“Não podemos contar histórias sobre pessoas e, depois, não nos preocuparmos com elas.” As palavras são da atriz Olivia Munn, que numa entrevista ao The Hollywood Reporter conta como tem sido ostracizada na divulgação de o “O Predador”, depois de ter sido bem sucedida na eliminação de uma cena do filme (estreia em Portugal no dia 13 de setembro). Na cena à qual já ninguém vai ter acesso, Munn contracena com um ator, Steven Wilder Striegel, que em 2010 foi condenado pela tentativa de ter relações sexuais com uma menor de 14 anos — à data, Striegel declarou-se culpado de manter uma relação online com uma menor.

Na passada quinta-feira, aquando da estreia do filme no Toronto International Film Festival, muitos dos colegas de Munn levantaram-se para aplaudir o realizador Shane Black, já os motivos que levaram à eliminação da cena eram conhecidos.

Numa altura em que poucos na indústria cinematográfica questionam a força do movimento #MeToo, estabelecido na sequência das primeiras denúncias de assédio sexual contra o produtor norte-americano — já caído em desgraça — Harvey Weinstein, Olivia Munn sentiu necessidade de intervir e impedir que uma cena com um criminoso sexual chegasse a milhões de pessoas através do grande ecrã. Mas a história não fica por aqui.

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A gigante Twentieth Century Fox eliminou a cena depois de conhecer o passado do ator, um amigo do realizador Shane Black, responsável pelo filme em questão. De acordo com o Los Angeles Times, Black já antes contratara o amigo para desempenhar pequenos papéis noutros filmes: é o caso de “Iron Man 3” e “Bons Rapazes”. Shane Black conhecia o historial do ator e, num comunicado enviado ao jornal, afirmou que preferiu ajudar um amigo. “Compreendo que outras pessoas possam não aprovar, já que a sua condenação teve por base uma acusação sensível, que não pode ser feita de ânimo leve.”

Striegel descreveu a menor ao The Los Angeles Times como sendo uma “familiar distante” de quem se aproximou através de emails, os quais foram ficando cada vez mais explícitos. O Mashable recorda que a detenção, em 2009, teve por base “múltiplos instantes de alegado contacto físico”, que Striegel continua a negar. Na cena entretanto eliminada, Striegel bate na personagem interpretada por Olivia Munn.

Munn, de 38 anos, diz sentir-se isolada depois de ter alertado o estúdio para o passado de Steven Wilder Striege. Numa entrevista de promoção do filme ao The Hollywood Reporter, a atriz diz que esta “era a coisa certa a fazer”, ainda que isso não seja óbvio para todos. “Não é fácil ser a única pessoa a falar. Há pessoas que ficam zangadas connosco por não ajudarmos a enterrar o assunto… É muito solitário estar aqui sozinha quando deveria estar sentada com o resto do elenco. (…) Pela forma como fui tratada por algumas pessoas, parecia que tinha sido eu a ir para a prisão.”

“Estamos a fazer filmes, isto não é a Máfia. Não falei contra a família”, continua a atriz. Olivia Munn conta ainda que viu o pedido de desculpas que Shane Black emitiu, mas admitiu que o realizador nunca chegou a falar com ela — “Aprecio o pedido de desculpas, mas teria apreciado mais se tivesse sido direcionado a mim em privado, antes de ter sido tornado público”.

Sterling K. Brown, que também entra no filme “O Predador”, não esteve presente no Toronto International Film Festival, onde Olivia Munn foi entrevistada pelo The Hollywood Reporter, mas já fez saber, via Twitter, que está do lado da atriz.