O memorando entregue no gabinete do ministro da defesa, em novembro do ano passado, pelo ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira, e pelo major Vasco Brazão, explica a operação de encobrimento que visava recuperar as armas roubadas em Tancos, avançam o Expresso e a Sábado.
O documento em questão corresponde a uma folha A4 com 14 parágrafos e uma segunda página com cinco linhas, escreve a revista Sábado. Além de curto, não tem qualquer identificação: não existe timbre das Forças Armadas ou da PJM, não há data, carimbo ou assinatura.
No documento, consta que a entrega das armas foi combinada com um informador da Polícia Judicial Militar, que, sem nunca ser identificado, mostrou disponibilidade em revelar a localização das armas desaparecidas de Tancos desde que a PJ não fosse envolvida.
O informador da PJM diz que terá de ser feita uma chamada anónima da Margem Sul de um local que possa ser identificado (…) Major Brazão dá ordem a um militar seu para às 3h da manhã fazer uma chamada para o piquete, que nesse dia era o próprio major Brazão”, lê-se no memorando.
Segundo a Sábado, o documento foi entregue em mãos ao ex-chefe de gabinete do ministro, o Tenente-General António Martins Pereira, que assumiu esta quarta-feira ter recebido documentos sobre a recuperação do material roubado dos paióis de Tancos. “A documentação verdadeira foi entregue hoje no início da tarde, no DCIAP, pelos serviços do meu advogado”, disse o tenente-general Martins Pereira à RTP.
A Polícia Judiciária está a investigar não apenas o desaparecimento das armas como também o reaparecimento num terreno da Chamusca. A tese da PJ é que elementos da Polícia Judiciária Militar encenaram o reaparecimento das armas para não perderem a investigação para a Polícia Judiciária e alertaram o campo militar através de uma chamada anónima. Esses elementos, entre os quais se inclui o antigo diretor da PJM, também terão ocultado a identidade dos alegados assaltantes à PJ.