Frederico Varandas subiu a um palanque improvisado na Praça Centenário para se apresentar como novo presidente do Sporting aos sócios que aguardavam pelos resultados há mais de sete horas. O primeiro discurso começou lido, mas o antigo diretor clínico dos leões rapidamente preferiu o improviso. Começou por saudar os restantes candidatos, em especial João Benedito, o segundo classificado, que “faz e fará sempre parte da história deste clube”. Acabou a pedir união, passando a bola para quem não o apoiou — “agora a missão tem de ser vossa” — e a tirar do bolso a medalha de finalista vencido da última final da Taça de Portugal, disputada depois das agressões ocorridas na Academia de Alcochete. Essa medalha, prometeu, “mais cedo ou mais tarde” irá para o museu do clube. E bem acompanhada, com uma “taça de campeão nacional”.

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A palavra “união” foi a mais ouvida durante todo o dia, nas imediações do estádio José Alvalade, onde decorreram as eleições para o novo presidente, e Frederico Varandas vincou-a bem nesta primeira aparição como novo líder do Sporting. Nada disto aconteceu por acaso: além dos receios inerentes à fragmentação que se esperava face ao elevado número de candidaturas, o antigo diretor clínico do Sporting venceu com um resultado forte a nível de votos — superou os 40%, fasquia que se colocava como ambiciosa para qualquer possível vencedor — mas parco a nível de votantes: teve menos eleitores que João Benedito, vencendo devido à antiguidade dos seus votantes, com uma média superior de anos de associado à dos votantes do segundo classificado. A missão é espinhosa, mas Varandas ter-se-á regozijado ao ouvir João Benedito garantir, minutos antes, que Varandas é, a partir de agora, o seu presidente.

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Talvez por tudo isto, o discurso na Praça Centenário começou precisamente com palavras dirigidas aos restantes candidatos, que juntos, importa recordar, somaram mais de metade dos votos das eleições deste sábado. “A minha primeira palavra vai para os candidatos à presidência do Sporting Clube de Portugal: Rui Rego, Dias Ferreira, José Maria Ricciardi, João Benedito, Fernando Tavares. A todos saúdo, a todos eles, a todas as pessoas que acompanharam as suas listas e a todos os sportinguistas que os apoiavam, o meu respeito. O meu respeito porque são sportinguistas que acreditavam que [eles] eram o melhor para o Sporting Clube de Portugal. São sportinguistas como eu, como vocês, como todos os que estão em casa, como 3.5 milhões. Somos todos Sporting Clube de Portugal”.

Seguiu-se uma pausa para cânticos e recomeço: “Uma palavra especial em relação ao João Benedito, segundo candidato com mais votos neste processo eleitoral. O João, um grande atleta, espero que nunca se afaste do clube. O João faz e fará sempre parte da história deste clube”.

Elogiando “a vitalidade” demonstrada na afluência às urnas, que resultou no “ato eleitoral mais concorrido em 112 anos da história do Sporting Clube de Portugal, um clube gigante”, Varandas agradeceu também à sua equipa, “que me acompanha há três meses e meio nesta maratona, que me aturou todos estes dias. O meu obrigado porque a minha força está na minha equipa. Muito obrigado a vocês”. A equipa não será apenas a que o acompanha nos novos órgãos sociais do Sporting, onde estarão Rogério Alves como presidente da Mesa da Assembleia Geral e elementos como Miguel Cal (para a área comercial) e Francisco Salgado Zenha (para a área financeira). Pelo menos foi o sinal que Frederico Varandas deu no palanque, quando dedicou um dos abraços mais calorosos ao mandatário da sua candidatura, o grande jogador de hóquei de patins que se sagrou campeão europeu nos anos 1970 pelo Sporting, Júlio Rendeiro.

Hoje é uma vitória muito importante e simbólica, porque é uma vitória da independência, da resistência, da resiliência, da superação. É assim que vai ser o Sporting Clube de Portugal”, apontou.

“A otimização de custos é importante mas a sustentabilidade financeira do Sporting passa pelo aumento de receitas”

Da boca de Frederico Varandas, ouviu-se a promessa de que “o Sporting Clube de Portugal não vai ceder, não vacilar, nunca vai abdicar dos seus valores e ideias. Nunca!” Rapidamente veio à baila o tema da tão propalada e desejada união do clube, para a maioria dos sócios: “Vou terminar como comecei. O lema desta candidatura é unir o Sporting Clube de Portugal. Chegou a hora de passar das palavras aos atos, mas agora já não sou eu, agora a missão tem de ser vossa. Unir não é só dizer, é efetivar a união. Unir é estarmos sentados no estádio, no pavilhão e estarmos sentados ao lado de um sócio que discorda do assunto A, B, C ou D connosco, mas quando a bola entrar gritarmos todos bem alto que é golo do Sporting Clube de Portugal”.

Unir o Sporting é pôr os interesses do Sporting Clube de Portugal acima de todos os nossos interesses individuais, é pôr o amor ao Sporting Clube de Portugal acima de todos. Fui um candidato independente, serei um presidente independente. O único compromisso que terei é com vocês, os sócios do Sporting Clube de Portugal. Deixo aqui bem claro: eu e a minha equipa tudo faremos para lutar pelo Sporting até ao resto das nossas vidas e energias com paixão, amor e muita competência”, garantiu ainda.

O discurso terminou com uma metáfora que para alguns apoiantes terá encerrado em beleza o discurso e para alguns críticos terá sido pouco eficaz. O novo presidente do Sporting disse que ia “tirar uma coisa do bolso para a qual” nunca tinha tido “coragem para olhar”. O que tirou foi a medalha que recebeu, enquanto diretor clínico do Sporting, por o clube ter sido finalista vencido da última edição da Taça de Portugal. Recorde-se que a final, disputada contra o Desportivo das Aves, aconteceu poucos dias depois das agressões de mais de 40 adeptos sportinguistas encapuçados a jogadores de futebol e equipa técnica do Sporting, na Academia de Alcochete. “É esta Taça, esta medalha, que mais cedo ou mais tarde irá com a taça de campeão nacional para o museu do Sporting Clube de Portugal. Prometo. É uma missão e vou cumprir até ao fim. Viva o Sporting! Viva o Sporting!”

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