Em Portugal, um país onde o futebol é rei e as principais conversas de café andam à volta de uma bola a rolar dentro de quatro linhas, o sonho de muitas crianças é ser jogador de futebol. Ser um Luís Figo, um Rui Costa, um Ricardo Quaresma ou um Cristiano Ronaldo. Fábio Carvalho, que nasceu em agosto de 2002 em Torres Vedras, sempre foi um desses miúdos. Esta quarta-feira, o jornal inglês The Guardian selecionou-o como um dos 20 talentos a observar na formação dos clubes da Premier League.

Fábio tem 16 anos e mudou-se para Inglaterra com os pais há cinco. Em Portugal, já jogava no Benfica, mas deixou o clube quando a família decidiu ir à procura de uma vida melhor em Londres. Mas não foi a mudança que o afastou do futebol: insistiu, procurou e começou a treinar com uma equipa de bairro nas tradicionais sunday leagues, ligas de domingo, em português, e rapidamente impressionou os mais atentos. Foi a jogar pelos Balham Blazers que os olheiros do Fulham o descobriram em 2015. “Eles viram-me jogar e gostaram de mim”, contou Fábio ao Observador, de forma simples e quase como se fosse um enredo daqueles filmes em que o miúdo a jogar ao domingo antes do almoço vai parar à alta roda do futebol internacional.

Foi integrado no plantel sub-14 do Fulham na primeira temporada, saltou para os sub-16, em 2017/18 já jogou pelos sub-18 e esta temporada já treinou com os sub-23, a equipa B do clube londrino. Mas é nos sub-18 – em que a maioria dos colegas tem mais dois anos do que ele – que está de forma permanente esta época, depois de no ano passado ter impressionado com um hat-trick frente ao Reading e um golo ao Plymouth na FA Youth Cup, a Taça de Inglaterra das camadas jovens. Fábio atua enquanto médio-centro ou médio ofensivo, funcionando bem como um típico número 10 que descobre espaços onde mais ninguém os vê e trabalha na dinâmica da equipa, tornando-se um playmaker criativo de onde parte o fluxo ofensivo da equipa.

Fábio Carvalho, enquanto capitão dos sub-17 da seleção inglesa, a receber a Syrenka Cup

Foi o único jogador do Fulham – onde é companheiro de equipa de José Mourinho Jr, filho do treinador português, que é guarda-redes – a ser convocado para representar os sub-16 da seleção inglesa no Nike Tournament de 2017, nos Estados Unidos. Jogou nas três partidas disputadas por Inglaterra, marcou um golo contra o Brasil e foi posteriormente chamado aos sub-17, onde foi capitão e um elemento fulcral da equipa que venceu a Syrenka Cup. Com apenas 16 anos, Fábio Carvalho é elegível para a seleção inglesa e para a portuguesa, tendo já também sido convocado para os sub-15 portugueses, ainda que não tenha chegado a jogar. Sobre uma eventual escolha definitiva – já que só terá de decidir por um país em caso de convocatória para a equipa principal, porque os regulamentos ditam que na formação os jogadores podem representar duas seleções -, Fábio ainda não tem resposta. “Por enquanto ainda não sei qual escolher”, desabafa o jovem jogador.

Neste verão de 2018, o Benfica mostrou que se mantém atento ao rapaz que deixou o Seixal há cinco anos e sondou o jogador sobre um eventual regresso a Lisboa. Mas Fábio Carvalho quis ficar em Londres. Até porque está num dos sítios ideais para crescer em Inglaterra: Craven Cottage, a academia de formação do Fulham, é conhecida por criar, moldar e maturar talentos em bruto para depois os lançar para o mais alto patamar do futebol mundial, como é o caso de Moussa Dembélé, Chris Smalling ou Ryan Sessegnon.

Fábio Carvalho tem 16 anos. Falta-lhe experiência, mundo, erros e muitos minutos nas pernas. Mas para o The Guardian, o médio do Fulham é um dos 20 talentos a jogar em Inglaterra que merecem atenção – numa lista onde em anos anteriores estiveram Marcus Rashford, Chris Willock ou Trent Alexander-Arnold. Mas o objetivo de Fábio, esse, é igual ao de qualquer outro rapaz de 16 anos que gosta de jogar à bola do domingo: “Quero ser o melhor jogador do mundo e ganhar o Campeonato do Mundo”.

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