António Costa garante que não teve conhecimento do memorando sobre a encenação do reaparecimento do material de Tancos, “nem através de Azeredo Lopes, nem através de ninguém”.
Questionado pelos jornalistas à saída do Centro de Congressos Olga Cadaval, em Sintra, onde participou no Congresso “Sintra Economia 20/30”, o primeiro-ministro recusou a ideia de ter sido enganado pelo ex-ministro da Defesa e voltou a afirmar que não se pronuncia “sobre matéria de investigação criminal”, desejando que tudo seja apurado “tão depressa quanto possível” pelas autoridades competentes.
“A única coisa que eu desejo é que as autoridades judiciárias competentes concluam, tão depressa quanto possível, esta investigação esclarecendo tudo, desde logo quem roubou, detendo e responsabilizando os ladrões e, naturalmente, eventuais cúmplices ou encobridores que tenha havido”, frisou Costa. Perante uma nova pergunta sobre se não sabia nada sobre o memorando, o primeiro-ministro assegurou: “Eu não”.
O jornal Público noticiou, nesta quinta-feira, que o antigo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, terá sido informado sobre o memorando de Tancos pelo seu chefe de gabinete, que o recebeu, há menos de um ano, das mãos do então diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Pereira. A revelação foi feita pelo tenente-general Martins Pereira, que foi ouvido pelo Ministério Público na qualidade de testemunha.
Marcelo: “Não fiquei com a impressão de que qualquer pessoa soubesse”
Marcelo Rebelo de Sousa garante que, na altura, não ficou com a impressão de que as pessoas com quem falou sobre o caso de Tancos tivessem conhecimento da existência do memorando. Questionado pelos jornalistas na Casa Acreditar sobre se Costa sabia ou não que o documento existia, o Presidente da República disse que, daquilo que acompanhou do processo, “nenhum de nós sabia o que se passou quando foi do roubo das armas, e continuou sem saber e ainda hoje não sabe”.
“Vamos tendo agora umas pistas pela comunicação social e por uma nota do Ministério Público dando conta do que se passou”, afirmou. “Tenho noção que, até essa altura, ele não sabia e não fiquei com a impressão de qualquer pessoa soubesse” dos “quantos falaram comigo sobre esta maneira”, acrescentou.
O Presidente reiterou ainda confiança no Ministério Público e “na investigação em curso”, considerando que “o país precisa de virar a página”, mas “não sem antes responsabilizar quem esteve envolvido”. Marcelo disse compreender que houvesse alguma frustração em relação ao caso, cujo processo de apuramento é “muito longo”. “Nestes casos, que tocam muito a opinião pública porque tocam valores muito importantes, todos desejaríamos que fossem resolvidos o mais rapidamente melhor.”
O furto do armamento dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017, e, quatro meses depois, foi recuperada parte das armas. Em setembro, a investigação do Ministério Público à recuperação do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da PJM e da GNR.
Na mesma altura, foi noticiada uma operação de encenação e encobrimento na operação, alegadamente organizada por elementos da PJM, que dela terão dado conhecimento ao chefe de gabinete do ministro da Defesa. A 12 de outubro, Azeredo Lopes demitiu-se e foi substituído por João Gomes Cravinho.
Na semana passada, o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, também se demitiu e o seu lugar foi ocupado pelo general José Nunes da Fonseca.
Artigo atualizado às 13h11 com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa