Em fevereiro, Isco realizou o jogo 227 ao serviço do Real Madrid, contra o Alavés, e igualou a marca do então treinador Zinedine Zidane. Na altura, as comparações entre um e outro foram inevitáveis e até Carlo Ancelotti, treinador italiano que recebeu o avançado espanhol vindo do Málaga em 2013, lembrou que “em termos de qualidade e capacidade, são muito parecidos”. Isco foi um dos jogadores mais importantes da era Zidane no Santiago Bernabéu e um trunfo de que o treinador francês se fez valer em inúmeras ocasiões. Em 2017/18, o espanhol cumpriu 49 jogos com a camisola merengue, marcou nove golos e ganhou a Supertaça de Espanha, a Supertaça Europeia, o Mundial de Clubes e a Liga dos Campeões. No final da temporada, Zidane saiu. E a novela que se desenrolou a partir daí era tudo menos expectável.
Julen Lopetegui aceitou o convite do Real Madrid, foi dispensado da seleção espanhola e despedido por Florentino Pérez meses depois; Santiago Solari, até aí treinador dos bês dos merengues, foi o escolhido para orientar a equipa até à chegada de um novo técnico que, nessa altura, parecia ser Antonio Conte. O interino ganhou os primeiros quatro jogos (Melilla, Valladolid, Viktoria Plzen e Celta de Vigo), naquele que foi o melhor arranque de um treinador do Real Madrid em 116 anos, e a direção do clube espanhol decidiu oferecer a Solari o cargo de treinador principal efetivo. Dias depois, e após uma fase que só prometia otimismo, aconteceu o que ninguém esperava.
Numa deslocação aparentemente descontraída para o campeonato, o Real Madrid visitava o Eibar, atualmente no 14.º lugar do campeonato espanhol. Os merengues perderam por 3-0, falharam golos atrás de golos e Isco só entrou a meia hora do apito final, quando os números já eram demasiado elevados para tentar uma eventual remontada. Segundo a edição do jornal Marca do dia seguinte ao jogo, o avançado recusou cumprimentar Solari já no balneário, ignorando o treinador argentino – a explicação, segundo o desportivo, seria o descontentamento face à pouca utilização e aos sucessivos jogos enquanto suplente. Abria-se o dossier da novela Isco. Três dias depois da derrota com o Eibar, o Real Madrid viajava até Roma para o penúltimo jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões: embora já apurados, ganhar colocava os espanhóis numa posição confortável para conquistar o primeiro lugar do Grupo G. Solari, numa decisão que nunca justificou e à qual não deu azo nas conferências de imprensa, não incluiu Isco na convocatória. Sem explicação oficial de nenhuma das partes, restou aos jornais espanhóis especular que o avançado espanhol tinha sido castigado pela atitude no final do jogo com o Eibar.
Dias depois, era tempo de receber o sempre complicado Valencia. Isco regressou à convocatória e, ainda que só tenha entrado aos 81 minutos, a cumplicidade com Solari junto à linha lateral parecia significar que o pior estava ultrapassado. O Real venceu o Valência por 2-0, Carvajal foi o melhor em campo e Isco parecia de volta às opções. A primeira titularidade chegou logo no jogo seguinte, na goleada ao Melilla para a Taça, onde o espanhol bisou na partida e foi um dos elementos em destaque a par de Asensio. Depois de sair de novo do banco com o Huesca, Isco voltava a ser titular esta quarta-feira à noite, na receção ao CSKA para a Liga dos Campeões, num jogo que para quase nada contava.
De forma surpreendente, os russos foram para o intervalo a vencer no Santiago Bernabéu por 2-0. No início da segunda parte, Vinicius lançou-se numa boa jogada individual pelo corredor esquerdo e encontrou Isco à entrada da área; o espanhol dominou, tirou um defesa da frente, atirou à baliza mas a bola acabou desviada por um defesa do CSKA e saiu muito ao lado. Os adeptos merengues foram implacáveis e assobiaram de imediato o avançado, que olhou para bancada, gesticulou e repetiu: “O que é que querem? O que é que querem?”. Nos minutos seguintes, sempre que tocava na bola ou a perdia (perdeu a posse 22 vezes durante os 90 minutos), Isco era intensamente assobiado e apupado pela claque do Real. Mas o momento mais polémico estava ainda para chegar.
Aos 74 minutos, já depois do golo de Sigurosson que levou o resultado para 3-0, Marcelo era substituído por Carvajal. O brasileiro precisava de entregar a braçadeira de capitão e o jogador seguinte na hierarquia era Isco: quando o lateral se aproximou do avançado, o espanhol recusou a braçadeira e apontou para Carvajal, que acabou por ser capitão pela primeira vez. O episódio veio a público minutos depois do apito final e foi contado pelo próprio Marcelo na flash interview. “Tentei dar a braçadeira ao Isco e disse-me que tinha de dar ao Carvajal, não sei porquê”, contou o brasileiro. A confissão de Marcelo agudizou ainda mais as críticas dos adeptos e tornou mais problemática a situação de Isco, que nem por Solari foi defendido, já que o treinador argentino disse na conferência de imprensa que “os assobios custam a toda a gente” mas o Real Madrid não jogou bem e “isso tem de ser assumido”.
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A justificação para a recusa da braçadeira, ainda que de forma oficiosa, chegou durante a manhã desta quinta-feira. Segundo o jornal Marca, Isco tinha prometido a Carvajal que lhe cederia a braçadeira. A história, na verdade, começa com o jogo com o Melilla: Isco e Carvajal foram apresentados enquanto jogadores da equipa principal do Real Madrid no verão de 2013 e estão ambos no fundo da hierarquia da braçadeira de capitão. À frente dos dois espanhóis, estão Sergio Ramos, Marcelo, Benzema, Varane, Nacho e Modric. Logo a seguir surge Isco, à frente de Carvajal – pelo simples facto de ter sido apresentado dois dias antes. Ora, contra o Melilla, e face à ausência de todos os outros, Isco foi o capitão do Real Madrid e terá prometido ao compatriota que, no próximo jogo em que fosse esta a conjuntura, lhe cederia a braçadeira, face à quase inexistente diferença de antiguidade entre os dois. Terá sido por isso, então, que o avançado indicou a Marcelo que o capitão seria Carvajal.
O Real Madrid está na quarta posição da liga espanhola, a dois pontos do Atl. Madrid e do Sevilha e a cinco do líder Barcelona. Além disso, está nos oitavos de final da Liga dos Campeões. Mas o balneário merengue parece estar em ebulição: e para compreender isso basta recordar o que Cristiano Ronaldo disse no início da semana, quando revelou à Gazzetta dello Sport que o grupo da Juventus com quem está a trabalhar é “o melhor” por que passou e é “a família” que não existia em Madrid.