A saída de José Mourinho do Manchester United não foi propriamente uma surpresa tendo em conta os vários registos negativos que a equipa foi somando desde o início da temporada, bem como a relação conturbada que o técnico mantinha com alguns dos principais jogadores da equipa. Ainda assim, a confirmação oficial dos red devils não deixou de cair como uma “bomba” em Inglaterra, estando a ser comentada um pouco por todo o futebol europeu esta terça-feira. Em resumo, são poucos ou quase nenhuns aqueles que se mostram contra a decisão mas também há quem peça mais do que a saída do português. O The Guardian recupera uma frase do antigo campeão europeu de clubes sobre despedimentos perto do Natal, em 2004. Até porque já em 2015, na segunda passagem pelo Chelsea, saiu a 17 de dezembro.

“Quando tinha nove ou dez anos, o meu pai foi despedido no dia de Natal. Ele era então treinador do Rio Ave, os resultados não estavam a ser bons, perdeu um jogo a 22 ou 23 de dezembro e no dia de Natal o telefone tocou e foi despedido a meio do nosso almoço. Por isso, sei tudo sobre altos e baixos no futebol, sei que um dia também serei despedido”, contou. Ao início da tarde, à saída do The Lowry Hotel, o hotel onde viveu durante o período em que foi treinador do Manchester United, José Mourinho despediu-se de forma simples dos jornalistas, com um simples “bye, guys”, algo como adeus, rapazes.

Entre as primeiras reações, Brian McClair, antigo avançado do conjunto de Old Trafford entre 1987 e 1998 que esteve mais tarde quase dez anos à frente da Academia do clube, foi um exemplo de como a saída pode não ser “criticável” mas que há mais culpados para a atual situação do United. “Ele não devia ser o único a partir!”, escreveu na sua conta oficial do Twitter o ex-jogador que ganhou a Taça das Taças, a Supertaça Europeia e quatro Campeonatos entre 14 títulos pelos red devils.

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Também Gary Neville, antigo capitão que fez toda a carreira no Manchester United (1992-2011) e que fez parte da Class of ’92 que juntava nomes como David Beckham, Ryan Giggs, Paul Scholes, Nicky Butt ou o irmão Phil Neville, não teve problemas em avançar com o nome do sucessor preferido mas defendendo que o epílogo do percurso de Mourinho no clube esteve também ligado à falta de apoio que recebeu durante a última janela de mercado, no verão. “Tive a sorte de passar algum tempo no centro de treinos do Tottenham e sinto que Pochettino seria o candidato ideal. Na minha ótica, é preciso alguém que tenha três princípios chave: promoção de jovens, futebol atrativo e jogar para ganhar”, disse à Sky Sports.

Steven Gerrard, antigo capitão do Liverpool e atual treinador dos escoceses do Glasgow Rangers, defendeu que Mourinho foi “o melhor treinador do Manchester United desde a saída de Alex Ferguson” e lembrou os troféus que o técnico português conquistou em duas temporadas e meia. “O José chegou e colocou um par de títulos no museu, pelo que acho que não possa ser muito criticado. É um treinador de classe mundial e foi um rival quando jogava. É um vencedor em série e foi-o sempre, em todo o lado em que treinou”, reforçou o inglês.

Já Graeme Souness, antiga glória do Liverpool que passou mais tarde pelo Benfica como treinador, disse à Sky Sports que a decisão “não pode ser vista como uma surpresa” e deu um exemplo muito prático de um filme há muito anunciado. “Estava escrito há várias semanas. Não acho que Mourinho se possa queixar, com o dinheiro que gastou e com os jogadores que tem agora à disposição. Aquilo que vi em Bournemouth foi um homem que não queria estar ali”, salientou.

