Drama queens ou vultos primaveris? Diogo Miranda ficou com o melhor dos dois mundos quando resolveu inspirar-se na obra de Irving Penn para pensar o guarda-roupa da próxima estação quente. Da sofisticação do fotógrafo absorveu as silhuetas bem delineadas, quase todas marcadas na cintura e com bainhas acima do joelho. As assimetrias pontuaram o desfile através de rachas generosas, os ombros, ora nus, ora bem marcados pela volumetria dos tecidos, mostraram que a primavera e o verão do criador português podem ter muitas faces, mas todas elas cheias de feminilidade. “Queria uma mulher madura, mais dramática até. Trabalhei os volumes, o que já me dá imenso prazer, mas sem esquecer a forma feminina. Mesmo ao nível das cores, nunca tinha trabalhado o amarelo e o azul de uma forma tão marcante. Aliás, adoro preto e no desfile só houve uma peça”, explica Diogo Miranda ao Observador, logo após o desfile.
O desfile da última quarta-feira não foi só mais um. Além da cromoterapia que levou Miranda a explorar um outro lado da paleta, com tons mais leves e luminosos, a apresentação na Université Paris Déscartes marcou o regresso do designer à passerelle de Paris, ele que há dois anos se limitava a desfilar apenas no Porto. “Esta semana da moda é a mais importante. Há certas coisas que, estando em Portugal, não consigo alcançar e, em Paris, fazem-se contactos excelentes. E depois, podem acontecer surpresas destas em que tens a Caroline de Maigret na primeira fila e vestida por ti”, revela. Aos 43 anos, Caroline é um ícone da moda parisiense e, ao que parece, fã de Diogo Miranda. O encontro deu-se nos bastidores, mal acabou o desfile. Entre felicitações e fotografias,os dois desdobraram-se em sorrisos.
O contacto direto com as suas clientes parece ser vital para Diogo Miranda. Voltamos à cor, enquanto o criador explica que foram elas a pedir outros tons para a época estival. A coleção que mostrou em Paris foi, por isso, um contrabalançar de peso e leveza. Houve uma dose muito controlada de brocados, vestidos de crepe de seda, mais descontraídos, e um quatro construções à la Miranda a encerrar o desfile. “Nesses, é quase como se estivéssemos a ver todo aquele dramatismo das fotografias”, completa.
As escadas, corrimões, colunas e bustos da universidade foram a moldura perfeita para as silhuetas clássicas de Diogo Miranda. Nos últimos dois anos, o criador pode ter estado afastado das passerelles internacionais, mas os showrooms em Paris e em Nova Iorque mantiveram-se obrigatórios. Entre clientes constantes e novas conquistas, Miranda tem uma certeza: é no Médio Oriente que está o seu grande mercado. “Nessas encomendas, acabamos sempre por ter de fazer algumas alterações no comprimento das peças, são um pouco mais severos nisso. Mas já tenho clientes que moram lá mas que vêm para a Europa e usam um vestido curtinho”, conclui.
Luís Buchinho em Paris, um peixe dentro de água
Foram duas estações sem apresentar coleção em Paris e Luís Buchinho já estava como peixe em terra seca. Nada nesta analogia é por acaso. O designer português admite que esta ausência na semana da moda mais importante do mundo teve um impacto negativo nas contas da marca, ao mesmo tempo que o regresso, um ano e meio depois, é feito com uma coleção inspirada no fundo do mar. Tudo começou numa conversa com uma amiga. Gyotaku, técnica utilizada por pescadores japoneses para imprimir peixes em papel, foi a base de trabalho.
Na mesma universidade onde Diogo Miranda desfilou à hora de almoço, Buchinho esperou pelo fim da tarde para apresentar as suas propostas para o próximo verão. A partir daí, o que vimos foi uma das coleções tecnicamente mais complexas da carreira do designer português. “O tema levou-me a uma maior pesquisa de materiais, sem dúvida. Aliás, eles são os mesmos, estão é subvertidos pelas técnicas. Usei muito este princípio do decalque em superfícies já plissadas ou enrugadas. Basicamente, em vez de ser a matéria a imprimir algo, foi algo que foi impresso na matéria”, explica ao Observador.
Estampagem sobre estampagem, brilhos metálicos, camadas e sobreposições — Buchinho quis que cada manequim fosse um peixe na passerelle e não poupou esforços para conseguir um acabamento de escamas reluzentes e de superfície molhada. No Japão, tradicionalmente, a técnica é utilizada para produzir troféus de pesca e a diversidade do resultado final levou o designer a incluir diferentes formas na coleção. Tal como os peixes, ora finos e escorreitos, ora com grandes escamas e barbatanas, os coordenados dividiram-se nestas mesmas duas categorias. O criador recorreu a folhos e a materiais fluidos para conseguir recriar silhuetas mais expansivas. Por outro lado, a pele e as peças mais justas, quase sempre recortadas ou com jogos de transparências, deram origem a looks esguios, estes sim a assinatura Buchinho.
Depois de mostrar ao mundo as suas criaturas aquáticas, a satisfação de mais uma etapa cumprida. No próximo ano, Buchinho assinala dez anos de desfiles em Paris. Para criador, desde 2009 que o fitting entre o seu trabalho e a capital da moda se tem vindo a aperfeiçoar. “Era inevitável voltar, pela projeção da marca e porque ela tem um discurso completamente integrado nesta semana de moda”, afirma.
Luís Buchinho e Diogo Miranda voltam em breve à passerelle. Em outubro, ambos desfilam em mais uma edição do Portugal Fashion, no Porto. Na fotogaleria, veja todos os looks dos desfiles de ambos os criadores, em Paris.
O Observador viajou para Paris a convite do Portugal Fashion.