José Peseiro é um treinador conhecido por ser tradicionalista. Não faz muitas alterações, não é extraordinariamente imprevisível e não é anormal terminar um jogo sem esgotar as três substituições. E talvez seja por isso que, à entrada para o jogo desta quinta-feira com o Vorskla Poltava, tudo o que se esperava era o regresso de Nani ao onze inicial do Sporting e talvez a titularidade de Petrovic ou Gudelj, para render o lesionado Battaglia. Esperava-se Ristovski, Raphinha, Montero e talvez Jovane. Mas José Peseiro fez o que raramente faz: arriscou, mudou tudo e deixou os comentadores de futebol na televisão a revirar papéis à procura de explicação para o que estava a acontecer.

Em vez de Montero, estava Diaby; em vez de Raphinha, estava Carlos Mané; em vez de Ristovski, estava Bruno Gaspar; e em vez de Acuña na esquerda da defesa leonina, estava Jefferson, enquanto que o argentino subia no terreno para jogar a médio esquerdo. Nada estava onde era expectável e não era possível perceber se o objetivo era rodar a equipa ou se foi subentendido um perigoso favoritismo.

Nos primeiros cinco minutos de jogo, era notória a clivagem na intensidade do fluxo ofensivo de portugueses e ucranianos. O Sporting entrou bem, com vontade de ter bola e chegar com perigo à baliza de Shust, mas um erro defensivo logo aos nove minutos atirou por água abaixo qualquer que fosse a estratégia de José Peseiro para este segundo jogo da fase de grupos da Liga Europa. Sklyar conduziu o ataque a partir da direita, tentou o cruzamento rasteiro mas surgiu André Pinto a intercetar. A bola ressaltou para a entrada da grande área e Petrovic, Bruno Fernandes e Coates foram demasiado lentos a reagir à aproximação de Kulach: o remate de pé esquerdo do avançado ucraniano ainda sofreu um toque de Salin mas só parou mesmo no fundo da baliza do Sporting.

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Ficha de jogo
Vorskla Poltava-Sporting CP, 1-2

2.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa
Oleksiy Butovsky Vorskla Stadium, em Poltava, Ucrânia
Árbitro: Nikola Dabanovic (Montenegro)
Vorskla Poltava: Shust; Perduta, Chesnakov, Dallku e Artur; Sharpar, Skilar, Kulach (Sergiychuk, 61’) e Rebenok; Kravchenko (Habelok, 83’) e Kolomoets
Suplentes não utilizados: Tkachenko, Martynenko, Sakiv, Careca e Odariuk
Treinador: Vasyl Sachko
Sporting CP: Salin; Bruno Gaspar, Coates, André Pinto e Jefferson; Petrovic (Jovane Cabral, 68’), Acuña e Bruno Fernandes; Mané (Montero, 57’), Nani e Diaby (Raphinha, 68’)
Suplentes não utilizados: Renan, Miguel Luís, Ristovski e Gudelj
Treinador: José Peseiro
Golos: Kulach (9’), Montero (90+1’) e Jovane (90+3’)
Ação disciplinar: Cartão amarelo a Artur (8’), a Acuña (74’)

Depois do golo, os ucranianos recolheram ao seu meio-campo defensivo e reservaram para as iniciativas de contra-ataque os esforços ofensivos. O Sporting controlou por completo o resto da primeira parte mas nunca foi perigoso, nunca massacrou, nunca deixou sem ar a defesa do Vorskla. A pressão intensa dos jogadores ucranianos atrofiou por completo a já pouca intensidade e dinâmica de Nani e Mané (que mesmo assim foi o melhor do Sporting na primeira parte). Bruno Fernandes voltou ao Bruno Fernandes do início da temporada – depois de uma ótima exibição com o Marítimo no fim de semana – e esteve muito apagado, Petrovic restringiu-se às funções defensivas e Acuña ia tentando chegar à grande área sem grande êxito. Mais atrás, Jefferson não foi eficaz na defesa e muito menos no ataque e Bruno Gaspar surgiu muitas vezes em zonas de perigo mas raramente a bola lá chegava em condições.

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O Sporting de José Peseiro foi mesmo para o descanso a perder 1-0 com o Vorskla Poltava e com apenas uma verdadeira oportunidade de golo: um remate enrolado de Nani dentro da grande área, já durante os minutos de compensação, que Shust defendeu à figura.

Esperava-se mais na segunda parte. Esperavam-se alterações, a entrada de Montero, Raphinha ou Jovane, o regresso ao relvado com vontade de fazer golos e resolver o jogo. Mas José Peseiro – e o Sporting – estava impossível de prever esta noite. Entraram os mesmos onze e entrou o mesmo ataque lento, sem ideias, sem soluções, sem jogadas com princípio, meio e fim. Os leões só conseguiam terminar jogadas de dez em dez minutos e nenhuma delas criava real perigo junto da baliza de Shust.

Tirando um micro pontapé de bicicleta de Montero depois de uma jogada atabalhoada e de insistência, o Sporting não conseguia assustar Shust. Quando ao Vorskla, basta dizer que o último remate dos ucranianos foi feito aos 18 minutos – da primeira parte. Deram a bola à equipa portuguesa e estiveram descansados. Até porque o controlo dos leões era apático e infrutífero. Aos 90 minutos, quando o quarto árbitro levantou o placard para indicar que se iriam jogar cinco minutos de tempo de compensação, os jogadores do Sporting pareciam conformados com a derrota. Menos um avioncito que voltou a Alvalade para dar muitas alegrias.

Depois de um lançamento longo a partir da defesa, Montero recebeu a bola no peito, colou ao relvado, rodou, simulou para tirar um adversário da frente e bateu Shust. A festa dos jogadores do Sporting foi tão grande e inesperada que Nani e Montero bateram com a cabeça um no outro e ficaram uns segundos com a mão agarrada à testa. Quando o jogo recomeçou, o Vorskla pouco pôde fazer para controlar o ímpeto já mais animal do que racional dos jogadores leoninos. Depois de ser lançado em velocidade no corredor direito, Raphinha descobriu Bruno Fernandes dentro da área ucraniana; o médio foi desarmado pelo guarda-redes mas a bola sobrou para Jovane Cabral, que só precisou de confirmar a reviravolta com um remate para a baliza deserta.

O Sporting foi à Ucrânia vencer o modesto Vorskla Poltava por 1-2 e vai a Londres enfrentar o Arsenal com os mesmos pontos do suposto rival direto no Grupo E da Liga Europa (os ingleses venceram esta quinta-feira o Qarabag por 3-0). José Peseiro tentou ser imprevisível. Mas a única coisa que não se esperava era que o Sporting sofresse para vencer o terceiro classificado do campeonato ucraniano em 2017/18.