Entre os jogadores, Paul Pogba foi o primeiro a “reagir” sem comentar diretamente a decisão, colocando apenas uma fotografia com o comentário “Caption this!”. Também aqui, uma imagem (a pedir legenda) vale mais do que mil palavras em relação ao campeão mundial de seleções que tinha uma relação muito complicada com o treinador português e que estaria de saída de Old Trafford. Ainda assim, o internacional francês apagou o tweet minutos depois de o publicar. Gary Neville não demorou a responder também ao médio francês, que pode continuar com vida complicada nos red devils. Também Jamie Carragher, antigo internacional do Liverpool que é agora comentador, se juntou à festa para criticar a atitude do gaulês.

https://twitter.com/GNev2/status/1074983715544154113

https://twitter.com/Carra23/status/1074984621140529152

Gary Lineker, antiga glória da seleção inglesa que passou por Leicester, Everton, Barcelona e Tottenham, comentou a decisão como algo “inevitável”. “Com o Manchester United 19 pontos atrás do Liverpool, com a maioria dos jogadores a terem um rendimento abaixo do melhor… Mourinho teve a permissão para gastar centenas de milhões de euros naqueles jogadores e a separação parecia inevitável”, escreveu na sua conta oficial do Twitter.

Jaime Redknapp, outro ex-internacional que se destacou sobretudo durante mais de uma década no Liverpool (passou também pelo Tottenham mais tarde na carreira), foi mais longe e defendeu que o treinador português não tinha o perfil adequado para o Mnchester United. “Bem, por onde começar? Penso que se estás à procura de ir para um clube, fazer tudo errado e ser despedido, Mourinho fez isso. Não penso que fosse o treinador certo para o estilo de jogo que o United teve nos anos passados, de futebol ofensivo. Caiu perante a administração, caiu perante os seus jogadores, era algo inevitável. Tudo esta errado, os jogadores já não estavam a tentar por ele”, salientou em declarações à Sky Sports.

José Morais esteve com Mourinho no Inter, no Real Madrid e no Chelsea como adjunto (PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP/Getty Images)

José Morais, antigo adjunto de José Mourinho que treina atualmente na Coreia do Sul (Jeonbuk), defendeu aquilo que muitas vezes as pessoas não percebem. “Há coisas que a opinião pública acaba por não entender e depois há objetivos que se esperam ver cumpridos por causa da dimensão do clube. Isso gera um clima negativo. É uma surpresa, é um treinador de um nível elevado, não se espera que seja despedido assim. O Manchester United não é o tipo de clube que despede assim um treinador, por isso, talvez tenha sido vontade dele. Mourinho tem a vontade de vencer que lhe conhecemos e não é o tipo de pessoa que goste de ficar parado. Vejo-o a entrar, em breve, num outro clube que seja capacitado e organizado”, disse à SportTV.

Patrice Evra, antigo lateral do clube que desde que colocou um ponto final na carreira está sempre muito ativo nas redes sociais (com alguns vídeos que se tornam virais, nem sempre pelas melhores razões), apelou à paz em vez de se colocar o enfoque na “guerra” entre Pogba e Mourinho. “A coisa que mais me aborrece nesta altura é a forma como as pessoas estão tão focadas em Paul Pogba e José Mourinho. Vamos focar-nos antes na reconstrução de algo sólido em vez de estarmos num parque de crianças. Fazer isso é apenas desrespeitar o emblema, agora temos é de ser positivos”, escreveu.

“Fiquei chocado por ver tantos jogadores a esconderem-se da bola. O timing é interessante. Na segunda-feira, a direção parecia indicar que não tinha planos para agir no imediato mas acho que devem ter olhado para a série de jogos que aí vêm e sentiram que não tinham opção. À exceção do jogo com o Tottenham, têm obrigação de ganhar os próximos dez jogos”, comentou Robbie Fowler, antigo avançado internacional inglês que passou grande parte da carreira no Liverpool.

Já o antigo responsável pela Academia dos red devils, Danny Higginbotham, comenta a notícia de uma forma mais ampla, olhando para uma perspetiva estrutural e secundarizando a parte conjuntural. “Desde que Sir Alex Ferguson se reformou que o United perdeu a sua identidade”, disse, falando não só de Mourinho mas também de David Moyes e Van Gaal.

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