Com um formato compacto, que ocupava os concorrentes apenas entre as 10 e as 16 horas, o Rally ACP Clássicos deste ano reuniu uma respeitável lista com 49 participantes, muitos deles com vontade de alcançar a melhor classificação numa competição em que, mais do que a velocidade, era premiada a regularidade. Contudo, não faltavam os concorrentes para quem a “corrida” era apenas mais um pretexto para passar mais um sábado com a família e os amigos, onde o almoço era o prato principal.
Do Estoril as equipas rumaram a Enxara do Bispo, próximo de Mafra, onde decorreu o almoço, para depois regressarem ao ponto de partida. No processo, tiveram ocasião de percorrer algumas classificativas do panorama do nacional de ralis, onde eram obrigados a respeitar de forma religiosa médias relativamente baixas, mas que obrigavam os pilotos a grande regularidade e os navegadores a muitos cálculos.
Aberta a veículos clássicos das Classe E (1946 a 1960), F (1961 a 1970) e G (1971 a 1987), a prova acolhia igualmente os “futuros clássicos”, modelos produzidos entre 1988 e 1997, muito mais actuais e que permite atrair novos e mais jovens participantes, com veículos que marcaram o seu tempo, mas substancialmente mais acessíveis em termos de custos.
Este tipo de provas, se diverte quem participa, fornece ainda as condições ideais para os que desejam apenas admirar modelos de outros tempos, a maioria em excelente estado do conservação. Uns têm grande valor exclusivamente ao nível sentimental, mas não faltaram também os modelos históricos com elevado valor comercial. Destaque para o irrepreensível Jaguar XK120 Roadster de Miguel Vigeant Gomes, acompanhado por Pedro Manuel Telhado, uma beldade de 1952 que o actual proprietário conhece há 30 anos, mas que apenas está na sua posse há um. Miguel Gomes usa-o com regularidade para passear, mas em ralis de regularidade, esta foi a prova de estreia. Entre todos os veículos à partida, o XK120 era provavelmente o mais valioso, com um valor em redor de 120.000€.
Igualmente num modelo da Jaguar, o casal Manso Pires, com Pedro Luís ao volante e Ana Isabel na navegação, deslocavam-se no seu E Type de 1967 – na opinião de muitos, um dos mais lindos automóveis jamais construído. Animado por um motor 4.2 de seis cilindros, este E Type é presença regular em eventos deste tipo, como prova o 5º lugar que conquistou no final.
Igualmente de origem britânica e com uma história muito curiosa, um Morris Mini Cooper S de 1967. Com David Pereira Coutinho ao volante e Miguel Pereira Coutinho nos cronómetros, este Mini tem a particularidade de ser uma réplica perfeita do modelo que venceu o Rali de Monte-Carlo de 1967, pilotado pelo grande Rauno Aaltonen. Segundo David Pereira Coutinho, em 2017 uma expedição de cinco Mini deslocou-se ao Mónaco, para acompanhar o rali de clássicos, o que permitiu ao finlandês Aaltonen, hoje com 80 anos, voltar a cruzar-se com um Mini que, no fundo, é uma cópia do que levou à vitória em 67.
Outra das peças curiosas à partida do Rally ACP Clássicos era o pequeno Seat 600D, de 1969, veículo do construtor espanhol que não era comercializado entre nós, onde reinava o Fiat 600D. Com Paulo Alexandre Martins ao volante, acompanhado pelo seu filho Francisco na navegação, a equipa defende a participação sem aparelhos sofisticados e com a tónica no convívio, pela paixão por carros antigos e pelo desafio de chegar ao fim, sem problemas. O 600D está há dois anos na família e foi comprado em Espanha, para depois ser registado em Portugal, sendo muito provavelmente o único que existe.
Nuno Serrano e Alexandre Berardo apresentaram-se num dos veículos mais recentes, um Peugeot 205 GTi de 1984, com a dupla apostada em alcançar um bom lugar no final, sendo uma das muitas que recorria a equipamento específico para o cálculo de médias. Tendo ao dispor um dos mais populares desportivos dos anos 80 e 90, o que segundo Nuno Serrano tem vindo a inflacionar o preço do 205 GTi, a equipa materializou as suas aspirações à partida e venceu o Rali ACP Clássicos, com uma vantagem de 8,6 segundos sobre a dupla Frederico Valssassina/Vasco Mendes, num Porsche 356 A de 1957, e 19,5 segundos em relação ao Alfa Romeo Giulietta 1.8 de 1983, de Edgar Afonso Guerra e Ana Filipa Guerra.