Com a segunda mão empatada (1-1), depois do triunfo do Grémio em Buenos Aires por 1-0, um golo poderia decidir tudo. Ou “matava” a meia-final, ou invertia o apurado para a eliminatória decisiva. Um pouco do nada, sem sequer ninguém se aperceber (incluindo a própria realização do encontro), o árbitro Andrés Cunha aproveitou a substituição de Jael por Thaciano para ir à TV no relvado observar mais de perto um lance onde Scocco rematou à entrada da área e a bola bateu na mão de Bressan (sem qualquer tipo de protesto dos jogadores visitantes, que queriam era acelerar a marcação do canto). Estávamos no minuto 86. Quase nove minutos depois, Pity Martínez converteu o penálti e deu o triunfo aos argentinos.
Late VAR penalty decision ✅
Players confront the officials ✅
14 minutes of stoppage time ✅
Military police forced to step in ✅Things got seriously heated at the end of Gremio vs River Plate ???? pic.twitter.com/yv4yXVvW0T
— ESPN UK (@ESPNUK) October 31, 2018
Agora pergunta o leitor: porquê tanto tempo entre a marcação do castigo máximo e a respetiva transformação? Houve um pouco de tudo, em mais uma novela tipicamente sul-americana que acabou com muita confusão à mistura. Primeiro, Bressan viu o segundo amarelo e foi expulso – e a certa altura, perante a incredulidade do defesa, teve de ser o assistente a agarrar o jogador do Grémio para não se chegar mais ao árbitro principal (que entretanto tinha sido rodeado por outros elementos dos brasileiros); depois, porque teve de ser mostrado o tempo de descontos, que passou de nove para 13 minutos (acabou em 14); por fim, pasme-se, porque o uruguaio foi pedir aos delegados da CONMEBOL para que assegurassem a sua segurança no final do jogo ainda antes de acabar (e os responsáveis lá foram falar com o chefe das forças de segurança para fazer esse pedido).
Pity Martínez, extremo que muito em breve deverá rumar à Europa (pelo menos tem mais do que futebol para isso), fez mesmo o 2-1 que apuraria o River Plate para a Taça dos Libertadores – antes de exagerar nos festejos, ser “apertado” por adversários e ver amarelo – mas ainda haveria mais história para contar: logo após o apito final, a polícia de choque entrou em campo para rodear a equipa de arbitragem uruguaia enquanto os jogadores do Grémio voltavam a protestar com a decisão do lance que definiu o encontro… e não só – vistas e revistas as imagens, Borré, que celebrara o golo do empate passando a mão pela cabeça, parece ter desviado a bola com o braço na sequência de uma bola parada, num momento que passou ao lado da análise do VAR.
“O Grémio foi roubado, não há dúvida nenhuma. Até o Stevie Wonder conseguia ver isto. O Grémio só não está qualificado para a final por causa do VAR. Se funcionasse, estaria aqui a sorrir, a torcida feliz e a equipa na final dos Libertadores. Foi um roubo! A ver o jogo naquela cabine, com aquele monte de câmaras, como é que não vê que um jogador marca com golo com o braço? Será que ele consegue dormir hoje por causa disto? Se calhar até vai porque não tem nada a ver com o Grémio”, comentou Renato Gaúcho no final do encontro, entre expressões como “raiva”, “humilhação”, “desrespeito” e mais umas achegas para a confusão: “O Gallardo está castigado, vai ao balneário, atrasam o início o jogo. Juntem tudo isso com a palhaçada do VAR, façam uma salada e vejam no que vai dar. É uma desmoralização para a CONMEBOL”.
Watching back Santos Borré's first goal tonight for River Plate, looks like he may have handled it to direct it towards goal. Certainly should have at least been looked at by VAR: pic.twitter.com/EDd04P0QqN
— Austin Miller (@austin_james906) October 31, 2018
Neste último caso, Marcelo Gallardo, treinador do River Plate que foi castigado para esta segunda mão da meia-final, nem sequer disfarçou e assumiu que quebrou as regras. “Tive a audácia de ir ao balneário porque os jogadores precisavam de mim e eu também. Quebrei uma regra, reconheço e assumo isso, mas era o que precisava fazer e não me arrependo nada. Os jogadores tinham uma mensagem clara e as pessoas que trabalham comigo também”, confessou, depois de ter estado todo o jogo a dar indicações através de um walkie talkie ao adjunto Matías Biscay (de novo, sem sequer disfarçar).
“Acho injusto este castigo que estava a cumprir porque me tira o direito e a liberdade. Não tenho problemas em ser multado porque a equipa sai um minuto atrasado do balneário mas quando é um pouco mais há tolerância zero, suspendem e tiram-nos do trabalho. É um ultraje tirarem a liberdade de trabalhar a um treinador”, justificou ainda Gallardo, que se deslocou ao balneário disfarçado com um caso e um boné que o tornaram irreconhecível perante as pessoas presentes naquela área.
???????? ATENÇÃO!!! ⚠⚠⚠
Gallardo não respeita a punição da Conmebol e entra no vestiário do River Plate no vestiário do jogo!
Imagens exclusivas do #ÂnguloFOX! #LibertadoresFOXSports pic.twitter.com/WNERrOsGhg
— SportsCenter Brasil (@SportsCenterBR) October 31, 2018
Contas feitas, o técnico dos Millonarios deverá sofrer novo castigo mais pesado mas o River Plate conseguiu mesmo eliminar o Tricolor Gaúcho, com uma inesperada reviravolta nos últimos dez minutos depois da derrota por 1-0 na Argentina. Esta noite ficará a saber-se quem acompanha o conjunto de Buenos Aires na final da Taça Libertadores, com o Boca Juniors em São Paulo para defrontar o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari com uma vantagem de 2-0 da primeira mão. E o cenário mais temido pelo próprio presidente da Argentina, Maurício Macri (que antes chegou a ser líder do Boca), começa a ganhar contornos reais. “Preferia que um clube brasileiro passasse à final. Sendo uma final entre Boca Juniors e Rive Plate, eram três semanas sem dormir. É muito, uma loucura. E quem perdesse demoraria 20 anos a recuperar”, comentara antes das meias-finais.