Parecia um domingo normal, com as visitas a decorrerem até às 17 horas como previsto. O que não estava previsto era que um incêndio deflagrasse cerca de duas horas e meia depois e destruísse quase completamente 20 milhões de artigos de botânica, zoologia, paleontologia, geologia, antropologia e documentos históricos. Entretanto, a imprensa brasileira avançou que o Meteorito de Bengedó, o maior encontrado no Brasil, sobreviveu ao incêndio. E as imagens provam-no.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro, fundado por D. João VI, tinha completado 200 anos, a 6 de junho. Localizado na Quinta da Boa Vista — um nome que faz jus ao espaço envolvente —, era a mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina. Agora, o espólio está reduzido a cinzas e as paredes do edifício, que chegou a ser a moradia oficial da família imperial, em risco de derrocada.
“Infelizmente ainda não conseguimos mensurar o dano total do acervo, mas precisamos mobilizar toda a sociedade para a recuperação e uma das mais importantes instituições científicas do mundo”, disse Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, em comunicado divulgado na página do Facebook da instituição.
Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas, era parte de acervo do Museu Nacional https://t.co/BDhGAU7zXY
— Folha de S.Paulo (@folha) September 3, 2018
Entre os artigos mais emblemáticos e importantes estava “Luzia”, com 11 mil anos, o mais antigo fóssil humanos das Américas ou as preguiças gigantes, de há cerca de 8,6 mil anos, que enchiam os sonhos das crianças brasileiras.
Entretanto, e ao contrário do que tem sido noticiado, a imprensa brasileira avançou que o meteorito Bendegó, com 5.260 quilogramas — 95% dos quais de ferro —, o maior alguma vez encontrado no Brasil, foi encontrado intacto dentro do que restou do Museu Nacional. Está na entrada da instituição: “O meteorito não é um material combustível, ou seja, ele não reage ao oxigénio do ar e não responde ao processo de combustão. Ele já entra na atmosfera em fogo. Então, o que tinha para ser queimado nele, já foi”, explicou José Luiz Pedersoli Júnior, químico e especialista em gestão de risco e património cultural, Veja.
Meteorito do Bendegó, siderito descoberto na Bahia, em 1784 pic.twitter.com/KQIWaNV7IP
— volto quando acabar o bbb (@leuavila) September 3, 2018
Na memória de muitas crianças e adultos ficará também o Dinoprata, o dinossauro Maxakalisaurus topai encontrado na cidade de Prata, Minas Gerais. Este dinossauro que viveu há cerca de 80 milhões de anos, media 13 metros e pesava nove toneladas. Foi o maior dinossauro de grande porte montado no Brasil. O Dinoprata esteve desmontado e enfiado numa caixa desde 2017 na sala fechada dos dinossauros, mas uma angariação de fundos pela internet permitiu que a sala voltasse a abrir. O Dinoprata voltou a reinar, mas por pouco tempo.
E o esqueleto reconstituído do Maxakalissauro (Dinoprata), dinossauro encontrado em Minas Gerais. pic.twitter.com/eS1RBG2caT
— Raniele Carvalho (@ranicarvalho) September 3, 2018
A coleção egípcia era outro dos grandes destaques do museu. Começou a ser adquirida pelo imperador D. Pedro I e contava agora com 700 itens — era a mais antiga das Américas e maior da América Latina. A imperatriz Teresa Cristina foi a grande impulsionadora da coleção de arte e artefatos greco-romanos. E nas coleções de Etnologia podiam ainda destacar-se os artigos referentes à cultura indígena, cultura afro-brasileira e culturas do Pacífico.
O interesse do reino e do império permitiu que o museu prosperasse e as coleções fossem sendo enriquecidas. Mas a falta de apoio do Governo e as sucessivas reduções de verba por parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que atualmente geria o museu, fizeram com que a instituição tivesse dificuldade em fazer até obras de manutenção ou até em pagar o salário a funcionários — em 2015 esteve 11 dias fechado por falta de pagamento a funcionários.
O Museu Nacional tinha conseguido recentemente um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social no valor de 21,7 milhões de reais (cerca de 4,6 milhões de euros), segundo comunicado da instituição. O dinheiro destinava-se à restauração e requalificação do museu e incluía ainda a instalação de novos equipamentos para a prevenção de incêndios. Uma ajuda que não chegou a tempo de evitar a tragédia.
A jornalista Mônica Sanches disse à TV Globo que durante as reportagens que tinha feito ao museu em maio, e antes disso, tinha reparado que as sancas estavam a cair, a fiação estava exposta. A deterioração do museu era clara, assim como a dificuldade em conseguir verba para as reparações necessárias.
Na Quinta da Boa Vista, onde estava instalado o museu, existe também um Jardim Zoológico que foi atingido pelos fumos do incêndio. Segundo a Globo, os animais estarão bem.
Uma das principais atrações da Quinta da Boa Vista, além do Museu Nacional, é o Jardim Zoológico. Ontem à noite a forte fumaça que vinha em direção ao zoo trouxe preocupação com relação à saúde dos animais. A informação que temos, até o momento, é de que eles estão bem. #G1Rio pic.twitter.com/VnJ2teIOhc
— Fernanda Rouvenat (@frouvenat) September 3, 2018
Na fotogaleria (no topo do artigo) pode conhecer o exterior do museu e parte do acervo perdido. Em baixo encontrará outras imagens do espólio, incluindo algumas da enorme coleção paleontológica detida pela instituição.
Esqueleto de pterossauro pic.twitter.com/Z4IuXRPPMH
— volto quando acabar o bbb (@leuavila) September 3, 2018
A coleção egípcia era uma das mais destacadas do museu e o sarcófago de Sha-Amun-en-su uma das atrações mais populares. Foi um presente que D. Pedro II recebeu, em 1876, na sua segunda visita ao Egito.
esquife da dama Sha-Amun-en-su. Egito, Época Baixa, c. 750 a.C pic.twitter.com/KuXW8tmizG
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Além das múmias artificiais do Egito. O museu tinha também algumas múmias naturais, múmias que foram preservadas por processos naturais ainda que tenham resultado de um ritual fúnebre. Um dos exemplos é a múmia de atacamenha (em baixo). Outro exemplo é a múmia Aymara colocada em posição fetal dentro de uma cesta, tal como o povo Aymara dormia. Este povo vivia junto ao lago Titicaca, entre o Perú e a Bolívia.
Múmia atacamenha, 4700-3400 anos antes do presente. pic.twitter.com/qPPZKlYCHZ
— volto quando acabar o bbb (@leuavila) September 3, 2018
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