e Jovane passou a desarrumar a casa fogaceira pelos corredores.

O ‘leãozinho’ mexeu de imediato com o jogo dos leões, trazendo a imprevisibilidade, a acutilância e as pilhas que o caracterizam. Logo tratou de testar os reflexos de Caio Secco com um remate forte à entrada da área (72′), que terminou na figura do guarda-redes brasileiro. O guardião dos fogaceiros quase se tornou o herói do jogo e travou tudo o que lhe parava no raio de ação das luvas: foi assim com o cabeceamento de Battaglia depois do canto apontado por Bruno Fernandes à direita (73′); foi assim no remate de meia distância de Nani, um minuto depois; foi assim quando, ato contínuo, André Pinto se apanhou isolado na cara do golo.

Não havia como furar a muralha liderada por um guarda-redes que queria deixar o leão a Secco, mas o menino Jovane mostrou como se faz. Já ao cair do pano (88′), deu a melhor sequência a uma boa jogada de entendimento pela direita: Raphinha rasgou pela ala, combinou para a entrada de Ristovski e o camisola 77 só teve de encostar para o primeiro jogo com a camisola principal do Sporting. O Feirense sofreu o segundo golo na prova — o primeiro de bola corrida — e a formação de José Peseiro já está lá na frente (a par do Sp. Braga), a colocar pressão a FC Porto e Benfica, que só entram em campo este domingo.