O fim da era Michael Jordan nos Chicago Bulls, sobretudo no novo século, foi complicado, por vezes traumático, também com muitas culpas próprias à mistura na altura de nomear a primeira escolha a que tinham direito no draft. Elton Brand, visto no basquetebol universitário como a nova maravilha da NBA, conseguiu médias interessantes de pontos mas não tinha propriamente o perfil de líder que a equipa necessitava na altura; Marcus Fizer fez apenas seis épocas no principal escalão americano; Eddy Curry foi outro tiro ao lado; Jay Williams teve um gravíssimo acidente de mota que lhe interrompeu sonho um ano depois de ter sido escolhido; Kirk Hinrich mostrou-se sempre melhor reserva do que opção principal. Em 2005, não houve qualquer lugar devido às trocas do passado. Depois chegou Joakim Noah; no ano a seguir, Derrick Rose.

Em 2011, o conjunto de Tom Thibodeau chegou à final; em 2013/14, o extremo/poste conseguiu os melhores registos médios, com uma média de 12.6 pontos e 11.3 ressaltos. No United Center, os adeptos gritavam “MVP! MVP! MVP!” quando Noah ia para a linha de lance livre; o americano que também tem nacionalidade francesa (pelo pai) e sueca (pela mãe) dizia que não com a cabeça. “Não quero que tenham essas manifestações, MVP é o Derrick [Rose] e aquilo que quero é ser campeão”, comentava. Pelas origens e pelo percurso no basquetebol universitário, Joakim tinha tudo para se tornar uma estrela da prova; pela forma de ser e de jogar, nunca se importou de ter papéis secundários. Até chegar a Nova Iorque e perder de todo qualquer papel; agora, cerca de dois meses depois da rescisão com os Knicks, assinou pelos Memphis Grizzlies.

O jogador nasceu com pedigree de desportista: o pai, Yannick, foi um dos melhores jogadores da Era Moderna, tendo ganho em Roland Garros em 1983 (a mãe, Cécilia Rodhe, foi Miss Suécia em 1978, chegou à final do concurso da Miss Universo e tornou-se depois escultora); o avô, de origem camaronesa, foi futebolista e chegou a conquistar uma Taça de França pelo Sedan; a avó, Marie-Claire foi basquetebolista e chegou a internacional pela formação principal gaulesa. Alto, muito alto mesmo para a idade, acabou por cair também para o basquetebol por causa de uma bola que lhe foi oferecida pela antiga estrela dos Knicks, Patrick Ewing, que era amigo de Yannick. Depois de viver dez anos em Paris, entre os três e os 13, voltou a Nova Iorque, onde nasceu, e aceitou a bolsa da Universidade da Flórida na antecâmara da entrada na NBA, seguindo os conselhos do pai que insistia para que lesse os livros de Phil Jackson, técnico 11 vezes campeão entre Bulls e Lakers.

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Joakim Noah foi eleito o melhor defesa da NBA em 2014, sendo duas vezes chamado ao All-Star Game (Win McNamee/Getty Images)

Nona escolha no draft de 2007, depois de duas vitórias seguidas no campeonato universitário, esteve nove anos nos Bulls sem os ambicionados títulos coletivos mas várias distinções no plano individual. Melhor defesa da NBA em 2014 – à frente de Kevin Garnett, a grande referência que tinha e que se transformaria numa espécie de “ódio de estimação” –, participou duas vezes no All-Star Game e entrou por uma ocasião no Cinco Ideal da temporada, também em 2014. Outra curiosidade: foi um dos únicos cinco jogadores a serem considerados MVP na Final Four universitária, a entrarem num Cinco Ideal da NBA e a ganharem o prémio de melhores defesas da Liga, a par de nomes de peso como Jerry West, Bill Walton, Hakeem Olajuwon e Anthony Davis. Em 2016, ano em que perdeu mais de metade da época com problemas físicos e em que foi operado ao ombro esquerdo, rumou a Nova Iorque. Ele e Derrick Rose, que seria também trocado para os Knicks.

Para os antigos campeões, o contrato de 72 milhões de dólares por quatro anos foi considerado por todos um risco; da parte dos responsáveis, era uma questão de aposta. Correu mal: condicionado por duas intervenções cirúrgicas e pelo castigo de 20 jogos por ter violado as regras anti-doping, ao acusar positivo numa substância que fazia parte de um complemento alimentar mas que na altura era proibido, falhou também o arranque da temporada 2017/18 e, sete jogos depois, foi colocado de parte devido a uma alteração com o treinador Jeff Hornacek. Noah estava infeliz, dificilmente conseguiria inverter a situação e não prescindiu de receber o resto do vínculo quando os Knicks avançaram para a rescisão. No final, tendo em conta que realizou apenas um total de 53 encontros e 244 pontos, cada um dos 1.055 minutos custou quase 60 mil euros à equipa…

Joakim foi apoiar o pai Yannick, selecionador francês de ténis, na final da Taça Davis com a Croácia (DENIS CHARLET/AFP/Getty Images)

Agora, Noah acaba de reforçar os Memphis Grizzlies de Mike Conley, Marc Gasol e Jaren Jackson Jr., que ocupam o sexto lugar da sempre disputada Conferência Oeste mas procuravam uma nova solução para o jogo interior. “Estou feliz por uma equipa acreditar em mim e por me terem dado uma oportunidade. Os últimos dois anos têm sido difíceis, não era claro que voltasse a jogar. Sinto-me abençoado por esta aposta que fizeram e espero ser uma boa influência para a equipa e para os meus companheiros”, comentou o extremo/poste de 33 anos (que foi vice-campeão europeu de seleções em 2011), conhecido também fora dos pavilhões pela postura rebelde e pela relação com a modelo brasileira Laís Ribeiro.