O anterior porta-voz da Polícia Judiciária Militar, major Vasco Brazão, negou esta quarta-feira a existência de qualquer operação de encobrimento de suspeitos no processo de recuperação do armamento furtado em Tancos, garantindo ter trabalhado “sempre com um informador”.

“Nego em absoluto qualquer encobrimento de qualquer suspeito ou criminoso na recuperação do material. Trabalhámos sempre com um informador e foi essa a informação que foi passada ao gabinete do senhor ministro da Defesa [Azeredo Lopes]”, explicitou Vasco Brazão, numa declaração à saída do Campus da Justiça, em Lisboa, depois de ter sido ouvido como testemunha no julgamento das duas mortes no 127.º curso de Comandos.

O ex-porta-voz da PJM, autor do memorando com a descrição da operação, alegadamente entregue ao ex-chefe de gabinete de José Azeredo Lopes, prometeu ainda colaborar com a Justiça e assumir as responsabilidades por eventuais erros cometidos no processo de Tancos.

“É nossa intenção colaborar com o Ministério Público na descoberta da verdade, assumindo as responsabilidades que tivermos que assumir de algum erro cometido”, assumiu, recusando-se a responder a outras perguntas dos jornalistas.

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De acordo com notícias vindas a público, Vasco Brazão terá revelado à Justiça que entregou o memorando com a descrição da operação de recuperação do armamamento de Tancos ao tenente-general, Martins Pereira, ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, que terá confirmado o teor do mesmo. Contudo, Martins Pereira, num texto enviado à agência Lusa garantiu não ter descortinado qualquer operação de encobrimento de suspeitos no memorando que lhe foi entregue pelo ex-porta-voz da PJM.

Vasco Brazão foi esta quarta-feira prestar declarações como testemunha no âmbito da investigação da Polícia Judiciária Militar (PJM) às mortes dos recrutas dos comandos Hugo Abreu e Dylan da Silva.

O furto de material militar dos paióis de Tancos foi revelado a 29 de junho de 2017 e a recuperação da maior parte do material foi divulgada pela PJM, em comunicado, no dia 18 de outubro de 2017, na Chamusca, a cerca de 20 quilómetros de Tancos.

A investigação do Ministério Público sobre o aparecimento do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da PJM e da GNR.

Em 25 de setembro, a Polícia Judiciária deteve o diretor e outros três responsáveis da PJM, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.

Segundo o Ministério Público, em causa estão “factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivo plástico e uma grande quantidade de munições.

O caso levou já à demissão do então ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, em 12 de outubro, invocando a necessidade de evitar que as Forças Armadas fossem prejudicadas pelo “ataque político” e as acusações de que afirmou estar a ser alvo.

O chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, pediu também a resignação, apenas dois dias depois da tomada de posse do novo ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho.