O Museu do Design e da Moda (MUDE), em Lisboa, anunciou que adquiriu à Galeria Objetismo o pórtico desenhado pelo artista Querubim Lapa (1925-2016) para a antiga Loja Rampa, pelo seu “elevado valor urbanístico, patrimonial, cultural e artístico”. De acordo com um comunicado do MUDE, museu tutelado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), a peça foi adquirida no âmbito da estratégia de aquisição de obras para constituir um acervo representativo do design e da produção nacionais.

Nessa linha, o museu, através da CML, adquiriu este pórtico idealizado e projetado por Querubim Lapa, em 1955, para a emblemática Loja Rampa (1956), um projeto do arquiteto Francisco da Conceição Silva (1922-1982), situada no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, ao Chiado, em Lisboa.

Uma das missões do museu é esta política de aquisições, para “contribuir para o estudo, o conhecimento, a conservação e a divulgação da cultura material em Portugal e dos seus autores”, recorda o comunicado.

A Loja Rampa era um espaço comercial situado perto do Chiado, que vendia roupa, acessórios e objetos decorativos, e o seu autor, Conceição Silva – que também assinou, entre outros projetos, o Hotel do Mar (Sesimbra, 1958-1964), o Edifício Castil (1968-1971, Lisboa) ou a Urbanização da península de Troia (1090-1976) – desenhou o projeto de arquitetura, o design de interiores e o mobiliário daquele espaço.

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A construção da Loja Rampa, concluída em 1956, esteve a cargo do engenheiro Diamantino Tojal, e contou com a colaboração de vários outros artistas, entre os quais, Sá Nogueira, Almada Negreiros, Alice Jorge e Júlio Pomar, tendo a loja mais tarde vendido também pequenos objetos de arte e design concebidos por criadores portugueses.

Demolida durante os anos 1980, ao fim de quase 30 anos, “esta loja é considerada pela historiografia da arquitetura moderna como um dos melhores exemplos da afirmação de Lisboa cosmopolita e da arquitetura pensada para a função comercial”.

A loja constitui “um dos projetos mais representativos do entendimento do espaço de Conceição Silva, da qualidade do seu desenho e da forma como entendia a arquitetura como obra total, desenvolvendo a prática disciplinar do design de equipamento e de interiores”, sustenta o MUDE.

Ao longo da sua vida, Querubim Lapa explorou diversas técnicas artísticas, como a escultura, a gravura, o esmalte, a tapeçaria, o desenho e, em especial, a pintura, dedicando-se à cerâmica a partir de 1954, ano em que se estabeleceu na Fábrica Viúva Lamego com ateliê próprio, “assumindo um importante papel no contexto das artes decorativas”.

Este pórtico, produzido na Fábrica Viúva Lamego, “é representativo do saber de uma das mais antigas fábricas de cerâmica em Portugal que sempre respeitou as metodologias e os processos tradicionais dos azulejos portugueses, desenvolvendo, em paralelo, um processo de modernização dos seus temas e motivos através da colaboração com muitos artistas nacionais e internacionais”.

O MUDE sublinha ainda que o pórtico “é também exemplar da imagética de Querubim e da sua arte como ceramista”.

Destaca a gramática decorativa utilizada, o cromatismo e a textura dos azulejos, mas também a associação entre uma composição figurativa, onde predomina o azul, o verde e o branco, e um jogo geométrico de linhas e cores, representativo do seu trabalho abstracionista.

“Além dos característicos pássaros, dos elementos vegetalistas, dos animais e de duas figuras que desempenham o papel das tradicionais ‘figuras de convite’, identifica-se um chapéu e um sapato que assinalam o carácter comercial da Loja Rampa”, descreve o MUDE.

O pórtico de Querubim Lapa para a Loja Rampa passa a integrar o acervo do MUDE, estando prevista a sua instalação em uso no edifício do museu, após a conclusão das obras de requalificação em curso.