O mercado dos eSports já é tão inquestionável que quase todas as grandes empresas de videojogos estão a segmentar alguns dos seus produtos para este fenómeno. A Sony PlayStation, com o seu domínio do mercado doméstico de consolas, não é exceção.

Com o lançamento, há alguns meses, da nova iteração da famosa série Gran Turismo, a PlayStation encontrou o seu candidato natural para “abraçar” o mercado altamente competitivo do desporto eletrónico. Depois de meses de apuramentos, a Final Europeia da Nations Cup dos FIA Gran Turismo Championships 2018, teve lugar na Madrid Games Week. Fomos convidados pela PlayStation Portugal para assistir ao vivo.

A primeira novidade deste campeonato, e que serve de “selo de qualidade” da Fédération Internationale de l’Automobile (FIA), é o facto de o vencedor do Mundial (cujo local e data ainda estão por revelar) ter a possibilidade de participar no evento de FIA Awards, que premeia os melhores atletas do desporto automobilístico.

De entre os muitos concorrentes, seria o alemão Mikail Hizal a sagrar-se campeão europeu e a ficar imediatamente apurado para o Mundial, acompanhado de mais nove jogadores do qual destacamos a presença do português Carlos Salazar, em 6º lugar, o melhor classificado dos jogadores nacionais nesta prova.

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A seriedade que este tipo de  competição atinge hoje é algo que provavelmente nenhum dos seus criadores previu quando o primeiro título da série foi lançado em 1997. Gran Turismo acabou por ser um dos porta-estandartes da primeira consola da Sony, mas desse sucesso no conforto do sofá até às competições mundiais com milhares de espetadores há muita estrada percorrida.

Após a final europeia, tivemos a oportunidade de falar novamente com o criador da série, o histórico game designer japonês Kazunori Yamauchi. Há um ano, a entrevista focou-se nos vinte anos da série, no realismo da experiência automobilística em videojogo e nas possibilidades da Realidade Virtual no género. Um ano depois, voltamos a uma pequena conversa com o autor, já com GT Sport perfeitamente integrado num circuito de eSport, com uma competição milionária a apurar os vencedores continentais com acesso à grande final Mundial.

Com é que a entrada de clubes da NBA e de futebol como o PSG a apostarem a sério em divisões de eSports como FIFA ou GT Sport vai influenciar a modalidade?
Não tenho a certeza… Sei que estes clubes de futebol/organizações estão dentro da gestão de atletas, portanto, entendo o seu interesse nos eSports. Mesmo fora dos clubes de futebol, muitas estruturas querem entrar no campo de management de eSports. Para nós, é cedo para perceber porque começámos os campeonatos este ano. Ainda não estamos ao nível de futebol ou basquetebol mas acho que se a competição de GT Sport crescer, o aparecimento de novas empresas e clubes vai ser um curso natural das coisas.

Oficialmente, este é o primeiro campeonato de GT Sport. Como estão os números de adesão? É algo que veio para ficar ou é apenas uma experiência provisória?
Ainda estamos no nosso primeiro ano, mas estamos em linha com outros desportos motorizados. Não ao nível da Formula 1 ou Nascar, mas estamos muito próximos de outros desportos motorizados. Não podemos afirmar o que o futuro nos vai trazer. Mas podemos usar o GT Sport como um foco para atletas poderem aparecer e marcar o seu nome no mundo. Se pensarmos no momento em que a Formula 1 ou o GT ou a NBA começaram não tinham o mercado de agora. Aqui temos as equipas, os atletas, os comentadores, estamos cá, todos juntos criamos uma comunidade e uma família, acredito que foi assim que a F1 começou. Não devemos pensar logo em grandes negócios, a maior felicidade é se a nossa família crescer aos poucos até ficar enorme. Todos aqui são família para nós.

Uma curiosidade: porque é que nesta competição todos os atletas usam a mesma roupa, o mesmo equipamento e não os das suas equipas, ao contrário dos restantes eSports?
Não sei o que os outros eSports fazem, mas acima de tudo o nosso produto sempre teve uma consistência de design e nisso estão incluídos todos os logos e tudo o que há no jogo. Neste evento, e neste momento, o foco é manter a consistência, para quem entra saber imediatamente que está no campeonato de Gran Turismo.

Sei que não querem falar do futuro por ser ainda tão vago, mas está nos vossos planos a criação de parcerias com organizações nacionais, criando ligas de cada país para encontrar os representantes para os campeonatos europeus ou mundiais?
Qualquer formato é possível, mas implementar não é fácil. Desportos podem existir em vários formatos. F1, Olimpíadas, campeonatos do mundo, as hipóteses são imensas mas implementá-las é muito complicado.

Texto de Ricardo Correia, entrevista de Marco Janeiro e tradução de João Machado. Rubber Chicken