Todos os 52 diretores e chefes de serviço do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho apresentaram esta quarta-feira a sua demissão, avança a Ordem dos Médicos. Os problemas acumularam-se nos últimos meses, e as respostas pedidas pelos diretores de serviço tardaram em chegar. Agora, cinco meses depois de terem feito a ameaça, a demissão em bloco avança como forma de protesto contra a “falta de soluções da tutela e da administração hospitalar”.
Em março, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, dirigiu-se àquele hospital e defendeu que os médicos, que se queixavam de condições indignas de trabalho e de assistência aos doentes, trabalhavam num “cenário de guerra”. No mesmo mês, a situação tornou-se ainda mais complicada quando a administração do hospital não abriu vagas para integrar todos os médicos especialistas ali formados.
O Serviço de Urgência parece um cenário de guerra com macas por todo o corredor. Quase é impossível circular. Este hospital está a definhar. As prioridades são a melhoria das infraestruturas e dotar o hospital com os recursos humanos necessários”, afirmou na altura o bastonário da Ordem dos Médicos.
Nessa visita, no final de março, após o encontro com os diretores de serviço e de departamento, o bastonário anunciou que todos eles estavam dispostos a demitir-se, caso a situação se mantivesse. Assim aconteceu. Durante a tarde desta quarta-feira, os médicos demissionários irão prestar mais declarações durante uma conferência de imprensa na Ordem dos Médicos.
Em conferência de imprensa, onde também esteve presente o bastonário da Ordem dos Médicos, o diretor clínico demissionário José Pedro Moreira da Silva reiterou que o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho é atualmente “um hospital totalmente destruído, um edifício muito antigo” e apresentou o exemplo do serviço de Urologia do hospital, cuja enfermaria “tem 16 camas e o quarto de banho fica fora do sítio onde os doentes habitam”, obrigando os utentes a “sair da enfermaria para ir ao quarto de banho”.
“Há falta de pessoal. Não só de médicos mas falta de pessoal de enfermagem e falta de pessoal auxiliar. Para dar o exemplo de um serviço, existem 20 camas para duas auxiliares. E estamos a falar de doentes acamados, doentes dependentes, que precisam de ser mudados, lavados, acompanhados ao quarto de banho e ser alimentados. Uma auxiliar para 12 ou 13 camas é muito pouco”, afirmou José Pedro Moreira da Silva.
O diretor clínico demissionário vincou que “assim é impossível continuar a trabalhar para o bom ar” da população e recordou que se trata do “terceiro maior concelho do país”.
Há mais de dois anos que a construção de um novo edifício – onde iria funcionar a urgência e os cuidados intensivos – está congelada devido à falta de financiamento. No início do mês de julho, o presidente do Conselho de Administração do hospital de Gaia anunciou que a segunda fase das obras iria começar. A construção do novo edifício está avaliada em 16 milhões de euros e as obras têm um prazo de 350 dias para estar concluídas. Entretanto, já em agosto, o Governo autorizou o arranque da terceira fase das obras.
De recordar que, recentemente, também os diretores de serviço dos hospitais São José, em Lisboa, e de Tondela-Viseu apresentaram as respetivas demissões devido à falta de condições. Em agosto, Miguel Guimarães dizia em entrevista ao jornal Público que era expectável que o mesmo viesse a acontecer em Gaia e em Vila Real.