“A origem do nosso trabalho foi falar com mil casais e perguntar se eram felizes”, explicou Greg Forgatch, fundador do eHarmony, uma das mais conhecidas plataformas online para criar casais. A empresa esteve na Web Summit não por ser nova — foi criada no ano 2000 — nem por estar à procura de investimento — foi recentemente adquirida. “Separámos as pessoas em vários grupos: muitos felizes; felizes; não felizes; nada felizes. Depois, mantivemos apenas os questionários dos muitos felizes e dos nada felizes”, continuou a explicar o fundador. O algoritmo base para a plataforma nasceu, assim, de um padrão que encontraram: “As pessoas que eram muito felizes tinham 30 critérios em comum”.
No final, acaba sempre por ser um jogo de probabilidades, mas desde o ano 2000 que este algoritmo tem estado a ser aperfeiçoado com novas tecnologias como o machine learning e a inteligência artificial para ajudar quem não encontra o amor pelos meios tradicionais. E não é só graças aos algoritmos, também é devido a fenómenos culturais: “As palavras Trump ou Brexit são agora filtros para encontrar as almas gémeas. As pessoas, nas pesquisas, cada vez mais dizem: Não me arranjem alguém que tenha votado no Brexit”.
Pode ser estranho de perceber, mas há poucos anos a política não tinha nada a ver com as relações. Mas em 2016 isso mudou. Agora, a ideologia política é cada vez mais importante”, contou Greg Forgatch.
Mesmo com as novas tecnologias a aperfeiçoarem estes sistemas, a forma como milhões de pessoas começam a utilizar este serviço é sempre a mesma: “responder a 150 perguntas“. Na apresentação, também se falou que no futuro se vai utilizar o ADN para encontrar o melhor match (ou seja, pessoas que são mais compatíveis entre si). “Muita gente pergunta isso, mas não sei se as pessoas realmente querem. Isto parte de um estudo no qual pediram a mulheres para cheirar a t-shirt de homens e perceberam que as mulheres gostam mais do cheiro de homens que têm o mesmo ADN”.
Mesmo com genética à mistura, dar esse passo para se encontrar com algoritmos a alma gémea para as pessoas, não vai ser feito tão cedo, assume Forgatch: “150 perguntas já é muito, fica muito mais complicado se lhes pedisse para enviarem ADN por correio”.
Infelizmente, nem para todas as pessoas este tipo de plataforma resulta. Como explicou o fundador da plataforma em Lisboa, as questões culturais continuam a ser muito decisivas para se encontrar alguém: “As mulheres asiáticas costumam ter o maior número de matches [opções de escolha para encontros depois de entrar na plataforma]. Já com os homens asiáticos é o contrário. No caso de afro-americanos, vemos uma tendência inversa, porque os homens costumam ter mais matches.”
Na Internet, há outras empresas a concorrer com este tipo de serviços online. Com aplicações como o Tinder a ganharem popularidade — mais focadas em encontros casuais e não em compromissos a longo prazo — o mercado tem vindo a mudar, explicou o fundador. “Há 20 anos os mais novos não estavam nestes mercados e o Tinder mudou muito isso porque trouxe esta faixa etária para o mercado“, justificou.
Facebook vai competir com o Tinder e cria ferramenta para juntar solteiros
Mesmo com o fundador da plataforma a justificar que, mesmo que os algoritmos evoluam para um cenário como o retratado num episódio de Black Mirror — no qual clones digitais testavam a probabilidade uma relação amorosa resultar –, as mudanças da sociedade vão ser sempre um fator. “Há cerca de cinco anos, houve um artigo do New York Times que falava que as mulheres estão a ganhar mais dinheiro do que os homens e estão perceber que os homens que encontram são muito pouco satisfatórios”, contou.
Isso [a mudança dos papéis de género] é um grande problema da sociedade e é o mercado do eHarmony. Temos de acompanhar isso. Para muita gente, o fator económico é muito importante. Se não for um homem com o mesmo status económico, as mulheres muitas vezes nem tentam conhecê-lo”
Empresas como o Facebook estão também a apostar no mercado da Internet e dos algoritmos para ajudar as pessoas a encontrarem almas gémeas. Como explicou a Variety no final de outubro, só nos Estados Unidos, o mercado destes serviços online, que cada vez mais utiliza estes algoritmos para calcular e aprender qual a fórmula para se criar os casais perfeitos, vale cerca de 2,8 mil milhões de euros. Fenómenos como o Tinder estão a mudar mentalidades e, no futuro, serviços para compromissos a longo prazo podem ser o próximo grande mercado: “As pessoas com 20 e tais anos parecem que não querem estar numa relação séria. Mas quando chegam aos 30, querem algo mais a longo prazo. Vai existir uma fatiga do deslize [do dedo, gesto que caracteriza a popular aplicação Tinder]”.