O pai era bombeiro do quadro de honra; a irmã é bombeira; o tio-avô é comandante do quadro de honra; e uma prima é bombeira do quadro de honra. Com tudo isto, Daniela só podia ser bombeira. E cedo: entrou na corporação de bombeiros de Baltar, em Paredes, aos 14 anos.

Uma pessoa exigente, dedicada e rigorosa consigo mesma. É assim que os amigos e colegas mais próximos recordam Daniela Silva, de 34 anos, uma das quatro vítimas mortais que seguia no helicóptero do INEM que se despenhou este sábado na Serra de Santa Justa.

Tornou-se bombeira em Baltar, de onde é natural, mas só pensava no socorro pré-hospitalar: “O sonho dela era trabalhar em emergência médica”, contou ao Observador um dos colegas do curso de enfermagem que Daniela frequentou entre 2002 e 2006. Em maio deste ano tornou-se enfermeira do INEM.

Nos bombeiros de Baltar, o luto é visível nas caras dos ex-colegas de Daniela. Emocionado, o comandante Delfim Cruz fala numa pessoa exigente, rigorosa, empenhada na sua formação e na progressão da sua vida académica. Foi em 2002, na Escola Superior de Enfermagem do Porto, que Daniela começou a dar os primeiros passos para chegar ao sonho do socorro pré-hospitalar do INEM. Um colega de curso da enfermeira confirmou ao Observador que Daniela sempre gostou da emergência médica e orientou o seu percurso académico para a área, que envolve uma formação específica.

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Na noite em que o helicóptero do INEM se despenhou, a enfermeira tinha ligado aos pais e à irmã antes de embarcar, juntamente com o médico Luís Vega, o piloto João Lima e o copiloto Luís Rosindo. A corporação de bombeiros local preparava-se para começar a tradicional ceia de Natal quando soube que um helicóptero do INEM estava desaparecido na Serra de Santa Justa, mesmo ao lado de Paredes, e que Daniela Silva vinha de um serviço aéreo do INEM do Porto para Macedo de Cavaleiros. “É claro, acabou o Natal para os bombeiros de Baltar… A irmã da Daniela estava cá no quartel”, lembra o comandante Delfim Cruz.

Depois de serem revelados os nomes das vítimas do acidente, surgiram várias homenagens à enfermeira. No heliporto de Macedo de Cavaleiros deu-se uma cerimónia espontânea. No Facebook, vários elementos do INEM colocaram nas suas molduras uma faixa negra em sinal de luto. É também nesta rede social que a notícia é partilhada e chegam várias frases de luto. “Os heróis também partem. Chegou a sua vez de fazer esta viagem. Sem palavras! Os meus sentimentos a família e INEM”, lê-se num dos comentários à notícia.

Daniela Silva fez parte do SIV de Amarante (foto partilhada no Facebook)

Daniela Silva, que também era formadora na Escola Nacional de Bombeiros, fez parte da ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIVA) em Moura, na região do Alentejo, tendo depois trabalhado durante cerca de 11 anos no Hospital de Amarante também no SIV. Há cerca de cinco anos, a enfermeira chegou ao INEM do Porto, onde fazia meio aéreo e SIV. O comandante Delfim Cruz resumiu o seu percurso numa frase: “A Daniela viveu para ajudar os outros e morreu a ajudar os outros”.