Em junho de 2015, a meio do tetracampeonato do Benfica, no verão em que Jorge Jesus mudou de lado da Segunda Circular, quando Julen Lopetegui ainda era o treinador do FC Porto, os dragões perderam a grande referência ofensiva. Jackson Martínez, o colombiano leve como uma pena que de tanta elegância dentro das quatro linhas mereceu a alcunha de cha cha cha, despedia-se do Dragão depois de 90 jogos, 67 golos, dois troféus e três temporadas. Saía pela porta grande: era o melhor marcador do estádio do FC Porto, um ídolo para os adeptos, um exemplo para os colegas e rumava ao Atl. Madrid de Simeone que no ano anterior tinha sido campeão espanhol e pretendia voltar a intrometer-se na hegemonia bicéfala de Real Madrid e Barcelona.

Passaram mais de três anos. Jorge Jesus está a treinar na Arábia Saudita e muito se fala sobre um regresso ao Benfica, Lopetegui foi selecionador espanhol e acabou despedido do Real Madrid e o Atl. Madrid não voltou a conquistar o Campeonato desde 2014. Jackson Martínez, visto na altura como uma das promessas do futebol europeu e um entre tantos jogadores que saltam do panorama português para a janela internacional, está a jogar no Portimonense. Depois de apenas oito meses em Madrid, 15 jogos e dois golos, entrou nos rankings de flops tradicionalmente escritos pela imprensa desportiva espanhola e nunca se adaptou aos colchoneros. Em fevereiro de 2016, transferiu-se para a Superliga Chinesa para representar o Guangzhou Evergrande a troco de 42 milhões de euros, um valor recorde para o mercado chinês (batido dois dias depois, quando Alex Teixeira custou cerca de 50 milhões ao Jiangsu Suning).

Em outubro, sofreu uma lesão no tornozelo que o incapacita até hoje. Na China, só jogou mesmo em 2016 (10 jogos, 4 golos) e terá sido por isso que aceitou o convite do Portimonense para regressar sob empréstimo a Portugal, um país que tão bem conhece, que tanto lhe deu e onde viveu o melhor momento da carreira. Esta sexta-feira, três anos depois de trocar o Porto por Madrid, Jackson voltou ao Dragão. Esteve em dúvida, foi dado como indisponível, Sérgio Conceição queria que jogasse e o colombiano acabou por ser titular. Subiu ao relvado e foi diretamente ao banco técnico do FC Porto, onde cumprimentou toda a gente, com especial atenção ao médico Nélson Puga. Jogou 74 minutos em visíveis dificuldades físicas, ia marcando um golo numa altura em que o resultado ainda estava empatado e foi ovacionado pelos adeptos azuis e brancos quando foi substituído – além das palmas, as bancadas do Dragão entoaram o cântico dedicado a Jackson.

Jackson Martínez regressou ao estádio onde sonhou chegar um dia aos lugares cimeiros do futebol internacional. Nunca lá chegou: não por falta de qualidade, não por falta de virtuosismo, não por falta de faro de golo, não por não ser um belíssimo jogador. Mas porque foi atormentado por lesões que, aos 32 anos, não lhe permitem sequer completar 90 minutos. Na saída, visivelmente emocionado, baixou a cabeça e colocou a mão no peito.

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Na flash interview, António Folha explicou que foi o próprio avançado que pediu para jogar e deixou elogios ao colombiano. “A partir do momento em que o Jackson diz, como grande homem que é, que está pronto, vai a jogo naturalmente. Deu o melhor, fez tudo para jogar. Acredito que gostasse muito de jogar nesta casa. Às vezes temos de esquecer um bocadinho o futebol e olharmos para o homem. O Jackson é um homem fantástico. Fui jogador e graças a Deus não passei por este calvário. A recompensa que o Jackson teve foi o carinho dos adeptos nesta casa, aplaudiram de forma fantástica”, afirmou o treinador do Portimonense, que também regressou esta sexta-feira a um sítio que bem conhece, já que foi jogador do FC Porto e treinou os juvenis, juniores e equipa B dos azuis e brancos.

Sérgio Conceição, como se quase tivesse ouvido Folha, sublinhou em tudo o que tinha dito o treinador da equipa algarvia e recordou a altura em que, ainda enquanto adepto, aplaudia Jackson Martínez. “Foi uma homenagem e ovação a uma grande profissional e uma grande pessoa. Passou por momentos difíceis nos últimos tempos. É um jogador que deve ser louvado não só pelo FC Porto, mas por todos os clubes. Ele foi aplaudido pela grandíssima qualidade que tem e pelo excelente homem que é”, defendeu o técnico dos dragões.

Jackson, tal como foi percetível ao longo dos 74 minutos em que esteve em campo, não estava nas melhores condições para jogar futebol. Mas por ser “um homem fantástico”, “um grande homem”, “uma grande pessoa” e “um grande profissional”, pediu para jogar. Porque jogar significava regressar ao sítio onde todos os sonhos ficaram.